A Rumo aposta nos investimentos em tecnologia para aumentar ainda mais a capacidade da Malha Paulista, importante trecho de escoamento da produção do País para o porto de Santos. O projeto, com a renovação antecipada assinada pelo governo esta semana e publicada ontem no Diário Oficial da União (DOU), é sair dos 35 milhões de toneladas de capacidade para 75 milhões por ano. Com ajustes tecnológicos, o presidente da Rumo, João Alberto Fernandez de Abreu, disse que o trecho conseguiria chegar, com tranquilidade, em 100 milhões de toneladas transportadas.
"Essa conta de volume não é só ligada aos investimentos", afirmou. "Está muito relacionada também ao nível de eficiência." Segundo ele, nos próximos 10 anos, a eficiência da ferrovia vai ser maior, sobretudo por melhorias tecnológicas. Hoje, a empresa opera no trecho entre Mato Grosso e São Paulo com 200 locomotivas. Desse total, 120 usam um sistema que otimiza a pilotagem e circulam praticamente de forma autônoma e aprendem a cada viagem.
Empresa espera transportar o dobro de volume com mesma capacidade
"Esse processo vai fazer com que diminua o que a gente chama de círculo. Hoje, demora em média oito dias para sair de Rondonópolis, descer até Santos, descarregar, voltar para Rondonópolis e carregar de novo. Se fizer isso em quatro dias, você vai ter o dobro de volume, mas com a mesma capacidade", disse.
Com ganhos como esse, seria totalmente factível às operações na Malha Paulista chegarem a 100 milhões de toneladas por ano, afirmou. O número é citado com frequência pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, em relação às vantagens da renovação antecipada da ferrovia.
Outro ponto observado pelo mercado é operação na Malha Norte, trecho de escoamento da safra do Mato Grosso, principal produtor de grãos do País. Segundo Abreu, hoje a linha desce com 15 milhões de toneladas por ano, embora ela suporte tranquilamente 30 milhões. A capacidade dessa linha, entretanto, seria muito maior. "Em algum momento vou ter mais capacidade de via do que o mercado precisa. O que vai regular é a capacidade material rodante. Se o porto for mais eficiente, ao invés de eu passar um trem a cada meia hora, eu passo a cada 20 minutos", disse.
A empresa quer aumentar ainda a representatividade dessa linha ao ampliar a capacidade do terminal de Rondonópolis. Hoje, a movimentação média do terminal é de 19 milhões de toneladas por ano. Com as obras de ampliação, a estrutura terá capacidade para 25 milhões de toneladas de milho, soja e farelo, com a adição de uma terceira linha. A empresa acrescentou ao Estadão/Broadcast que o início das operações com a nova estrutura será no dia 15 de junho.
Prioridades se estendem também ao Norte
Outro projeto que engloba a Malha Norte é a ampliação do trecho de Rondonópolis para até Lucas do Rio Verde. "Já estamos com licenciamento ambiental. Nossa prioridade hoje é colocar de pé esse projeto, que é nosso grande objetivo, de chegar ao norte do Mato Grosso", disse.
Hoje, o gargalo do setor é a Malha Paulista, que atende demanda forte não apenas do escoamento da produção do Mato Grosso, mas também de Goiás, além de outros produtos para além de grãos até o porto de Santos. "A Malha Paulista foi concebida um século atrás, mas vai deixar de ser gargalo nesse sistema. Ela vai ter muito mais capacidade do que o mercado demanda hoje, está pensada para o que o Brasil vai produzir daqui anos", afirmou.
Conforme antecipou o Estadão/Broadcast, o agronegócio aguarda forte aumento de movimentação de grãos, principalmente vindo de Mato Grosso, por ferrovia com as obras previstas para a Malha Paulista.
A empresa está avançando nos investimentos da Malha Paulista. Segundo ele, já em 2021 será entregue mais capacidade na esteira dos novos aportes. Em abril a empresa cresceu seus volumes em 17% na comparação anual. Na Malha Norte, o crescimento foi de 23%. A tendência para maio, segundo ele, nãos será diferente. "Posso dizer que maio vai ser melhor que abril em termos de volume. Nosso objetivo é sempre crescer próximo a dois dígitos todo ano", disse.
Investimentos serão concentrados no primeiro semestre
Segundo Guilherme Penin, diretor regulatório institucional da Rumo, dos R$ 6 bilhões de investimentos que a empresa comprometeu a fazer na Malha Paulista a partir da renovação da concessão, há uma concentração de recursos no início do contrato, justamente para turbinar a capacidade da ferrovia. "Os essenciais para promover o aumento de capacidade de 35 para 75 milhões de toneladas por ano", disse.
De acordo com ele, esses investimentos se referem a duplicação integral da ferrovia entre Campinas e Itirapina, a extensão dos pátios ferroviários para acomodar um trem de 120 vagões, a construção de pátios novos e a modernização da via para suportar 32,5 toneladas por eixo. "Tudo concentrado nos 6 primeiros anos, para gerar esse aumento expressivamente de capacidade", disse.
Reportagem publicada no Broadcast no dia 28/05/2020, às 20h07
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