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Bastidores do mundo dos negócios

Setor de coworking sente baque da crise e fecha unidades

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Por Circe Bonatelli (Broadcast)
Atualização:
Mercado de escritórios compartilhados interrompe tendência de crescimento. Crédito da Foto: André Dusek / Estadão

São Paulo, 31/06/2020 - Setor do mercado imobiliário que mais cresceu nos últimos anos, os escritórios compartilhados sofreram um baque com a pandemia do novo coronavírus, quando passaram a vigorar o isolamento social, o trabalho em casa e a crise econômica.

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Esses fatores são exatamente o oposto do que propõe essa categoria de imóveis - também chamada de coworking - destinada a profissionais liberais e empresas com poucos funcionários que não querem gastar muito dinheiro com uma sede própria e buscam um espaço flexível, já equipado, com prazo de locação mais curto, e pronto para reunir as pessoas.

Os dados mais recentes do Censo Coworking mostram que o número de escritórios compartilhados no Brasil cresceu de 238 unidades em 2015 para 1.497 em 2019, um salto de 523%. Para este ano, o setor esperava continuar crescendo, mas a quarentena provocou uma revisão das expectativas.

Algumas unidades já foram fechadas e outras estão revendo seu modelo de operação para incorporar novos conceitos de segurança e saúde herdados desta pandemia.

A WeWork está revisando seu portfólio e renegociando contratos de ocupação com os donos dos prédios em vários países onde está presente. A companhia é uma das líderes globais neste mercado, com 828 unidades ao redor do mundo, sendo 28 no Brasil. Por aqui, o grupo já decidiu fechar três escritórios.

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Dois ficam nos bairros de Botafogo e Ipanema (Rio de Janeiro) e serão encerrados em alguns meses. Outro é um escritório que seria aberto em Alphaville (Grande São Paulo), mas o plano foi abortado em meio à crise. Neste caso, a WeWork antecipou a rescisão do seu contrato de locação de dois andares no edifício Evolution Corporate, conforme a Coluna do Broadcast apurou com fontes de mercado.

A Wework confirmou o fechamento dessas unidades, mas negou que seja reflexo da pandemia. "A companhia está constantemente avaliando suas operações e ativos em nível global de forma a prestar o melhor nível de serviço aos seus membros e otimizar o seu portfólio", afirma Lucas Mendes, diretor geral da WeWork no Brasil.

Obstáculos para a retomada do coworking

Neste momento, o maior obstáculo para o mercado de coworking em qualquer capital do planeta está em fazer com que os clientes se sintam seguros para voltar a ocupar os imóveis por conta dos efeitos da pandemia. Essa dificuldade é vista em qualquer categoria de imóvel comercial, mas o setor tem suas peculiaridades.

"O coworking vai ser atingido pelo covid-19 porque se trata de um espaço para compartilhamento, o que vai na contramão das orientações, que são de isolamento. O coworking é um espaço adensado, com muitas estações de trabalho, salas de reunião e café", observa a Diretora de Representação de Ocupantes da consultoria imobiliária JLL, Monica Lee.

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Por consequência, é provável que este segmento feche mais unidades e deixe espaços vagos nos edifícios corporativos que ocupa nas capitais. Em São Paulo, por exemplo, as empresas de coworking ocupam 10% da área disponível dos prédios de classe A espalhados por eixos como Faria Lima, Vila Olímpia e Avenida Paulista, de acordo com a JLL.

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Para contornar esse obstáculo, a WeWork decidiu fazer algumas mudanças no design e na rotina dos seus espaços compartilhados. A companhia reforçou a limpeza e passou a escalonar espaços nos escritórios para dar mais segurança aos usuários. A princípio, a mudança tem dado certo, diz Mendes. "A maioria das unidades da WeWork na China começou a reabrir no final de fevereiro e março. Nossa unidade em Wuhan (epicentro da covid-19), por exemplo, está agora de volta ao normal em termos de acessos diários. Essa experiência tem sido semelhante no Sudeste Asiático e na Coreia do Sul", relata.

Consolidação e transformação do mercado de coworking

Enquanto os grandes nomes do setor se reorganizam, as maiores vítimas da crise devem ser as empresas pequenas, donas de algumas poucas unidades, montadas em imóveis improvisados e localizadas em bairros ou cidades sem tanta atividade de escritórios. Essas operadoras atendem clientes que foram justamente os mais abalados pela crise econômica, como microempresários, autônomos e informais.

"Tenho visto muitos coworkings quebrarem. Esses casos são de estabelecimentos inadequados, em casarões antigos, que atendem um tipo de público mais vulnerável", observa Tiago Alves, presidente local da IWG, multinacional dona das marcas Regus e Space. O grupo tem 70 unidades em operação no Brasil e outras cinco em construção. Cerca de 75% dos seus clientes no País são de empresas de portes médio e grande. Entre elas estão multinacionais e startups que, apesar de reunirem poucos funcionários por aqui, têm fôlego financeiro suficiente para enfrentar esse período mais difícil.

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Mas a diminuição no número de competidores não significa que a demanda pelo coworking vai despencar. Pelo contrário, diz o presidente local da IWG. "O futuro são os coworkings. Não pelo apelo network, nem porque são descolados. Mas sim porque cada vez mais as empresas vão buscar espaços flexíveis e com custos menores", estima Alves.

Na sua avaliação, o mercado nacional caminhará para uma consolidação, em que as empresas pequenas e bem estruturadas serão compradas pelas grandes. Já as donas de imóveis pouco funcionais podem acabar quebrando na esteira da crise.

Por sua vez, o vice-presidente de Intermediações Imobiliárias do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Claudio Hermolin, acredita numa transformação do mercado. "Os espaços de coworking que só oferecem uma baia e um lugar para ligar o notebook vão desaparecer. Aqueles que oferecem mais tipos de experiências, aí sim vão sobreviver", projeta.

Hermolin estima que as empresas farão esforços para criar ambientes mais colaborativos, reunindo profissionais de áreas semelhantes, com sinergia no contato, além de oferecer opções de cursos, palestras e capacitação. "O modelo de coworking certamente não vai acabar, mas vai precisar se reinventar para agregar novos serviços", diz.

Contato: circe.bonatelli@estadao.com

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