PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Bastidores do mundo dos negócios

Spic traça caminho para estar entre as maiores em geração de energia em 2025

Por Luciana Collet (Broadcast)
Atualização:
Adriana Waltrick: novos projetos de geração e aquisições    Foto: Silvia Zamboni

A CEO da Spic Brasil, Adriana Waltrick, comanda uma das maiores geradoras de energia privadas do País, e tem como meta expandir ainda mais a capacidade instalada, hoje em 3 gigawatts (GW) de potência, de maneira a posicionar a empresa de origem chinesa na terceira colocação entre as principais do mercado nacional até 2025.

PUBLICIDADE

Ao programa Olhar de Líder, programa de entrevistas do Broadcast com executivos das principais empresas do Brasil, Waltrick detalhou os planos de crescimento da Spic Brasil para cumprir esse compromisso, o que envolve a implantação de novos projetos de geração eólica e solar, bem como aquisições de projetos operacionais ou em construção.

"Continuamos olhando projetos hidrelétricos, mais solares e eólicos, que estejam operando ou mesmo em pré-construção. Esse é um interesse constante do nosso grupo, até porque somos atualmente o sexto gerador privado nacional e queremos chegar a 2025 sendo um dos três primeiros", disse.

Entre as prioridades da companhia também está o desenvolvimento de novas tecnologias, como hidrogênio verde e baterias, que, segundo Waltrick, seriam as próximas inovações a serem absorvidas pelo mercado, além das eólicas offshore, também prioridade do grupo.

Adicionalmente, a Spic Brasil, que faturou  R$ 2,06 bilhões em 2021, trabalha para fomentar discussões regulatórias a respeito da repotenciação de hidrelétricas. O objetivo seria criar uma regulação que permita a instalação de mais turbinas em usinas existentes, quando houver a possibilidade, como é o caso da usina São Simão, operada pela companhia.

Publicidade

A seguir, um resumo da entrevista, que pode ser acompanhada na íntegra em vídeo no Broadcast TV.

Broadcast - A sra. atua em uma posição de liderança em uma companhia de origem chinesa e em um setor ainda majoritariamente masculino. Como avalia os desafios enfrentados nessa posição?

Adriana Waltrick - Nem me dei conta de que eu era uma das poucas executivas num setor tão masculino. Quando a gente foca em um trabalho e quer entregá-lo com competência, as questões de gênero ficam secundárias, especialmente na minha época em que era muito difícil abrir portas. Fui abrindo portas sem perceber. Espero ser inspiração para outras mulheres, que vejam não haver limites para competência, disciplina, foco, crescimento. E que a gente possa deixar essas portas abertas para todos que queiram crescer e evoluir no setor e na carreira.

Trabalhar para uma empresa chinesa, que tem também questões culturais muito diferentes das brasileiras, me coloca como uma tradutora de realidades, trazer o melhor da Ásia e do Oriente e combinar isso com o melhor que tem no Brasil.

Temos lá um grupo das cinco maiores de energia do mundo, com 135 mil colaboradores e 195 GW de potência, o que significa dizer que é do tamanho do sistema elétrico do Brasil. Além do poderio financeiro, a China tem capacidade de inovação e de implementação de novas tecnologias. Eles construíram um setor energético muito inovador, em muito pouco tempo. Então a gente busca fazer a ponte dessa inovação e dessa solidez financeira, sendo o Brasil um dos locais de crescimento desse grupo, pela abundância de recursos naturais, uma equipe muito capacitada para questões regulatórias e setoriais e que consegue fazer a gestão de tipos diferentes de projetos. Aliás, o Brasil foi o país que mais cresceu nesse grupo no ano passado, um ano difícil para todos.

Publicidade

Broadcast - Qual tem sido a estratégia para o Brasil?

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Waltrick - A empresa tem quatro pilares de crescimento. Um é o das hidrelétricas, e exemplo disso é a de São Simão, que está operando. Outro são as energias renováveis, solar e eólica, ou a combinação das duas, os projetos híbridos. O terceiro são as térmicas a gás, importante para um setor que está se diversificando com energias intermitentes. E o quarto pilar são as inovações tecnológicas, por exemplo o hidrogênio, a smart energy. No caso da inovação, já estamos implementando um projeto-piloto de hidrogênio e nos associamos com Cepel e Eletrobras para implementar smart energy, que é um pacote de melhoria da inteligência no uso da energia em complexos comerciais e residenciais.

Broadcast - Em hidrelétricas, vocês estão desenvolvendo um projeto de modernização da São Simão. Como ele pode ajudar em iniciativas de repotencialização de usinas?Waltrick - A hidrelétrica São Simão é uma usina de grande porte, de 1,7 GW [gigawatts], construída em 1978, que está sendo modernizada. Isso significa digitalizar toda hidrelétrica, hoje analógica e eletromecânica. O projeto vai levar 9 anos e está sendo implementado, junto a um consórcio da GE e da Powerchina. Estamos investindo R$ 1 bilhão e vamos ter uma energia muito confiável, com parâmetros de qualidade mais precisos.

À medida em que digitalizamos essa hidrelétrica, podemos trabalhar uma potência maior e imaginar sua expansão, desde que a regulação permita. Temos já a construção civil e podemos colocar mais máquinas. Temos trabalhado para demonstrar que seria um ganho para País.  A modernização da São Simão nos leva para hipóteses adicionais, de expansão do próprio parque e da usina, podendo participar do leilão de potência.

Broadcast - O crescimento do pilar de hidrelétrico seria por meio da expansão dessa usina ou de novos ativos?

Publicidade

Waltrick - Olhamos hidrelétricas tanto operando, se alguém quiser trocar de posição e monetizar, como a possibilidade de novas hidrelétricas, caso o País eleja esse caminho para expansão hidrelétrica. Aguardamos os próximos planejamentos da EPE [Empresa de Pesquisa Energética]. Se houver expansão greenfield (nova), avaliaremos.

Broadcast - A expansão da matriz elétrica tem sido baseada nas fontes eólica e solar, e a Spic também tem olhado ativos híbridos. O que a companhia pode fazer no curto prazo?

Waltrick - Estamos trabalhando em projetos híbridos solar, no reservatório da hidrelétrica, coisa que se vê muito na China. Outro projeto é híbrido de solar e eólico. Em alguns projetos eólicos que temos no Nordeste, estamos trabalhando na hibridização, ou seja, adicionar placas solares em torno das torres eólicas. Em geral nos nossos parques produzimos muito mais à noite, pelo vento, e durante o dia, quando o vento é menor, poderíamos gerar a energia solar. Isso até otimizaria o escoamento e a transmissão.  Temos trabalhado também o hidrogênio e as baterias, olhando esta década como da transição energética, não só para Brasil como para o mundo, uma década de virada de chave no sentido energético.

Broadcast - Existem bons ativos no mercado que a Spic Brasil poderia adquirir? Quais fontes ou status de desenvolvimento mais interessam?

Waltrick - Sim. A gente recentemente adquiriu 70% dos ativos da Canadian Solar, são 738 MW já em construção no Piauí e Ceará. Continuamos olhando outras possibilidades de transações no setor elétrico. Esse é um setor que está em consolidação, com empresas agregando escala, portanto de sinergias nos portfólios. Em nosso caso, também é uma busca constante de ativos que tenham sinergia e estejam em regiões nas quais já temos operações.

Publicidade

A partir deste mês, também estamos implementando ativos eólicos do nosso próprio pipeline. Serão aproximadamente 300 MW de parques eólicos na Paraíba e Rio Grande do Norte.

Continuamos olhando projetos hidrelétricos, mais solares e eólicos, que estejam operando ou mesmo em pré construção. Esse é um interesse constante do nosso grupo, até porque somos atualmente o 6º. gerador privado nacional e queremos chegar a 2025 sendo um dos três primeiros

Broadcast - O gás é considerado um combustível de transição energética. Como seria um fortalecimento da Spic nessa área, na qual a empresa atua por meio da GNA?

Waltrick - Entramos em GNA I e II. GNA é aproximadamente 1,3 GW de capacidade instalada, GNA II já iniciou construção, é aproximadamente 1,7 GW, então só aí a gente mais que duplica o tamanho da térmica a gás. Ainda existe nesse mesmo complexo GNA III e GNA IV, que são mais 3 GW de capacidade. Vamos acompanhar os leilões de energia térmica e trabalhar a expansão à medida que a autoridade de planejamento energético considerar adequado para o País.

Broadcast - No pilar de inovação, dentre as tecnologias estudadas pela companhia, o que pode vir a mercado mais rapidamente?

Publicidade

Waltrick - No campo do hidrogênio, a gente vê grande possibilidade de competitividade do País na produção da amônia verde. Podemos trabalhar a eletrólise para a produção do hidrogênio a partir de fontes renováveis e competitivas para produção de amônia, com potencial de exportação para Europa ou mesmo a produção de fertilizantes locais. Por outro lado, a gente vê a possibilidade de introduzir as baterias de alta capacidade para otimizar nossos sistemas de geração: produzir energia excedente em momentos nos quais o sistema não precisa e escoar essa energia quando houver menor produção.

Claro que existem ainda as eólicas offshores, nas quais a Spic é uma das maiores implementadoras mundiais. Estamos trazendo e avaliando essa tecnologia. Provavelmente até o fim dessa década será uma nova fronteira setorial que devemos avançar.

Broadcast - Já seria o momento de um projeto de baterias entrar no setor?

Waltrick - É importante que tenhamos leilões que não façam distinção de fontes, que ganhe o megawatt-hora mais barato e mais sustentável. Venceria o que tivesse a bateria ou a geração mais eficiente. Opinamos nas Consultas Públicas sobre o nosso apoio e indicação de que esse é o caminho para desenvolvimento mais rápido das soluções energéticas, na medida em que não condicione o próximo megawatt-hora, desde que sustentável e competitivo.

Broadcast - Recentemente o governo publicou uma portaria que abre o mercado livre de energia para todos os consumidores em alta tensão e já se fala em próximos passos. Como avalia esse movimento?

Publicidade

Waltrick - Trabalhamos na consulta pública favorecendo a liberação da alta tensão a partir de 2024, como ocorreu. Achamos que é muito bom que a alta tensão possa competir e buscar o megawatt-hora mais barato e competitivo para diferentes produtos. Sobre o ponto de vista de liberar o mercado como um todo, estamos trabalhando também nas consultas publicas. Entendemos que deve, sim, haver liberação, mas que seja responsável e gradual, porque há uma série de compromissos e subsídios da rede de distribuição que precisam ser resolvidos. Entendemos que o papel da distribuidora é o "fio" e não a energia, mas que a liberalização até a ultima milha da baixa tensão precisa ser muito bem estudada.

Broadcast - Ainda na frente de regulação, que temas, na visão da companhia, são primordiais em relação a avanços regulatórios?

Waltrick - Temos trabalhado na liberalização do mercado, fomentado as discussões sobre repotenciação, dado que o País necessita de leilões de potência e o sistema precisa da estabilidade da carga, e também a expansão das hidrelétricas que podem ser otimizadas em capacidade, uma vez que já têm transmissão, água, reservatórios. Esse é o caso de várias hidrelétricas de grande porte e a gente acredita que essa é uma força que o País poderia acionar.

 

Esta entrevista foi publicada no Broadcast Energia no dia  06/10/2022, às 08h00

O Broadcast+ é uma plataforma líder no mercado financeiro com notícias e cotações em tempo real, além de análises e outras funcionalidades para auxiliar na tomada de decisão.

Publicidade

Para saber mais sobre o Broadcast+ e solicitar uma demonstração, acesse 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.