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Bastidores do mundo dos negócios

Vamos crescer com aquisições e vagas do Mais Médicos, diz CEO da Afya

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Por Luisa Laval
Atualização:
Gibbon: ideia é se estabelecer em lugares onde não há faculdades de Medicina  Foto: Afya/Divulgação

Principal grupo privado de faculdades de medicina no País, a Afya aposta na expansão em cidades do interior para fortalecer sua rede de serviços para estudantes e médicos. Hoje, segundo a empresa,  cerca de 30% dos mais de 240 mil médicos do País utilizam de forma recorrente suas soluções, como sistemas de agendamentos de consultas.

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Um ponto relevante nessa estratégia foi a autorização de cursos do Programa Mais Médicos, que tem como objetivo levar mais profissionais para regiões onde há escassez ou ausência de mão de obra qualificada. Nesse modelo, a empresa ganha o direito de operar vagas do curso de Medicina para formar novos profissionais, por meio da construção de infraestrutura numa região pré-definida.

Neste ano, o grupo já adicionou 200 novas vagas ao total do portfólio vindas do programa. Os cursos serão em cidades como Itacoatiara (AM) e Bragança (PA). A Afya foi o grupo de educação médica com mais aprovações no último edital do Mais Médicos, em 2018, conquistando o direito de operar faculdades de Medicina em sete municípios (25% das cidades oferecidas à época).

Listada na Nasdaq desde 2019, a partir da incorporação de outras marcas do segmento de educação médica, a Afya é a principal companhia em graduação em Medicina, com atualmente 2.731 vagas autorizadas pelo Ministério da Educação (MEC). O grupo tem  26 instituições de ensino superior com oferta do curso de Medicina, em 13 Estados, além de unidades de pós-graduação na área médica e de saúde em 11 capitais.

Segundo o CEO da companhia, Virgilio Gibbon, a ideia é se estabelecer em lugares onde não há  faculdades de Medicina, ao mesmo tempo em que a empresa fortalece seu ecossistema de serviços.

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"Oferecemos soluções para toda a jornada do médico, desde o agendamento de consultas até ferramentas que ajudam na tomada de decisão clínica. Com essas parcerias (Mais Médicos), levamos todas essas soluções para ajudar no tratamento dentro do SUS em municípios do interior", afirma.

No início do mês, a companhia anunciou que o conglomerado de mídia alemão Bertelsmann assumirá o controle da companhia. Após a conclusão da operação, prevista para abril, a Bertelsmann e a família Esteves terão 57,5% e 33,1% de participação.

A companhia é considerada uma das preferidas entre as empresas de educação, por focar justamente na "joia do setor": os cursos de Medicina. Além de terem tíquete mais alto, são uma das áreas com menor evasão de alunos e com forte relação candidato/vaga em qualquer região do País.

No mercado, as vagas para área médica são vistas com outro peso. "Atualmente, como estamos precificando: tudo o que é ex-medicina (outros cursos) está valendo próximo de zero, mesmo nos grupos grandes. O que acaba tendo valor é a escola de Medicina, em que se capta 100% das vagas abertas e a evasão é muito baixa, de menos de 10% , o que dá uma previsibilidade de receita muito grande", afirma Daniel Damiani, sócio da JK Capital.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista com Virgilio Gibbon:

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Broadcast: O que o Programa Mais Médicos representa para a Afya?

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Gibbon: A beleza do programa é que ganhamos em cidades em que a carência de serviço médico é muito grande: são geralmente cidades com menos de 100 mil habitantes, onde há densidade de médico por habitante de menos de 1 para cada 10 mil habitantes. Além disso, a parceria público-privada é muito bacana, porque levamos contingentes de médicos não só para formar os alunos, mas investimos também na infraestrutura para a população e para um ambiente melhor de aprendizagem entre os alunos.

Hoje temos cerca de 240 mil médicos usando de forma recorrente os nossos serviços que os suportam no dia a dia, desde o agendamento de consultas até a gestão financeira da interface do médico com seguradoras. Embutimos toda essa ferramenta digital no processo de aprendizagem, então imagine quando temos a parceria de uma clínica ou posto de saúde da prefeitura: levamos todas essas soluções para ajudar no tratamento dentro do SUS em municípios do interior. É de encher os olhos.

Broadcast: Como a empresa pretende expandir organicamente as vagas de Medicina?

Gibbon: Temos o direito de solicitar até 100 vagas adicionais para cada unidade nova do Mais Médicos. Lógico que depende da qualidade dessa infraestrutura médico-hospitalar da região, além de uma qualidade verificada da operação que começamos. Em termos de expansão, o crescimento de novas vagas que pretendemos até 2026 e 2027 está dividido em cerca de metade de novas aquisições e metade da liberação dessas possibilidades de aumento das vagas nos campi existentes. Isso é super importante para nós.

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Broadcast: A Afya pretende participar de novas rodadas do Mais Médicos?

Gibbon: É esperada uma nova onda de capacidade, com novas concessões ao final de 2022 ou 2023. Em 2018, ainda no governo de Michel Temer, foram abertas 28 novas escolas. Vamos verificar a maturação, a formação, averiguar a oferta e espaços com carência de serviços médicos, para fazer um novo edital. É esperado um Mais Médicos III ao final de 2022 ou no início de 2023.

Broadcast: A empresa realizou nove aquisições desde o IPO: esse ritmo continuará?

Gibbon: Continuamos com a estratégia de expansão, com foco muito grande em expansão orgânica, como essa possibilidade de aumento de vagas do Mais Médicos. O foco está na execução do início da operação desses greenfields.

Ao mesmo tempo, estamos abertos para novas oportunidades. O pipeline de aquisições continua bastante forte: miramos em torno de 300 vagas de expansão por meio de aquisições todo ano.

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Broadcast: Além de faculdades, que tipo de ativo a empresa está procurando para uma possível compra?

Gibbon: Começamos a nos aproximar agora da indústria. Por exemplo, você imagina a indústria farmacêutica que quer fazer uma pesquisa para testar um novo protocolo de tratamento, um novo remédio para câncer de pele, entre outros: ela precisa se aproximar de grandes contingentes de médicos, então possibilitamos essa aproximação.

Hoje, somos o único player no Brasil que tem esse contingente grande de médicos de uma forma totalmente agnóstica, então posso abrir as portas do ecossistema para uma grande indústria farmacêutica que quer fazer pesquisa, anúncios, testes de novas drogas, que quer entregar amostras grátis, então passamos a ter um relacionamento B2B recorrente de longo prazo também com a indústria. Essa é uma grande fonte de crescimento e de geração de valor.

Broadcast: Com a Bertelsmann assumindo o controle da companhia, há alguma mudança na estratégia de crescimento?

Gibbon: A Bertelsmann já estava dentro do projeto desde o início (2016). Ela era a maior cotista do fundo de private equity que estava investindo na Afya. Eles tinham mais de 40% do fundo e tinham o direito de preferência de comprar ações da companhia caso o private equity saísse, e assim fizeram: quando o fundo saiu, a Bertelsmann assumiu o co-controle com a família.

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Do ponto de vista de estratégia, nada muda. É muito mais um investidor que tem como propósito o investimento em educação, saúde e tecnologia no longo prazo. É uma empresa com mais de 100 anos de existência na Europa, um supergrupo de mídia e cujo maior investimento em educação na América é, em disparado, a Afya. São pessoas de altíssima qualidade, que já estão acostumadas com a educação no Brasil. Então, a palavra aqui é continuidade de nossa estratégia.

Broadcast: E em relação à redução da participação da família Esteves?

Gibbon: A família Esteves vendeu um terço da participação, mas continua como o segundo maior acionista da companhia, com posição efetiva no conselho de administração. O fundador, doutor Nicolau (Esteves), permanece como co-presidente do conselho, ou seja, uma posição ainda super ativa.

Broadcast: O cenário de alta da inflação no País preocupa a companhia?

Gibbon: Nós passamos a inflação para nossos preços. Tivemos 10% (alta do IPCA) no ano passado, com 5% ou 6% deste ano, e ficamos com 7,5%, repassando a inflação média para toda a nossa base de alunos. Então, de uma forma bem transparente, temos uma certa proteção a esse risco inflacionário dentro do nosso setor. Vejo a Afya como uma empresa bastante protegida dessa crise: brincamos com investidores que somos uma empresa de low beta (baixo risco), que sempre tem demanda forte, seja em períodos de crise ou não.

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Esta entrevista foi publicada no Broadcast no dia 28/03/22, às 16h47.

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