PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Bastidores do mundo dos negócios

Via busca saída para dívida de R$ 850 milhões com recebível imobiliário

Foto do author Talita Nascimento
Foto do author Cynthia Decloedt
Por Talita Nascimento e Cynthia Decloedt (Broadcast)
Atualização:
Via, dona da Casas Bahia,  tem ampliado prazo com fornecedores  Foto: Alex Silva/Estadão

Mesmo após os esforços já realizados para alongar o passivo e otimizar sua estrutura financeira, a Via continua sendo alvo de mal humor do mercado, o qual já provocou queda de 18% em suas ações este ano e de mais de 60% em 12 meses. Além de fazer parte de um setor afetado pela queda do poder de compra da população, a empresa carrega em seu preço a falta de confiança em relação aos desembolsos de curto prazo que tem de fazer para provisionar disputas na Justiça, as quais somam hoje R$ 2,5 bilhões.

PUBLICIDADE

Um terceiro desafio está relacionado ao vencimento no segundo trimestre de R$ 850 milhões em debêntures que vencem em junho. Na verdade, não é o valor em si que causa preocupação, mas se a empresa conseguirá trocar essa dívida a um custo semelhante ao da atual debênture. A Via trabalha junto a bancos para renovar essa dívida por meio de Certificado de Recebível Imobiliário (CRI), lastreados em imóveis, somada a uma linha bancária. "A ideia é não elevar muito o custo desta operação, para evitar a criação de uma referência muito elevada para as próximas rolagens", comentou uma fonte que acompanha a companhia. Atualmente, as debêntures pagam juro de 4,25% somado ao CDI.

Essas rolagens devem começar a ser trabalhadas já neste segundo semestre, uma vez que na nova organização da dívida, a empresa tem R$ 1,5 bilhão para vencer em 2023 e R$ 1,2 bi em 2024. Em outra frente, a Via procura melhorar liquidez e colocar mais dinheiro em caixa. Entre o terceiro e o quarto trimestre de 2021 a companhia aumentou prazos com fornecedores e os reflexos positivos devem começar a aparecer entre o segundo e o terceiro trimestre de 2022.

Paralelamente, ela usa uma carteira de R$ 9 bilhões em créditos tributários para custear os desembolsos de provisões trabalhistas. Funciona assim: a Via deixou de pagar, por compensação de créditos, R$ 1,6 bilhão ao longo de 2021. Esse valor foi suficiente, por exemplo, para neutralizar todo desembolso com processos trabalhistas no ano. A companhia ainda pode vender esse créditos conforme considerar viável. Em janeiro foi celebrado um contrato de R$ 200 milhões e, em março, outro de R$ 300 milhões. O plano é auditado pe E&Y (Ernst & Young).

Do ponto de vista de fundamentos e de condições da dívida líquida da companhia, não há desconfiança quanto à sua capacidade de solvência. Seu endividamento corresponde a 1,5 vez o Ebitda (Caixa líquido/Ebitda). "A empresa conseguiu alongar seus vencimentos de mais curto prazo a um bom custo e tem caixa para arcar com os atuais", afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra. Ele diz que não há fundamentos para esperar que a empresa tenha problemas de liquidez, visto o quanto as dívidas da companhia representam para o negócio e como a empresa tem conseguido negociar com os bancos.

Publicidade

Do lado das provisões, a história é mais complexa. Na divulgação de resultados do terceiro trimestre de 2021, a empresa comunicou que teria de separar R$ 1,2 bilhão no balanço financeiro para possíveis perdas de ações trabalhistas. O episódio foi visto como uma espécie de "déjà vu": em 2020, a companhia informou ao mercado sobre evidências de fraudes contábeis, descobertas por denúncias anônimas feitas no fim de 2019, no valor de R$ 1,2 bilhão. Com as novas provisões trabalhistas, o total de reservas para problemas na Justiça mais do que dobrou: R$ 2,5 bilhões.

Assim, mesmo que em seus documentos ao mercado a empresa literalmente desenhe e faça vídeos bem fundamentados de como vai arcar com essas provisões, mostrando a estratégia de monetização de créditos, bem como um controle maior de despesas que surpreendeu analistas, ainda há certa desconfiança com a possibilidade de mais sujeira ser encontrada por baixo do tapete. "Nunca sabemos se surgirá um novo passivo", disse uma fonte do mercado.

De todo modo, a proposta da companhia de neutralizar o pagamento dessas provisões com os créditos tributários é uma ideia bem fundamentada para Terra, da SBVC. "Da maneira como eles informaram o mercado, a estratégia está clara e, de fato, neutraliza o efeito das provisões. Certamente, caso não houvesse essa atualização do montante de provisões, esse artifício teria efeito positivo. Com essa questão, um neutraliza o outro", explica.

Outro ponto de preocupação estaria no próprio setor. O varejo de bens duráveis como um todo, tem tido dificuldades para engatar vendas mais fortes em lojas em meio à alta da inflação e do juro, que reduzem o poder de compra. A concorrência com produtos chineses e os efeitos da pandemia também espremem as margens do segmento.

"Este é um setor que tem desafios de longo prazo. A Via tem trabalhado e sinalizado ao mercado sua intenção de criação de valor ao seu negócio. Se continuar fazendo sua lição de casa, não enfrentará problemas de capacidade financeira", comentou um especialista. Ele acrescenta que entre tais "tarefas" estão a busca, ainda este ano, de estratégias para a rolagem das dívidas de 2023. "Se não pensarem na rolagem no segundo semestre, este pode ser um problema", acrescentou.

Publicidade

 

Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 01/04/22, às 16h28.

O Broadcast+ é uma plataforma líder no mercado financeiro com notícias e cotações em tempo real, além de análises e outras funcionalidades para auxiliar na tomada de decisão.

Para saber mais sobre o Broadcast+ e solicitar uma demonstração, acesse.

Contato: colunabroadcast@estadao.com

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.