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Bastidores do mundo dos negócios

Votorantim se prepara para entrar em saúde, infraestrutura e saneamento

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Por Wagner Gomes
Atualização:
Fábrica da Votorantim Cimentos, em Rio Branco do Sul (PR); grupo quer se diversificar ainda mais  Foto: Sérgio Zacchi/ Votorantim

Com um caixa robusto e uma alavancagem abaixo de uma vez, a Votorantim S.A. se prepara para entrar em novos segmentos no ano que vem. A holding, que já tem sob seu guarda-chuva empresas voltadas ao setor de alumínio, cimento, mineração e um banco, vai investir em 2022 no setor de saúde (laboratórios, hospitais a farmacêuticas), infraestrutura e saneamento, diz Sergio Malacrida, diretor-financeiro da Votorantim S.A., em entrevista exclusiva ao Broadcast.

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"Prontidão e dinheiro nós temos. Estamos com a alavancagem baixa, somos investment grade e temos capacidade de nos financiarmos. A questão hoje é alocação de capital e estamos olhando para a saúde, infraestrutura e saneamento no Brasil", afirma, acrescentando que a empresa também tem apetite para a área imobiliária.

O foco, segundo ele, é investir em escritórios no Brasil e no exterior. Na semana passada, a Altre, braço de investimentos imobiliários do Grupo Votorantim, fechou a compra de 50% do Atlas Office Park, conjunto de edifícios corporativos em frente ao Parque Villa Lobos, na capital paulista. A Altre tinha 50% do imóvel e agora passa a ser a proprietária integral. A compra de metade do Atlas Office Park saiu por R$ 200 milhões, como informou a Coluna do Broadcast.

"No exterior, devemos abrir um escritório em Nova York, já estamos vendo alternativas. Ainda este ano teremos um endereço. A ideia é ter um time por lá e começar a prospectar negócios", comenta.

A possibilidade de um IPO, a oferta inicial de ações na sigla em inglês, até existe, mas Malacrida lembra que 2022 será ano de eleições, com mais turbulência e ainda mais cautela no mercado de capitais.

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"Pode ser que abra alguma janela, estamos de prontidão, mas 2022 é ano de eleição e de cautela. Desde 2013, a Votorantim Cimentos tem trabalhado com a possibilidade de fazer o IPO, então a empresa está pronta, está madura, tem governança e atende a todos os quesitos. Mas tem que ter uma razão pra fazer", ressalta.

Também já houve tentativa frustrada de IPO do BV, ex-Banco Votorantim, que cancelou em abril deste ano pedido de registro de companhia aberta e da oferta pública de units citando a conjuntura atual de mercado. Malacrida afirma que a Votorantim Cimentos não planeja um IPO porque está neste momento mais preocupada em aumentar a sua competitividade e investir em ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa).

"A VC fez várias negociações com caixa próprio, mas se aparecerem oportunidades maiores e a janela de mercado estiver aberta, a gente faz o IPO. O que eu posso dizer é que a empresa está pronta", diz.

Crise hídrica

A crise hídrica está no radar do grupo Votorantim para o ano que vem, mas a falta de água deve afetar mais os preços do que a produção, segundo o diretor financeiro da companhia. "De fato, 2021 não teve racionamento, apesar de os preços ficarem altíssimos durante todo o ano. As chuvas vieram agora. Acho que para 2022 há um baixo risco de racionamento, mas continuamos tendo a chance de vermos preços altos", afirma.

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Isso significa, segundo o executivo, pressão sobre os custos. A pergunta que fica, afirma, é se será possível repassar aos preços a alta dos custos. "Me parece que há uma inflação generalizada, não se sabe se é pontual ou cíclica. Se vai ou não arrefecer. Se for um movimento de inflação generalizada com as commodities em um preço alto, pode até nos beneficiar porque exportamos muito", diz.

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Preços mais altos

Ontem, 16, a Votorantim informou que o seu lucro líquido no terceiro trimestre foi de R$ 1,1 bilhão. Um aumento de 13 vezes se comparado ao mesmo período do ano anterior. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) ajustado totalizou R$ 3,3 bilhões, 21% a mais no comparativo com o terceiro trimestre de 2020. A receita líquida consolidada chegou a R$ 14 bilhões, um aumento de 30% em relação ao mesmo período do ano anterior. A alavancagem, medida pela relação dívida líquida/Ebitda ajustado, atingiu 0,87x.

"O bom desempenho da Votorantim foi impulsionado por maiores preços das commodities e por um aumento no volume de vendas, principalmente na Votorantim Cimentos, na CBA e na Nexa Resources", diz Malacrida.

Segundo ele, esse resultado pavimenta um caminho virtuoso para 2022. Ele lembra que, recentemente, a Votorantim Energia e o fundo canadense CPP Investments (Canada Pension Plan) anunciaram a intenção de consolidar seus ativos de energia para criar uma empresa líder no setor, que terá ações listadas no Novo Mercado da B3. Quando concretizada a reorganização, a nova empresa terá receita líquida estimada em R$ 5,8 bilhões, com base nos resultados de 2020, e uma matriz energética diversificada com capacidade instalada de 3,3 GW, sendo 2,3 GW em fontes hidrelétricas e 1,0 GW em eólicas. A nova empresa também será uma das maiores comercializadoras de energia do País, com mais de 2,6 GW médios comercializados no ano de 2020, de acordo com a Votorantim.

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Votorantim Cimentos Na Votorantim Cimentos, empresa de materiais de construção e soluções sustentáveis, o lucro líquido foi de R$ 1,1 bilhão no terceiro trimestre de 2021, crescimento de 57% em relação ao mesmo período do ano passado. O Ebitda ajustado atingiu R$ 1,7 bilhão, crescimento de 8% em relação ao mesmo período de 2020. Marcelo Castelli, CEO Global da Votorantim Cimentos, observa que o resultado melhorou, mas a margem diminuiu.

"Vendemos mais, tivemos receita maior, mas os custos corroeram as margens. A pressão de custos foi maior do que a possibilidade de repasse de preços aos mercados. Repassamos preços, mas não o suficiente para garantir as nossas margens, que diminuíram. Resultado foi bom, mas impactado pela inflação de custos", afirma.

A estrutura de custos da Votorantim Cimentos depende de dois fatores: custos dos combustíveis para a geração de energia térmica e  custo da energia elétrica. O que acontece é que os preços das commodities acarretam uma inflação direta nos combustíveis, diz o executivo. Segundo ele, a questão hídrica no Brasil também elevou os custos de energia elétrica no período.

O diretor financeiro global da Votorantim Cimentos, Osvaldo Ayres Filho, afirma que em todos os países que a companhia opera houve uma substancial inflação de custos, inclusive no Brasil. "Há uma dinâmica local de inflação em todos os países. No Brasil, a inflação interna de custos já ultrapassa 30% neste ano. Viemos nessa onda de repasse da inflação nos preços. Porém, as nossas margens comprimiram", comenta.

Segundo ele, nos primeiros 9 meses do ano, as margens da empresa evoluíram 5 pontos porcentuais. Os números absolutos subiram porque a atividade foi maior. Daqui para a frente, o cenário é de incerteza em relação à capacidade de repasse.

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Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 16/11/21, às 11h18.

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