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Por Iuri Dantas
Atualização:

 Foto: Dida Sampaio/Estadão.

Muito se critica ou elogia o governo Dilma Rousseff por suas apostas econômicas. Como o uso do BNDES, com empréstimos a juros camaradas para empresários escolhidos a dedo, ao custo de centenas de bilhões de reais que o Tesouro Nacional levanta no mercado vendendo títulos da dívida pública.

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Ou a decisão de renovar antecipadamente os contratos de concessão de energia elétrica, usando a mão forte do Estado para manter as mesmas empresas no comando de usinas e linhas de transmissão por mais algumas décadas. Quem discorda diz que o mercado poderia fazer o mesmo trabalho, se houvesse novas licitações. Os preços poderiam cair ainda mais, argumentam.

O diabo está nas consequências. A cultura de sigilo do BNDES não permite avaliações mais aprofundadas, mas isso não afasta o apoio ao grupo de Eike Batista e outros casos em que o contribuinte subsidiou aventuras com as quais pouco concorda. Já o setor elétrico vive um momento sui generis: consta que o País vai se endividar em mais R$ 20 bilhões neste ano para manter o "desconto" na conta de luz prometido por Dilma Rousseff, a ex-ministra de Minas e Energia que comanda o Executivo federal. E a conta vai subir.

O melhor exemplo da interferência estatal na economia é a política industrial. Deu-se o nome de Plano Brasil Maior à peça, cuja maior bandeira no lançamento era a devolução de 3% do valor do produto exportado para o industrial. A medida foi abatida com sorrisos pela equipe econômica e não existe mais. Outro pilar importante era a "desoneração" da folha de pagamento. Entre aspas porque o sujeito que produz bens de alto valor agregado e paga os melhores salários fica liberado de depositar 20% de contribuição ao INSS, mas precisa pagar de 1% a 2% sobre a grana que entra no caixa.

Havia outras iniciativas. Muitas. Dezenas. Desde o lançamento, segundo informações oficiais disponíveis no site do plano, foram quase cem reuniões para debater o assunto. Na prática, servidores do Ministério da Fazenda só pensam em desmontar algumas das benesses.

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Nada mais distante da vida real do cidadão do que uma "política industrial". Ou um "Plano Brasil Maior". Para facilitar a compreensão, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, incluíram de tudo um pouco até chegar nos anúncios de cortes de imposto para automóveis e eletrodomésticos da linha branca. Havia planos para redução de tributos também para outros setores. Mas a criatividade na contabilidade pública cobrou um preço alto e foi tudo para a geladeira.

Quem acredita no mercado é capaz de dizer que a melhor forma de estimular a indústria seria abrir a economia e dar aos nacionais as mesmas condições que os fabricantes estrangeiros têm para produzir ou aperfeiçoar seus produtos. Ressalte-se que isso nunca esteve em discussão no governo. Jamais. Em nenhum momento. A cada corte de imposto para um produto Made in Brazil, o importado similar levava uma sobretaxa. Coisa de quem acredita que é possível estimular manufaturados mantendo em vigor um Imposto sobre Produtos Industrializados. Japão, EUA e Europa puxaram briga na Organização Mundial do Comércio contra a política industrial.

Algumas consequências foram conhecidas nas últimas semanas. A produção industrial levou um tombo em dezembro, com queda de 3,5%. No ano de 2013, cresceu 1,2%, menos da metade da queda do ano anterior, de 2,5%. O emprego na indústria, que iria disparar com a desoneração da folha de pagamento, encolheu pelo segundo ano consecutivo. A exportação de produtos industrializados caiu e a importação disparou, levando ao maior déficit do setor desde o ano 2000. A indústria ficou menor.

De posse dos resultados e de olho na situação das contas públicas e dos juros que continuam subindo, os empresários se desencantaram. Pedro Passos, sócio fundador da Natura, disse ao Estado que a confiança no governo acabou. Falou ao gravador o que muitos comentam à boca pequena. Não ficou sozinho, representantes de fabricantes de eletrônicos, máquinas e equipamentos foram na mesma linha.

O mais interessante foi a resposta do responsável pela política industrial. Amigo e conselheiro de Dilma, o ministro Fernando Pimentel não se deu ao trabalho de explicar o que vem fazendo em Brasília nos últimos três anos e dois meses. A dias de subir no palanque ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva e começar sua batalha pelo governo de Minas Gerais, Pimentel disse que as críticas de Passos tinham viés eleitoral.

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Se o primeiro passo para superar um problema é reconhecer que ele existe, a coisa vai longe. A ficha, ao que tudo indica, ainda não caiu. Não há registro de país que tenha ascendido em desenvolvimento e riqueza sem indústria. Partindo desse pressuposto, o sr. Fernando Pimentel conseguiu tornar o Brasil um pouco menor.

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