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Os rumos do mercado

Com alívio na Grécia, desaceleração e fim do QE2 voltam à cena

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Por Redação
Atualização:

Agora que o risco de default (calote) desordenado da Grécia saiu da perspectiva de curto prazo, os investidores globais voltam a lidar com os outros temas relevantes que andaram em segundo plano. A desaceleração global, o fim do programa de estímulo do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA)hoje e as discussões sobre o teto da dívida dos Estados Unidos retornam ao foco nos próximos dias.   Como a crise da Grécia tinha o potencial de bomba-relógio sobre os mercados, as demais questões acabaram sufocadas recentemente. A aprovação das medidas de austeridade pelo parlamento ontem tirou de cena o maior perigo e abriu caminho para a liberação da quinta parcela do empréstimo tomado no ano passado, de 12 bilhões, o que possibilita o pagamento dos vencimentos de julho.   As demais medidas de implementação do pacote, incluindo as privatizações, também devem ser aprovadas pelo parlamento hoje. As atenções se voltam para o encontro de ministros europeus no domingo, que deve concordar com a nova tranche para a Grécia e dar espaço para negociações sobre um novo plano de ajuda externa. A situação segue complicada, até porque deve passar pela renegociação das dívidas com os credores. Mas, ao menos os investidores podem sair do sufoco por algum tempo - ao contrário da população grega, que segue sofrendo e protestando contra o aperto fiscal.   O primeiro semestre chega ao fim junto com o programa de alívio quantitativo do Fed, o chamado QE2 (na sigla em inglês). Uma questão relevante será acompanhar o reflexo sobre a liquidez dos mercados, já que a estratégia vinha claramente estimulando ativos mundo afora, principalmente os emergentes - o dólar, a propósito, fechou ontem a R$ 1,5690.   Pode-se dizer que o sentimento dos investidores resistiu bem a um primeiro semestre agitado: revoluções no norte da África e Oriente Médio, terremoto devastador no Japão, disparada das commodities (já com reflexos sobre o crescimento global), temor inflacionário e perspectiva de default na zona do euro (de quebra, Dominique Strauss-Kahn foi preso acusado de abuso sexual em meio à negociação com a Grécia).   Pode-se concluir também que a liquidez artificial criada pelo Fed ajudou bastante a segurar os nervos. Contra fluxo não há argumentos, é aquela velha história. O fim do QE2 desperta reflexões: funcionou? Desde novembro do ano passado, a autoridade dos EUA despejou mais US$ 600 bilhões na segunda rodada de estímulo. Analistas em Nova York acreditam que a estratégia impediu a deflação, mas não conseguiu melhorar o mercado de trabalho, conforme apurou a correspondente Luciana Antonello Xavier.   Outro ponto de questionamento é o efeito nas commodities e, consequentemente, na inflação e no crescimento global. Conforme levantamento do Deutsche Bank, desde o anúncio do QE2, o índice S&P, o petróleo WTI e o ouro acumulam ganhos de 25%, 19% e 22%, respectivamente. Enquanto isso, a taxa de desemprego está apenas 0,6 ponto porcentual mais baixa, o mercado imobiliário segue perto do piso e os EUA presenciam uma das piores retomadas de sua história. "Para conseguir uma pequena recuperação, tivemos de despejar tanta liquidez no sistema que muito disso vazou para os ativos financeiros", avalia Jim Reid, estrategista-chefe do banco alemão.   Essa é a reclamação das autoridades brasileiras, embora as lideranças dos EUA creditem a disparada das commodities à demanda dos emergentes. O fato que é a alta dos preços das matérias-primas trouxe o perigo da inflação global e, logo depois, passou a pesar sobre o crescimento mundial. Se o objetivo do QE2 era o estímulo econômico, pode ter funcionado ao contrário.   Outro tema que irá crescer nos próximos dias é a discussão sobre o teto da dívida dos EUA, que deve ser elevado pelo Congresso até o início de agosto para evitar que o país entre em default, como já alertam as agências de rating. Aqui, vem funcionando o mesmo raciocínio sobre a possibilidade de default desordenado da Grécia: as consequências seriam tão caóticas que, aos 45 minutos do segundo tempo, os políticos resolverão favoravelmente.   O desempenho dos indicadores dos EUA volta a ser foco de atenção, pois há preocupações com o ritmo da atividade. Ainda assim, não está na mesa a perspectiva de um QE3 por enquanto.   A agenda internacional traz hoje entrevista coletiva de James Bullard, do Fed de Saint Louis, que falará sobre "afrouxamento monetário", a partir das 10 horas (de Brasília). Também saem, em Nova York, os pedidos de auxílio-desemprego (9h30) e as atividades industriais regionais de Chicago (10h45) e Kansas City (12h).

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