A Alemanha endurece o jogo contra a especulação pesada e gera reação turbulenta nos mercados internacionais. Como era de se esperar, os investidores fogem dos ativos de risco, depois que a chanceler Angela Merkel decidiu proibir as operações de venda a descoberto com as dez principais ações de bancos do país e os swaps de default de crédito (CDS, na sigla em inglês) de bônus soberanos da zona do euro. As principais bolsas europeias recuam mais de 2%, o petróleo afunda para a casa dos US$ 68,00 e os metais sentem forte pressão. Diversos analistas dizem que o governo alemão consegue impedir as transações com alguns ativos, mas não com o euro, o que deixa a moeda exposta e já abaixo de US$ 1,22. O banimento gerou uma primeira impressão de que a crise na Europa seria, na verdade, mais grave do que parece, daí a necessidade de proteger os ativos alemães. Para o analista Adrian Foster, do Rabobank, a regra levanta questionamentos sobre se o regulador do país sabe algo que o mercado desconhece. "Se existe um segredo, ele não pode ser algo bom." No entanto, a atitude vem dentro de um contexto político amplamente desfavorável aos bancos, acusados de criar a crise do subprime, e aos fundos especulativos, apontados como ampliadores da turbulência. As preocupações com o mercado de CDS, especificamente, cresceram durante os problemas na Grécia, diante da percepção de que o mecanismo inflou artificialmente os custos de financiamento do país. Uma série de discussões ocorre não só na União Europeia, mas também nos Estados Unidos e no âmbito do G-20. Também ontem, os ministros de Finanças da UE aprovaram uma regulação para apertar os fundos de hedge e de private equity. De qualquer forma, as medidas da Alemanha surpreenderam e os investidores aguardam esclarecimentos. Será acompanhado com atenção o discurso do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, às 12 horas (de Brasília). Ironia do destino, ele vai justamente lançar a pedra fundamental do novo prédio do BCE em Frankfurt. Também existem temores com a deterioração do balanço do BC europeu, que partiu para a compra de títulos de países problemáticos do bloco, como forma de conta a crise de dívida soberana na Europa. O elevado endividamento dos países, agravado pela recessão, provoca instabilidade nos mercados mundo afora, com efeitos claros sobre a Bovespa.