25 de outubro de 2010 | 09h37
Como a expectativa era muito baixa, o comunicado do G-20 emitido no final de semana até que surpreendeu pela forma de tratar os desequilíbrios globais. Mas, foi insuficiente para convencer os investidores de que a trajetória de queda do dólar será revertida. A conclusão é que o ruído político não impedirá o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) de partida para uma nova rodada de desaperto monetário.
As autoridades reunidas na Coreia do Sul concordaram que o câmbio deve ser determinado por forças de mercado e se comprometeram a não adotar desvalorizações competitivas de suas moedas. Os países desenvolvidos terão de manter vigilância em relação à volatilidade excessiva e movimento desordenado do câmbio, de forma a ajudar a mitigar as riscos referentes aos fluxos enfrentados por emergentes.
Embora o efeito prático do comunicado seja amplamente questionado, alguns analistas se mostram surpresos pela linguagem adotada. Para Chris Turner, estrategista-chefe de câmbio do ING, é significativo o fato de países como China, Coreia, Indonésia e Índia terem assinado o compromisso.
Jeffrey Young, do Barclays Capital, classificou o documento de “surpreendentemente abrangente” e avalia que novos progressos podem acontecer no encontro de cúpula em novembro. O que não está claro é se os países concordarão em alterar suas políticas domésticas para atingir equilíbrio externo – a proposta dos Estados Unidos de limitar os déficits ou superávits da conta corrente em 4% não encontrou consenso.
“Francamente, os resultados do G-20 são o melhor que os mercados podem esperar neste momento, mas os investidores não devem concluir muito deles”, acredita Roberto Mialich, estrategista de câmbio do UniCredit, ao classificar o comunicado de uma “frágil trégua” na guerra cambial.
De fato, embora mais firme do que esperado, a definição do G-20 apenas reforçou a tendência de queda do dólar. É unânime a avaliação de que o Federal Reserve seguirá em frente com a sua política ultra acomodatícia. A discussão está agora centrada no tamanho do programa de estímulo a ser anunciado pelo BC dos EUA na reunião do dia 3 de novembro.
É bem possível que o apetite pelo risco, consequência clara da estratégia do Fed, seja calibrado a partir de agora pelas expectativas sobre a nova dose de desaperto. Pelo cálculo do BNP Paribas, considerando a expectativa de alta do desemprego e queda da inflação, a autoridade precisa comprar mais US$ 300 bilhões a US$ 900 bilhões em títulos. Até o aguardado encontro, novos números devem passar a circular.
O dado mais importante da semana a contribuir para as previsões sobre o Fed é o PIB dos EUA no terceiro trimestre, a ser divulgado na sexta-feira. Hoje, sai a atividade industrial em setembro (às 10h30) e as vendas de imóveis usados em setembro (12h30).
Às 9h36 (de Brasília), o euro subia para US$ 1,4028, de US$ 1,3923 no fechamento de sexta-feira em Nova York. A libra passava a US$ 1,5740, de US$ 1,5667. O dólar cedia a 80,67 ienes, de 81,41 ienes no final da semana passada.
A perspectiva de nova injeção de liquidez estimula a procura por risco e as bolsas de Londres (+0,53%), Paris (+0,36%) e Frankfurt (+0,60%) avançavam, no mesmo horário (acima). O petróleo mostrava valorização de 1,29%, para US$ 82,74.
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