Foto do(a) blog

Práticas empresariais sustentáveis

Amazônia registra maior taxa de desmatamento desde 2008

PUBLICIDADE

Por Amcham Brasil
Atualização:
Manejo sustentável da castanha na comunidade de Iratapuru no Amapá. Crédito: Natura Foto: Estadão

Caminhando no sentido contrário ao da sustentabilidade, o Brasil está perdendo o seu maior patrimônio econômico, científico e natural: a Amazônia. Entre agosto de 2015 e julho de 2016, 7.989 km² do bioma foi totalmente devastado, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) , sendo a maior taxa desde 2008. Para o país do futebol, isso equivale a 1.14 milhão de campos esportivos. O número também pode ser comparado a sete vezes a área da cidade do Rio de Janeiro.

PUBLICIDADE

"A diminuição de recursos públicos voltados às atividades de fiscalização e monitoramento, aliada ao desinteresse da população no tema [do desmatamento], é uma combinação mortal para o bioma", avalia André Guimarães, diretor executivo do IPAM. Uma série histórica indica que desde 1988 houve uma redução de 421.871 km² de floresta. A extração ilegal de madeira e o afrouxamento da legislação a partir do Novo Código Florestal - que determina anistia aos casos de desmatamento ilegal até 2008 -, além da falta de ampliação das áreas de proteção ambiental, são algumas das principais causas de uma realidade há tempos preocupante. De acordo com Cristiane Mazzetti, da campanha Amazônia do Greenpeace, o crescimento das áreas degradadas está sendo consecutivo nos últimos anos, o que coloca o Brasil em um patamar distante da meta estabelecida no Acordo de Paris [COP21], que determina o desmatamento ilegal zero na Amazônia até 2030.

"Temos muitas áreas abertas que devem ser melhor aproveitadas. Não há uma necessidade de abrir mais porque estamos prejudicando o nosso clima, a biodiversidade e o regime de águas", comenta Mazzetti. Para ela, a Amazônia possui um potencial de produtividade grande e que ainda é pouco aproveitado por alguns setores, como a pecuária, por exemplo. Ao invés de desmatar o ideal é valorizar os recursos que podem ser obtidos para gerar valor. O diretor executivo do IPAM também compartilha a ideia e indica que "além de estimular o manejo florestal e a produção de produtos florestais não-madeireiros, como óleos e castanhas, os setores privados que atuam na região devem se tornar mais eficientes e mais produtivos nas áreas que já estão abertas. Isso pode ser feito com tecnologia agropecuária, intensificação da produção, práticas que tornem o uso do solo mais eficiente".

"A floresta em pé vale mais do que derrubada", é um dos eixos centrais da marca de cosméticos Natura. O Programa Amazônia, desenvolvido pela empresa, integra o plantio orgânico, o manejo sustentável e o desenvolvimento de comunidades locais em uma lógica de produção e preservação. Basicamente, ao invés de derrubar uma árvore para explorar a sua madeira, a Natura incentiva a colheita dos seus ativos para ser utilizados no desenvolvimento de cosméticos à base de princípios naturais. Renata Puchala, gerente de sustentabilidade da marca, conta que o projeto mudou a realidade de vida de comunidades na região, porque mostrou o potencial de geração de valor de frutos e sementes nativas e, ao mesmo tempo, incentivou a preservação do bioma, diminuindo a extração ilegal de madeira. "A nossa estratégia é fazer com que as comunidades vejam na floresta uma oportunidade de trabalho e renda própria de forma sustentável".

Desde o início do programa, aproximadamente 700 mil hectares da floresta foram preservados. E até 2020, a empresa tem como meta levar para a Amazônia um volume de negócios de um bilhão de reais, dividido entre todas as ações de geração de valor no local. Só em 2016, esse montante já chegou a 960 milhões. A ação de preservação também ofereceu grandes oportunidades de inovação. "A gente desenvolveu uma manteiga que vem do fruto da árvore ucuuba, não da madeira [que está seriamente ameaçada de extinção]. Essa manteiga tem propriedades muito interessantes em relação à hidratação com toque seco, o que resolve um paradoxo de que quanto mais pesada é a hidratação, mais oleosa fica a pele", conta Puchala.

Publicidade

 

Florestas PlantadasA madeira é uma das principais matérias-primas para a indústria de celulose. A Fibria, empresa do setor, tem mostrado que é possível elevar a produtividade em equilíbrio com o ambiente. Ela adotou a prática das florestas plantadas, - que integram a mata nativa com eucalipto e outras espécies produtivas -, como solução eficiente para produzir sem degradar. Com uma base florestal de 969 mil hectares, cerca de 338 mil são destinadas à conservação ambiental. Esses cultivos, de acordo com João Carlos Augusti, gerente de meio ambiente florestal da Fibria, contribuem para a recuperação da mata e, ao mesmo tempo, para o retorno da fauna. De acordo com a empresa, nos últimos oito anos 688 espécies de animais foram registrados nas locais de reserva. "Na área nativa, aumenta a diversidade e enriquece o ambiente. Do lado do eucalipto, tem áreas que serão colhidas e depois vão ter uma estrutura florestal novamente. Então, elas têm função para a fauna e a flora" comenta.

A empresa dedica 33% de toda a sua área para preservação permanente, o que considera uma ação de importância extrema. Além disso, também mantêm uma meta de até 2025 restaurar 40 mil hectares dos biomas da Mata Atlântica e Cerrado. Augisti ainda explica que as árvores levam em torno de 6 a 7 anos para serem colhidas, processo que é feito através de manejo sustentável, com o menor impacto para o meio ambiente. As ações de sustentabilidade fizeram com que a Fibria participasse do Prêmio ECO em 2012 e 2016.

 

Mata AtlânticaA Mata Atlântica, bioma que se estende por 17 estados do país, é um dos mais ameaçados na atualidade: restam apenas 12,5% da vegetação nativa da floresta. "A história do Brasil está ligada à destruição da Mata Atlântica, com a exploração a partir do descobrimento e passando por diversos ciclos econômicos como o de cana-de-açúcar e café", aponta Marcia Hirota, diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica.

No entanto, notícias boas chegaram no início deste ano: um estudo feito pela ONG em conjunto com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mapeou a regeneração de mais de 200 mil hectares de floresta entre 1985 e 2015 - uma área que corresponde, aproximadamente, ao tamanho da cidade de São Paulo. Hirota explica que há uma meta para restaurar 15 milhões de hectares do bioma até 2050 - o que equivaleria a 10% da floresta original e o dobro da área atualmente conservada. Ações como reflorestamento e plantio de mudas podem acelerar esse processo, segundo a especialista.

Pensando na ameaça ao bioma, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e com o Grupo DSR, elaborou o projeto "Estrada com Araucárias". A araucária, árvore símbolo da região Sul, é ameaçada de extinção e integra uma parte da Mata Atlântica. Para compensar suas emissões de carbono, a transportadora DSR paga pequenos agricultores pelo plantio e cultivo de mudas da espécie. "O objetivo é reflorestar divisas de propriedades rurais em estradas nas áreas de ocorrência natural da espécie. Assim, é possível estimular o paisagismo e turismo rural, auxiliar a reabilitação de ecossistemas, capturar Gases de Efeito Estufa e produzir pinhão para consumo humano e da fauna" explica Edilson Batista de Oliveira, pesquisador da Embrapa e idealizador do projeto.

Publicidade

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Segundo divulgações no site da DSR, já foram plantadas 19 mil mudas de araucária até 2014, sendo mais de 16 mil diretamente custeadas pela empresa. Além da renda extra, o pequeno agricultor pode consumir ou comercializar o pinhão. "Muitos proprietários de terras estão adotando a técnica de plantar a araucária por conta própria, sem o incentivo, por reconhecer as vantagens que as árvores oferecem. Esse é o resultado mais positivo", conta Oliveira. A iniciativa concorreu ao Prêmio ECO de 2015.

Produzir em equilíbrio com a natureza certamente é a melhor maneira de promover a sustentabilidade dos negócios e garantir recursos sem comprometer o futuro. Cristiane Mazzetti, da campanha Amazônia do Greenpeace, ressalta que as empresas podem contribuir de forma significativa para a preservação e recuperação do meio ambiente. "Acho que um primeiro passo é garantir que elas não estão de nenhuma forma colocando na sua cadeia produtos que venham de desmatamento". Além disso, ela também destaca que a recuperação de espaços degradados é importante, no entanto "se a gente não parar de desmatar, não vai adiantar restaurar. O processo de restabelecer uma floresta é muito longo. Demora muitos anos e, muitas vezes, não é possível recuperar as características iniciais daquela floresta".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.