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Práticas empresariais sustentáveis

Mercado de biodiversidade deve movimentar mais de 400 bilhões de dólares até 2020

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Por Amcham Brasil
Atualização:

O aproveitamento de frutos, sementes e princípios ativos encontrados em plantas e animais nativos em produtos deve gerar receitas globais superiores a 400 bilhões de dólares nos segmentos de alimentação e farmacêutico nos próximos quatro anos, de acordo com especialistas ambientais. Relatório 'A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade' (Teeb, na sigla em inglês), relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), mostra que só o mercado de produtos agrícolas certificados para alimentação deve movimentar 210 bilhões de dólares até 2020. O estudo foi liderado pelo economista indiano Pavan Sukhdev, que defende que o uso de recursos oriundos da biodiversidade não deve ser baseado apenas em critérios de rentabilidade e eficiência. No setor farmacêutico, as possibilidades de descobertas de componentes medicinais a partir de plantas também movimentam somas bilionárias. De acordo com a consultoria McKinsey, até 2020 o faturamento estimado do mercado de biofarmacêuticos será de 278 bilhões de dólares. Em 2014 o segmento gerou aproximadamente 163 bilhões de dólares, o que representa 20% das receitas totais do segmento. A preservação dos recursos naturais precisa ser incluída nos modelos econômicos de produção. O cuidado com o meio ambiente é uma forma de assegurar o equilíbrio das condições climáticas. "É mais barato cuidar do que devastar", garante Sukhdev. O Brasil possui uma das maiores biodiversidades do mundo e tem atraído cada vez mais investimentos das empresas para o desenvolvimento de produtos inovadores. Além de desenvolvimento de novos negócios, muitas companhias que usam recursos da natureza obtiveram ganhos de imagem, aumento de eficiência e conquista de mercados. De acordo com estudo sobre biodiversidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 120 presidentes e executivos de empresas de todos os portes, mais da metade das empresas (52%) investiu em produtos que contém recursos da biodiversidade. As empresas também disseram que investem em práticas e processos relacionados ao tema para garantir reputação no mercado (77%), reduzir custos (73%) e aumentar a competitividade (55%). A Beraca, fornecedora de ingredientes naturais e orgânicos da biodiversidade brasileira, vem aumentando suas exportações de insumos naturais para as indústrias de cosméticos, farmacêuticos e cuidados pessoais. Entre os insumos comercializados no mercado internacional estão os óleos de pracaxi, pequi e buriti e as manteigas de murumuru e cupuaçu. A produção é feita em parceria com moradores de comunidades ribeirinhas e pequenos agricultores de regiões como a floresta amazônica. "A procura se baseia não só no apelo de exoticidade, mas também da eficiência dos produtos", afirma Thiago Terada, gerente de sustentabilidade e assuntos corporativos da Beraca. De acordo com a empresa, as exportações representaram 50% do faturamento em 2015. Foi um crescimento de doze pontos percentuais em relação a 2014. Em 2014 e 2013, a Beraca venceu o Prêmio ECO www.premioeco.com.br com projetos de uso da biodiversidade brasileira. A Natura foi uma das pioneiras no uso de insumos da biodiversidade em seus produtos ao lançar a linha de cuidados pessoais Ekos, na década de 2000. A ideia foi inspirada pela riqueza da biodiversidade amazônica, disse Marcelo Alonso, diretor de sustentabilidade da Natura. "Isso resultou em um grande número de produtos novos que enfatizam a vocação de cada ativo da biodiversidade para hidratação, proteção solar e fragrâncias, por exemplo." Em 2008, a Natura ganhou um Prêmio ECO pelo desenvolvimento de práticas empresariais sustentáveis. Boa parte dos insumos é extraída da região, em parceria com as comunidades locais. "Queremos atingir, até 2020, a meta de ter 30% dos insumos utilizados em nossos produtos vindos da região amazônica. Hoje, este índice está próximo a 20%", detalha Alonso. O desenvolvimento de produtos segue princípios de inclusão social e respeito socioambiental. Na linha Ekos, a empresa está usando ucuuba, uma semente amazônica como bioativo. A espécie, ameaçada de extinção por causa da exploração madeireira, passou a ser preservada para uso como matéria-prima cosmética. "A cada ano, a renda que uma comunidade obtém com uma árvore preservada é três vezes maior do que aquela obtida com a exploração madeireira", segundo o executivo. O cultivo de espécies florestais é outra vertente com boas perspectivas comerciais. No mesmo período, o documento do Pnuma estima que o comércio de produtos florestais certificados, principalmente a madeira, tem potencial para gerar negócios de até 15 bilhões de dólares no mundo. Há outros produtos além da madeira que podem ser extraídos, acrescenta Claudio Pontes, especialista em restauração florestal da organização não governamental (ONG) WRI Brasil. "Estamos falando de resinas, óleos, sementes e frutas nativas. Dessas, há pelo menos 300 espécies pouco conhecidas que poderiam ter uso na indústria de alimentos, cosméticos e farmacológicos." Pontes é consultor do projeto Verena (Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas), iniciativa das ONGs WRI Brasil e IUCN Brasil para desenvolver uma modelagem econômica que calcula a viabilidade do cultivo comercial de espécies da Mata Atlântica e Amazônia. Um dos objetivos do Verena é pesquisar o cultivo de mudas e sementes em grande escala e, assim, aumentar a variabilidade genética de matrizes mais produtivas para fins comerciais. De quebra, a ação pode ajudar a cumprir a meta brasileira de recuperação de 12 milhões de hectares de florestas até 2030 firmada no COP-21 (acordo global de redução das emissões de gases de efeito estufa). O sucesso do cultivo de eucalipto para celulose é um dos casos estudados pelo Verena, cita Pontes. Nos últimos 50 anos, o Brasil conquistou uma das maiores produtividades mundiais dessa cultura. "Na década de 1960, a produtividade anual era de 12 metros cúbicos por hectare. Com pesquisa e investimentos, ela atinge atualmente 40 metros cúbicos por hectare. Por que não fazer o mesmo com outras espécies?", indaga. Para Sukhdev, a exploração do capital natural deve ser feita sem destruir a infraestrutura ecológica. "Temos que ser cuidadosos sobre como explorar os recursos naturais."

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