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Práticas empresariais sustentáveis

Modernização de cooperativas e isenção de impostos para reaproveitamento de resíduos dariam mais emprego e renda a catadores

Por Amcham Brasil
Atualização:

Com investimentos no processo de reciclagem, as cooperativas de catadores de resíduos teriam condições de empregar aproximadamente 160 mil profissionais a mais, estima Roberto Laureano, coordenador do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR). "Existem muitas cooperativas que funcionam sem o kit básico, formado por prensa, balança ou caminhão. Com parcerias, seria possível montar o kit e absorver, no mínimo, mais 20% de catadores", afirma.

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Para incentivar ainda mais a atividade de reciclagem, André Vilhena, diretor executivo do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), defende a discussão sobre o fim da bitributação na cadeia de reciclagem. Como as empresas já pagaram impostos quando o bem foi produzido, o mesmo poderia ter isenção fiscal depois que se transformasse em resíduo, argumenta. As empresas atualmente pagam 12% de ICMS e cinco outros impostos sobre mercadorias que já foram tributadas se forem reaproveitá-las, totalizando R$ 2,6 bilhões por ano de tributos que já foram cobrados na fabricação inicial da mercadoria.

O MNCR trabalha com uma média de quase 800 mil catadores cooperados em atividade no Brasil, que são responsáveis pela coleta de 90% de tudo que é reciclado hoje. Quanto mais investimentos, maior a capacidade das cooperativas de adquirir equipamentos sofisticados e empregar profissionais, acrescenta Laureano. Nesse segmento, há empresas que estão aumentando sua eficiência e gerando empregos com negócios criados a partir da reciclagem de resíduos.

De acordo com Hélio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, a capacitação das cooperativas é um dos fatores determinantes no sucesso da atividade. "Os catadores são pessoas de renda baixa e menos educadas. Ele recebe, em média, aproximadamente 650 reais por mês. Por isso, é preciso oferecer treinamento adequado até o momento em que os próprios cooperados possam gerir o negócio."

Para André Vilhena, as cooperativas de catadores teriam condições de triplicar a capacidade e receita em até três anos com organização e parcerias público-privadas. "A cooperativa é um negócio que depende de melhoria de eficiência e investimentos. Envolve boa gestão, equipamentos e rotina de atividades. E do ponto de vista externo, tem a ver com explorar nichos de vendas e parcerias com prefeituras para aumentar a coleta seletiva." Um começo ideal seria processar 50 toneladas mensais, estima Vilhena. "Essa quantidade garante uma renda média de 1,5 salário mínimo (1,32 mil reais) para vinte catadores."

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No setor privado, a Danone concilia inclusão social com foco econômico em seu Projeto Novo Ciclo, de apoio à reciclagem. A iniciativa começou em 2012, quando a empresa fez parcerias com o Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (INSEA), o Movimento Nacional dos Catadores (MNCR) e municípios onde operava, para qualificar a atividade de reciclagem e melhorar a renda dos profissionais. "O objetivo é aumentar a qualidade do processo para atrair compradores melhores e gerar mais renda aos catadores", detalha Mauro Homem, gerente de sustentabilidade da Danone. O projeto concorreu ao Prêmio ECO de 2016.

Em quatro anos, a integração de esforços possibilitou um crescimento da renda média dos catadores em 2,5 vezes, saltando de 450 reais para 1,1 mil reais. O índice de coleta seletiva nos municípios também cresceu, passando de 5% para 26%.

Parte do material volta à cadeia produtiva da Danone na forma de embalagens recicladas de plástico e papelão. Ainda de acordo com a empresa, a reciclagem de embalagens próprias chega a 23 mil toneladas por ano. O montante representa 40% do peso equivalente de toda a produção da empresa, detalha o executivo. "É um percentual bem acima da meta de 22% da Política Nacional de Resíduos Sólidos." Para este ano, a expectativa é de atingir 59% de embalagens recuperadas até dezembro e 100% até 2019. "Vamos expandir o programa e integrar mais redes de cooperativas."

Na fabricante de embalagens Bemis o programa de coleta seletiva reciclou mais de duas mil toneladas de resíduos de papel, papelão, plásticos e madeira em 2015. A renda gerada com a venda dos materiais somou 300 mil reais e foi destinada a entidades sem fins lucrativos, explica Teddy Lalande, gerente de sustentabilidade da Bemis para a América Latina.

"O programa garante a correta separação e venda dos resíduos recicláveis, o que facilita a gestão ambiental e diminui o volume de resíduos jogados em aterros." O projeto também foi inscrito no Prêmio ECO 2016. Ainda segundo a Bemis, já foram reciclados mais de 15 mil toneladas e investidos mais de 2,4 milhões de reais em projetos sociais desde o início do programa.

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O mercado de reciclagem também vem sendo explorado pela startup Triciclo desde 2015. Nas 17 máquinas de coletas em supermercados e estações de metrô em São Paulo, o usuário deposita suas embalagens usadas e outros materiais recicláveis e recebe créditos financeiros para usar na compra de bilhetes de transporte, abater o valor na conta de energia ou converter em créditos para a aquisição de produtos.

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"Conseguimos oferecer retorno de marca e benefícios sociais ao mesmo tempo", afirma Felipe Cury, sócio do Triciclo. A empresa é certificada pelo Sistema B, de benefícios socioambientais, por seu modelo de negócios baseado em inclusão social. Neste ano, o Sistema B fechou parceria com o Prêmio ECO para que uma empresa B recebesse o troféu depois de escolha por voto popular.

Através de sensores nas máquinas, dá para saber quando elas estão cheias e qual o momento ideal para recolher as embalagens. Desde setembro do ano passado, a Triciclo recolheu 484 mil embalagens em seus pontos de coleta, distribuídos em 5,8 toneladas de plástico PET e 1,7 tonelada de alumínio. Esse volume possibilitou a conversão de quase seis mil reais em passagens de ônibus coletivo, 3,7 mil reais em abatimento na conta de energia, revela Cury.

O sucesso do negócio faz com que a Triciclo pense em aumentar os pontos de coleta em locais onde há grande movimentação de gente, como igrejas e estabelecimentos públicos e privados. "Estamos conversando com patrocinadores para viabilizar a ideia", conclui o sócio da Triciclo.

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