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Investimento pessoal, mercado financeiro e macroeconomia.

R$ 3,60: esse pode ser o novo piso do dólar para o Banco Central!

O Banco Central levou hoje (21/03) a leilão um produto chamado Swap Cambial Reverso. Vamos explicar por que o BC resolveu recorrer a esse produto, que não era utilizado desde 2013, e qual é a mensagem que a autoridade monetária quer passar ao mercado com essa decisão.

Por Alexandre Cabral
Atualização:

 

Filosofando sobre o Banco Central

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O Banco Central de qualquer país do mundo tem várias funções. Uma delas, que não possui manual, é mostrar ao mercado como a autoridade monetária pensa.

- Gerar ou tirar expectativa: nem sempre o Banco Central precisa partir para a ação, para que fique clara a sua intenção. Às vezes, uma simples declaração pública já atinge o objetivo de mexer com as expectativas do mercado. Em 24 de setembro de 2015, no auge da desvalorização do real (US$ 1,00 = R$ 4,25), o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, veio a público dizer que "Banco Central e Tesouro Nacional têm instrumentos adequados para conter as turbulências do mercado". Essa frase "tirou expectativa" do mercado, principalmente inibindo a aposta na desvalorização do real. Muitas vezes, o simples fato de o BC dizer que "está vivo" já segura a voracidade do especulador. Afinal, deve ser briga ruim peitar uma instituição que tem mais de US$ 370 bilhões em caixa e que pode vender, se achar necessário.

E hoje? Hoje, com o real se fortalecendo, nós temos o Banco Central como "gerador de expectativa". Antes de eu detalhar melhor o meu pensamento, vou explicar algumas coisas.

 

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Uma introdução, para facilitar a leitura

Valorização do real frente ao dólar: foi de 13,84% no período entre 24 de setembro de 2015 e 18 de março de 2016; 7,43% no ano de 2016; e 9,17% só no mês de março.

Vencimento do Swap Cambial Reverso do leilão do dia 21 de março: 01 de julho de 2016.

 

Agora, preciso falar um pouco mais sobre o produto Swap Cambial, que tem duas modalidades: Tradicional e Reverso

Muito utilizado hoje em dia, o Swap Cambial Tradicional foi lançado pelo Banco Central há mais de 10 anos. Funciona assim:

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Ao adquirir o Swap Cambial, o Banco A:

1) APLICA na variação do dólar, mais uma taxa de juros ao ano - portanto, fica ATIVO na variação da moeda americana;

2) DEVE ao Banco Central pela taxa Selic - portanto, fica PASSIVO na variação da nossa taxa básica de juros.

Já o BC fica na posição contrária: ATIVO em variação da Selic e PASSIVO em variação do dólar.

Se a variação da moeda americana (1) for maior que a da Selic (2), o banco "A" ganha dinheiro, já que foi remunerado por um montante superior ao valor que teve que pagar.

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O produto agradou aos bancos, que passaram a receber a variação do dólar, sem precisar ficar com a moeda americana em mãos. O raciocínio então é o seguinte: se os bancos acreditam que o real vai desvalorizar frente ao dólar, investem em Swap Cambial Tradicional. Se a moeda brasileira de fato perder valor, esses bancos terão ganhos. Mas, se o real se valorizar, terão perdas e quem ganhará será o Banco Central, que está na outra ponta da operação, em posição contrária.

 

O que foi leiloado no dia 21 de março

É um produto conhecido como Swap Cambial Reverso, que funciona exatamente de maneira inversa ao Swap Cambial Tradicional.

Ao adquirir o Swap Cambial Reverso, o Banco A:

1) APLICA pela taxa Selic - portanto, fica ATIVO na variação da nossa taxa básica de juros;

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2) DEVE ao Banco Central a variação do dólar, mais uma taxa de juros ao ano - portanto, fica PASSIVO na variação da moeda americana.

Já o BC fica na posição contrária: ATIVO em variação cambial e PASSIVO em taxa Selic.

Se a variação da taxa Selic (1) for maior que a variação do dólar (2), o banco "A" ganha dinheiro, já que foi remunerado por um montante superior ao valor que teve que pagar. Portanto, essa operação é feita por quem acredita na queda do dólar, caso contrário, se achasse que o dólar subiria mais que a Selic, faria o Swap Cambial Tradicional, ficando ativo em variação cambial e passivo na taxa básica de juros.

Resumindo - ao adquirir o Swap Cambial Tradicional, os bancos acreditam que o real irá se desvalorizar frente à moeda americana. Ao contratar o Swap Cambial Reverso, os bancos têm expectativa que nossa moeda se valorize em relação ao dólar.

Só que aqui está um detalhe importante: se o banco possui essas duas operações na carteira para o mesmo vencimento, na verdade ele não tem nada, porque o ganho de uma operação zera o resultado positivo da outra, já que são operações exatamente inversas. Nessa situação, o banco fica, ao mesmo tempo, aplicado em dólar e devedor em dólar! Nesse cenário, o dólar pode ir para qualquer lado, que nada ocorre com o banco. Devido ao modo de como ele é registrado na bolsa, na prática o estoque será de zero no final do leilão para esse banco - para quem tinha o Tradicional e fez o Reverso hoje.

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O que me leva a concluir que, ao leiloar o Swap Cambial Reverso, o Banco Central está fazendo com que DIMINUA a posição aplicada em dólar dos bancos.

O saldo das aplicações em Swap Cambial em 18/03/16 era de US$ 108,113 bilhões. E o leilão do dia 21 representava US$ 1,0 bilhão.

 

Vamos para uma sequencia lógica:

O banco A acredita na desvalorização do real => Adquire o produto Swap Cambial Tradicional => O real começa a se valorizar devido a questões políticas, só que de uma forma muito rápida (9,17% só em março) => O Banco Central atua para tirar o Swap Cambial Tradicional do mercado (lançando o Reverso) => O banco A, ao zerar ou diminuir a posição via aquisição de Swap Reverso, perde o produto que dá a ele a garantia do rendimento do dólar => Solução: o banco A se vê obrigado a comprar dólar, se quiser apostar na desvalorização do real => Portanto, surgem compradores novos segurando a queda da moeda americana.

Por isso que digo que o Banco Central está trabalhando de maneira informal com um piso para o dólar que, nesse momento, é algo próximo de R$ 3,60.

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Por que será que o Banco Central está criando esse piso?

Banco Central também lê jornal. No atual momento, deve estar lendo com especial atenção a parte política do jornal. E deve estar pensando:

O real vem se valorizando frente ao dólar nesses últimos dias e o motivo dessa valorização é político e não econômico => Se eu, BC, deixar isso continuar a acontecer, podemos ver o real ganhar cada vez mais força => Se por acaso a Dilma perder o mandato, existe uma chance considerável do real se valorizar mais ainda (já que um dos motivos pelos quais o investidor estrangeiro não aplica atualmente no Brasil é a falta de confiança gerada pela instabilidade política/econômica) => Se eu deixar que o real se valorize muito antes do impeachment, quando de fato ocorrer o afastamento da presidente podemos ter uma valorização grande e rápida, atrapalhando a economia real. Parem para pensar em como deve estar a cabeça dos importadores e exportadores com essa volatilidade (o dólar estava a R$ 4,24 em setembro e hoje vale R$ 3,60) => Já sei o que fazer: vou começar a tirar do mercado, aos poucos, o produto que dá rendimento em dólar => Se eu tirar esse produto, os bancos serão obrigados a comprar o dólar => Posso estar criando uma base informal nesse mercado. Se a Dilma cair, iremos partir de um dólar mais alto, fazendo com que a economia real sinta menos.

 

Outro detalhe importante

Em abril, vencem US$ 3,8 bilhões de Swap Cambial Tradicional e o Banco Central anunciou na sexta (18/03) que vai diminuir a rolagem. O que isso quer dizer? Que, se todo mundo que tem posição hoje, quiser comprar, não vai conseguir, pois o BC só vai vender uma parte do que está vencendo. Mais uma estratégia para segurar a valorização do real.

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Olhando o calendário do Swap

O Banco Central está diminuindo a rolagem para abril e, ao mesmo tempo, está começando a diminuir o estoque para julho (leilão de hoje). Na hora em que fizer a rolagem para julho, será de uma quantidade menor do que tem hoje.

 

Resultado do Leilão

Quando eu estava concluindo este texto, saiu o resultado do leilão. O Banco Central vendeu apenas 27,5% do volume financeiro que tinha em mente para vender (US$ 1 bilhão) e que representa menos de 1% do total de posição na mão do mercado financeiro.

O que podemos ter por trás desse resultado: o mercado está com medo que o processo de impeachment demore muito, com várias tramitações entre Congresso e STF, gerando uma incerteza cada vez maior no mercado de câmbio. Aí os bancos pensam: "por que eu vou zerar uma operação que está me dando variação cambial? Vai que o processo da saída da Dilma empaca e o real desvaloriza tudo novamente. Prefiro ficar com o meu produto aqui quietinho na carteira".

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Conclusão

Para mim, o Banco Central deu claramente um recado: "se o dólar bater na casa de R$ 3,60, eu vou entrar no mercado, com o objetivo de segurar essa valorização". Temos aqui, portanto, um piso informal do dólar - que pode ser rompido a qualquer hora, mas que, neste momento, é o número com o qual o BC trabalha.

O Banco Central, como fez em setembro de 2015, está falando ao mercado: "Pessoal, se vocês ficarem apostando a favor da valorização do real frente ao dólar e fizerem isso muito rápido, eu atuo". Se tivermos fluxo, não tem milagre e aí esse piso abaixa.

Então, fazer o Swap Cambial Reverso tem como objetivo zerar posição de quem possui o Swap Cambial Tradicional, já que são pontas exatamente opostas. Vi muita gente falando que hoje (21 de março) o dólar ia DISPARAR devido a esse leilão. Mas o Banco Central está zerando posição velha e não abrindo posição nova. Fora que o montante oferecido em leilão representa apenas cerca de 1% da posição em aberto. Na verdade, o BC pode estar testando como o mercado reage à diminuição do Swap Cambial Tradicional. Vamos acompanhar com carinho os próximos passos do BC!

 

Complemento

Agora à noite, antes de eu postar este texto no site do Estadão, o Banco Central anunciou que vai leiloar amanhã (22/03) US$ 725 milhões em Swap Cambial Reverso com vencimento em julho de 2016, igual ao de hoje (21/03). Só muda um detalhe: o que foi feito hoje (21/03) só vai liquidar em 01/04, enquanto o que vai ser feito amanhã (22/03) terá liquidação no dia 23/03. Assim, veremos uma pressão maior em cima do dólar neste final do mês, por dois motivos:

01) Pela retirada do Swap Tradicional do mercado, como já explicado neste artigo;

02) Pelo fato novo de a liquidação ocorrer ainda no mês de março. Vamos lembrar que a operação nova (em Swap Reverso) anula a antiga (em Swap Tradicional). E, na antiga, os bancos estão ativos em variação cambial - portanto, quanto maior o dólar, maior o lucro. Assim, os bancos vão querer zerar posição no Swap Tradicional contra o Banco Central com dólar alto, para poder ganhar dinheiro. Provavelmente o dólar ficará pressionado nos próximos dias, não obrigatoriamente DISPARAR. Vamos acompanhar.

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