O veículo Atlantis, uma nave idêntica àquela que vi decolar há 30 anos e três meses, no dia 12 de abril de 1981, está preparado não apenas para iniciar sua última viagem, mas para cumprir a derradeira missão de um ônibus espacial. A nave começa a deslocar-se para se posicionar na plataforma de lançamento 39A. A contagem regressiva deverá começar à 1 hora da tarde de terça-feira, 5 de julho de 2011. A decolagem deverá ocorrer no dia 8. A Nasa não prevê nenhum problema que possa atrasar esse lançamento, o STS 135. Mas, é claro, poderá ainda ocorrer algum problema.
A nave Atlantis já na plataforma 39A para sua última viagem ao espaço (Foto NASA)
Com o lançamento da Atlantis, encerra-se a era dos ônibus espaciais, iniciada há três décadas, com o lançamento da Columbia. Esses veículos reutilizáveis prestaram, na realidade, 30 anos de bons serviços à humanidade, para o transporte de astronautas, de satélites, do telescópio Hubble, das peças e partes destinadas à construção da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla de International Space Station) e muitas outras atividades de pesquisa científica. Foram 30 anos de transporte espacial.
Quando vejo a última dessas naves preparada para o voo, agora, pelos olhos da internet - que são, também, meus canais especiais de comunicação do século 21 - confesso que sinto uma razoável emoção como ser humano. O trabalho jornalístico, aliás, me tem permitido acompanhar de perto, desde os anos 1970, esse projeto que a Nasa batizou com o nome de Sistema de Transporte Espacial (STS, sigla de Space Transportation System). O STS é baseado, principalmente, no o veículo reutilizável Space Shuttle, que, no Brasil, chamamos de ônibus espacial.
Mas, que é shuttle? O primeiro significado dessa palavra inglesa é, na realidade, lançadeira, aquela peça fundamental do tear que vai e vem, e lança o fio transversal que compõe a trama, que, por sua vez, vai formar o tecido com os fios longitudinais da urdidura ou urdume. Em Portugal, space shuttle foi traduzido por lançadeira espacial. Na França, por navette spatiale. Na Espanha, por transbordador STS. Noutros países, como Itália e Alemanha é a mesma expressão inglesa: space shuttle, bem como na Rússia, (????? ?????) e no Japão (????????).
O primeiro voo livre e pouso de uma nave dessas ocorreram em 1976, na pista da Base de Edwards, no Deserto de Mojave, na Califórnia. Um protótipo do ônibus espacial, transportado no topo da cabine (cockpit) de um Jumbo (Boeing 747), se desprendia do avião a 7 mil metros de altitude, para os primeiros testes de voo atmosférico livre, planado, seguido de aterrissagem na imensa pista natural do fundo de um lago seco naquela base.
Após os testes, os especialistas da Nasa reuniam os jornalistas e mostravam o ônibus espacial por dentro e por fora, enfatizando sempre: "este é o primeiro veículo espacial reutilizável" da história. Só os grandes tanques externos de hidrogênio e oxigênio se perdiam. Até os foguetes auxiliares de combustível sólido caiam de paraquedas no mar e eram recuperados. Já era, convenhamos, alguma forma de consciência ecológica.
Longa jornada
Em abril de 1981, no Cabo Canaveral, uma multidão de jornalistas e especialistas de todo o mundo acompanhava o lançamento da nave Columbia, inaugurando a era dos ônibus espaciais, que continuou com os Challenger, Discovery, Atlantis e Endeavour.
Muito mais do que tecnologias avançadas, a decolagem de um ônibus espacial exigia uma tremenda força bruta dos foguetes e turbinas desse extraordinário veículo.
A equipe de astronautas que vai fazer esta última viagem de um ônibus espacial deve chegar ao Centro Espacial Johnson às 2:45 da tarde desta segunda-feira, 4 de julho, dia da independência dos Estados Unidos. Se você quiser ver o lançamento ao vivo, acompanhe pela internet (www.nasa.gov/ntv).
Quarta nave especial da série de ônibus espaciais construídos pela Nasa, o Atlantis é também conhecido internamente na agência espacial como Orbiter Vehicle-104 ou OV-104. Sua construção começou no dia 30 de março de 1980 e sua montagem foi concluída nas instalações de Palmdale, na Califórnia, em março de 1985. Seu primeiro lançamento ocorreu no dia 3 de outubro de 1985.
Por que o nome Atlantis? Essa denominação do ônibus espacial foi dada em homenagem a um navio do mesmo nome, de dois mastros, que serviu como barco de pesquisa para o Instituto Oceanográfico Woods Hole de Massachusetts, de 1930 a 1966. Com uma tripulação de 17 pessoas, o barco ainda levava até cinco cientistas que trabalhavam nos laboratórios a bordo da embarcação, encarregados de pesquisas sobre a vida marinha.
O Atlantis voou 32 vezes até agora. Entre suas mais importantes missões, lançou no voo STS 30 a primeira sonda Magalhães (Magellan, em inglês), que viajou para Marte e levou para aquele planeta um radar e uma antena de rádio, no dia 4 de maio de 1989. Nunca até então um ônibus espacial havia lançado nenhuma uma sonda espacial. No voo STS 34 lançou a sonda Galileo, para Júpiter. Na missão STS 37, lançou o Observatório Compton de Raios Gama. Na STS 71, iniciou a série de sete missões que estabeleceu a ligação com a estação espacial russa Mir, com a qual se acoplou formando a maior nave espacial da época.
No voo STS 98, ajudou a montar a Estação Espacial Internacional e, na STS 125, participou da missão final de serviço do telescópio espacial Hubble.
Em seus 32 voos, o Atlantis completou a distância total voada de 194,127 milhões quilômetros, num tempo total de 293 dias, 18 horas, 29 minutos e 37 segundos no espaço. A nave completou 4.648 órbitas em torno da Terra, lançou 14 satélites e fez 11 viagens à ISS.
Bela folha de trabalho, não? Acompanhe, também, o último voo do Atlantis nestes próximos dias. Faça o mesmo pela internet (repetindo: www.nasa.gov/ntv).
