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Berlim, IFA, rádio e Google

Ao proferir palestra de encerramento da IFA (maior exposição de eletrônica de entretenimento do mundo), em Berlim, o presidente (CEO) do Google antecipou diversos novos avanços e serviços a serem postos à disposição dos usuários e debate as tendências da internet.

Por Ethevaldo Siqueira
Atualização:

Coluna do Estadão de domingo, 12 de setembro de 2010

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De Berlim

Berlim me encanta. A história do século 20 está presente nesta cidade, nas Portas de Brandenburgo, no Reichstag, no bulevar Kurfürsterdamm, na divina Filarmônica ou na Potsdamer Platz, cujo memorial nos que relembra o drama do muro que dividiu Berlim de 1961 a 1989. Cada um desses pontos tem sua significação especial e nos faz refletir sobre a história, a guerra, a paz e a cultura alemãs.

Desta vez, não pude curtir essas belezas, nem passear em seu imenso bosque central, o Tiergarten, porque só fiquei aqui para ver a edição número 50 da IFA, hoje a maior exposição de eletrônica de entretenimento do mundo e cuja sigla, em alemão, significa Exposição Internacional de Rádio. Mas o trabalho compensou, pois participei de seminários históricos e relembrei o depoimento de um dos maiores cientistas sobre os primeiros tempos do rádio. Eis um trecho: 

"Quando você ouvir rádio, pense também no significado de tantas pessoas possuírem um instrumento de comunicação tão maravilhoso quanto esse. Lembre-se ainda que são os engenheiros que tornam possível a verdadeira democracia, ao colocar as obras do pensamento humano ao alcance de todos nós e por despertar as nações de sua letargia. O rádio tem, a meu ver, uma tarefa especial a cumprir, no tocante à reconciliação internacional. Ele revela as nações umas às outras, da forma mais viva. Assim, pode contribuir para o fim de ressentimentos e distanciamentos que tão frequentemente se transformam em desconfiança e hostilidade".

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O autor dessas palavras era ninguém mais que Albert Einstein, que fez o discurso de abertura da IFA 1930, quando o rádio ainda despertava espanto como inovação tecnológica. O gênio da física não apenas falava com entusiasmo da tecnologia mais nova de seu tempo, mas, com seu idealismo, ressaltava o aspecto essencial das comunicações sem fio: a capacidade de conectar pessoas e, de muitas formas, promover a democracia e a aproximação dos povos. Pena que a realidade não concretizou seus sonhos. Não por culpa do rádio.

Esta edição número 50 da IFA, além de me permitir conhecer um discurso raro de Einstein, me deu a oportunidade de assistir a uma palestra memorável, de Eric Schmidt, presidente executivo (CEO) do Google, e que antecipou a uma plateia de 500 pessoas algumas das inovações que estão no forno ou em fase de lançamento por sua empresa. Para ele, exatamente como fazia o rádio pioneiramente há 80 anos, o Google também conecta pessoas e abre-lhes o mundo via internet.

Celular e web

Além de sua paixão pessoal pelo Android, o sistema operacional aberto e gratuito para celulares criado pelo Google, Eric Schmidt aposta todo o futuro de sua empresa no casamento entre a internet e o smartphone. E dá um número impressionante: "a cada dia são ativados mais de 200 mil celulares que rodam o Android e seus aplicativos".

E, sem nenhum constrangimento, faz diversas referências elogiosas ao potencial do iPhone, para rodar os mais sofisticados aplicativos Google: "Nesse ritmo, a internet poderá, em breve, distribuir informação via smartphones a três ou quatro bilhões de pessoas. E não apenas a uma elite".

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No palco, uma dupla demonstrou a possibilidade de diálogo entre um berlinense que só falava alemão e um visitante que só falava inglês, ao conversarem por meio de smartphones, com apoio do novo sistema de tradução automática do Google. O próprio Eric Schmidt revelou sua experiência como turista em Berlim, diante da Catedral Católica da cidade. "Em segundos, fiquei sabendo tudo sobre aquela igreja, bem como sobre o Museu Alemão de Tecnologia (Deutsches Technikmuseum)" - contou.

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Apaixonado pelo smartphone, ele não se cansa de promover o Android. E promete novidades que vão nos deixar ainda mais espantados, com avanços que mais parecem mágicos.

Para Schmidt, o celular e, em especial, os smartphones se transformam progressivamente em terminais de supercomputadores. Como se sabe, o Google armazena mais de um trilhão de páginas em imensos supercomputadores espalhados pelo mundo. Todo esse conteúdo estará disponível gratuitamente para cada usuário que acessar os novos serviços. Os smartphones - e, em especial, o iPhone - se tornam o terminal ideal para acesso a esses supercomputadores.

Em sua previsão, tudo que parecia apenas ficção há poucos anos será realidade em menos de uma década. Assim, em breve teremos avanços como a busca de informação por comando de voz para os celulares, recurso, aliás, demonstrado no palco por um jovem diretor do Google.

Um dos avanços que está sendo ainda mais aprimorado - e que tem despertado muita polêmica - é a visão das ruas (street-view) pelo Android. Imagine a quase totalidade das cidades do mundo sendo mostrada - online e off-line - nos mais diversos ângulos por esse recurso do Google.

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Eric Schmidt antecipa que o Android poderá ser acoplado à GoogleTV, que funde a televisão com a internet e com ferramentas de busca, e que deverá será lançada ainda neste segundo semestre nos Estados Unidos. E, logo em seguida, em todo o mundo.

E o anúncio surpreendente: em breve poderemos usar os smartphones turbinados pelo Android e o próprio iPhone da Apple como dispositivos de controle remoto para a GoogleTV.

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