Desafios das comunicações

Numa época de mudanças tecnológicas aceleradas, o maior desafio para as comunicações é o da regulação. Essa é opinião de Ben Verwayeen, presidente executivo da Alcatel-Lucent, que já foi presidente da British Telecom.

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Por Ethevaldo Siqueira
Atualização:

Coluna do Estadão, de domingo, 22 de maio de 2011

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Para as comunicações, o maior problema futuro talvez seja a adequação da lei e da regulação, pois legisladores e reguladores parecem não compreender corretamente nem no tempo certo as profundas mudanças ocorridas na tecnologia nos últimos anos, em especial aquelas decorrentes da expansão da internet em escala planetária.

Poucos especialistas conhecem tão bem esse desafio quanto Ben Verwaayen, ex-presidente da British Telecom e atual presidente executivo ou CEO (chief executive officer) da Alcatel-Lucent. Por sua experiência na indústria e numa das maiores operadoras europeias, tem uma visão ao mesmo tempo clara e didática do problema. Eis a seguir alguns dos pontos mais significativos da entrevista que esse executivo concedeu ao Estado sobre o tema em sua recente visita Brasil.

Para Verwaayen, o primeiro grande aspecto desse desafio é a diversidade de infraestruturas nas áreas de telefonia (redes fixas), comunicação sem fio (redes móveis) e internet, com seu protocolo dominante (IP). Embora se apoiem em infraestruturas diferentes e tenham conteúdos diferentes, essas três formas de telecomunicações convergem cada vez mais.

Novo cenário

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Vejamos o que ocorre em cada área. Na radiodifusão tradicional ou nos serviços de TV por assinatura, o destinatário está em casa ou no carro, como simples receptor da comunicação de voz, vídeo, áudio ou música. Na telefonia fixa, o usuário está em casa ou no escritório, e comunica-se basicamente por meio de voz e dados. Com as comunicações móveis, o usuário está em movimento e passa a utilizar a internet com seus laptops, netbooks, iPods, smartphones, iPads ou tablets. Eis aí a grande revolução: o usuário móvel pode receber praticamente quaisquer conteúdos - voz, dados, imagens e até conteúdos de jornais, revistas, rádio e TV.

Na visão de Ben Verwaayen, a grande revolução veio com a internet. Sua infraestrutura é diferente. Seu conteúdo é diferente, porque é o mais variado possível. E o protocolo IP integra tudo: livro, jornal, revista, rádio e televisão.

Por isso, prevê, a TV do futuro será a IPTV. Hoje, já temos a TV conectada, com acesso crescente à internet. Esse processo é irreversível, não tem volta, só se intensifica. É claro que os radiodifusores resistem, protestam e opõem-se às mudanças de regras que os órgãos reguladores são obrigados a fazer. Essa resistência existe, também, nos jornais mais conservadores. "É claro que, para essas mídias tradicionais, o novo desafio é o modelo de negócios. A maioria dos veículos busca resposta a esta pergunta: como viabilizar a publicidade na internet?"

Ben Verwaayen preocupa-se, de forma especial, com o papel das agências reguladoras e dos legisladores: "O regulador precisa ver o lado do usuário. E é bom destacar um aspecto fundamental: os que mais precisam de atenção não são os mais velhos, cujos hábitos terão de ser adaptados aos novos tempos, mas os adolescentes e os adultos mais jovens, que já nasceram nesse novo ambiente digital. É para eles que o regulador precisa preparar os serviços e toda a evolução, pois são os jovens que irão viver nesse novo mundo das comunicações móveis, em banda larga, com interatividade crescente".

Cocriação

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O presidente da Alcatel-Lucent fala com entusiasmo sobre o futuro da comunicação móvel, com os avanços recentes na área das estações radiobase, hoje em processo de mudança tecnológica acelerada, em particular com a miniaturização extrema dos equipamentos. O melhor exemplo é o LightRadio, pequeno cubo de apenas alguns centímetros que poderá substituir as enormes estações radiobase (ERBs), com enorme redução de custos de investimento e de consumo de energia.

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Em quanto tempo deverá ocorrer a migração das ERBs tradicionais para essa tecnologia? Ben Verwaayen é realista: "Não esperamos que o mundo vá migrar de repente ou em alguns meses para a nova tecnologia. É mais lógico esperar uma longa transição, com um trabalho conjunto entre fabricantes e operadores, no processo que podemos chamar de cocriação".

Eis aí uma palavra que seduz os especialistas que olham para o futuro: cocriação. Para Ben Verwaayen, ela é a que melhor representa o momento que vivemos nas tecnologias da informação e da comunicação. "A cada dia que passa, temos de trabalhar mais próximos do cliente, do usuário ou do consumidor. É com eles que devemos dialogar e pensar juntos, para cocriar. É o que estamos fazendo, em diversos lugares, a começar da China, analisando os resultados e ouvindo sugestões das operadoras, nossas clientes."

Banda larga

No final desta década, por volta de 2020, há expectativa de uma demanda gigantesca de banda de frequências, quando o mundo deverá estar utilizando cerca de 50 bilhões ou 60 bilhões de dispositivos de comunicação móvel. Para Ben Verwaayen, esse é mais um entre os grandes desafios que o mundo terá de enfrentar. Esses bilhões de dispositivos móveis atuarão na comunicação tanto homem-homem quanto homem-máquina e máquina-máquina.

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A maior importância dessas novas formas de comunicação serão aquelas ligadas diretamente ao ser humano, como no uso de sensores, que poderão enviar um comando da estrada para o veículo e evitar um erro humano e um desastre de sérias consequências.

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