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Show de 160 milhões de anos

A grande notícia que a NASA divulgou nesta segunda-feira (9) foi a comprovação de como é formado o casulo da supernova (Supernova cocoon). A explosão da supernova observada (a SN 2010jl) ocorreu há 160 milhões de anos, na galáxia UGC 5189A.

Por Ethevaldo Siqueira
Atualização:

 Foto: Estadão

 

São duas notícias incríveis, quase de ficção. A primeira delas por referir-se a um fato ocorrido há 160 milhões de anos e só agora se transformar em notícia. A segunda notícia porque nunca dois fenômenos sequenciais haviam sido testemunhados por astrônomos - o nascimento da supernova seguido da formação de um gigantesco casulo de névoa em torno dela. É o chamado casulo de supernova ou, em inglês, supernova cocoon.

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E mais um detalhe relacionado ao tempo e à distância do acontecimento. A supernova, denominada SN 2010jl, está situada a 160 milhões de anos-luz de nós, na galáxia UGC 5189A. Como cada ano-luz equivale a cerca de 9 trilhões de quilômetros, o casulo da supernova está situado a 2,25 quintilhões de quilômetros da Terra (número que se escreve assim: 2,25 seguido de 19 zeros).

A NASA considera o fenômeno um verdadeiro breakthrough, palavra inglesa, sem equivalente em português, que quer dizer aproximadamente "novidade ou descoberta de impacto que pode mudar nossa visão de um assunto ou problema".

A notícia de impacto divulgada nesta segunda-feira (9 de julho) explica que os pesquisadores obtiveram as primeiras imagens em raios-X feitas pelo Observatório Chandra de Raios-X da NASA, com a grande novidade: as evidências de que o casulo que envolve a estrela que explodiu é formado por uma onda de choque da supernova. Essa descoberta pode ajudar os astrônomos a entender porque algumas supernovas são muito mais poderosas do que outras.

A supernova UGC 5189A foi descoberta em 3 de novembro de 2010. Utilizando dados anteriores obtidos pelo Telescópio de Procura Automática em Todo o Céu (All Sky Automated Survey), localizado no Havaí, os astrônomos comprovaram que a supernova havia explodido no começo de outubro de 2010 (na realidade, há 160 milhões de anos).

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Uma equipe de pesquisadores utilizou o Observatório Chandra para acompanhar a evolução da supernova em dezembro de 2010 e, novamente, em outubro de 2011.

A imagem composta (foto da NASA) associa os dados de raios-X do Observatório Chandra (em cor púrpura) com dados óticos do telescópio espacial Hubble, em vermelho, verde e azul. A SN 2010jl apresenta um dos brilhos mais intenso de fonte de raio-X, que pode ser observado no topo da supernova.

O fato extraordinário em toda a experiência foi a raríssima possibilidade que os astrônomos tiveram de observar as várias etapas de formação do casulo em torno da supernova. Na primeira explosão da supernova a onda de choque foi praticamente absorvida pelo casulo que circunda a estrela morta. Esse envoltório resulta de gás lançado para fora da estrela gigantesca antes da explosão.

Na segunda observação, quase um ano depois, há muito menos absorção de emissão de raio-X, indicando que a onda da explosão se desintegra em volta do casul.

Os dados do Chandra mostram que o gás que emite raios-X tem uma temperatura muito alta - maior do que 100 milhões de graus Kelvin - uma evidência muito forte de que ele foi aquecido pela onda da explosão da supernova.

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Num raro exemplo de coincidência cósmica, a análise dos raios-X da supernova mostra que existe uma segunda fonte não relacionada situada quase na mesma localização da supernova.

Essas duas fontes se sobrepõem uma sobre a outra, ao serem observadas no céu. A segunda se comporta como uma fonte ultra luminosa de raios-X, contendo possivelmente um buraco negro de massa estelar extremamente pesada ou um buraco negro de massa intermediária.

A foto da NASA aqui publicada tem os seguintes autores: a parte de raios-X é da NASA/Royal Military College of Canada/P.Chandra et al; a parte óptica é da NASA/STScI.

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