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Nossa TV da válvula à HD

A mudança tecnológica na TV brasileira ao longo de 60 anos foi impressionante. Reveja aqui alguns momentos decisivos dessas transformações.

Por Ethevaldo Siqueira
Atualização:

Coluna do Estadão de domingo, 26-09-2010

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Pare um minuto, leitor, para pensar na evolução tecnológica da TV brasileira ao longo das últimas seis décadas. É impressionante. Façamos um retrospecto e voltemos 60 anos no tempo, para rever o que era o estúdio da TV Tupi de São Paulo na noite de 18 de setembro de 1950, data do nascimento da TV no País.

A eletrônica de 1950 era inteiramente analógica, baseada nas antigas válvulas a vácuo triodo. Para a primeira noite, só existiam duas câmeras, das três que a TV Tupi havia importado. Na véspera, por azar, uma delas sofreu um curto-circuito. As duas restantes têm, portanto, que dar conta do recado.

E tudo tinha que ser feito ao vivo: locução de notícias, anúncios comerciais, números musicais, teatro ou novela. A parte técnica está a cargo dos engenheiros Jorge Edo e Mário Alderighi, pioneiros dessa especialidade no País.

Nessa noite, a supervisão de todos os trabalhos deveria estar a cargo do engenheiro norte-americano Obermiller, que, no entanto, por algum motivo de saúde, desapareceu horas antes da inauguração da emissora. Diante do desafio inesperado, armado apenas com a disposição e a criatividade do jeitinho brasileiro, Jorge Edo assumiu a responsabilidade de por a emissora no ar. E os resultados foram os melhores possíveis para aquelas circunstâncias.

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Vale lembrar que, num estúdio apinhado de gente, sob o calor insuportável dos holofotes, às 8 da noite, a locutora Yara Lins anuncia, solenemente:

"Senhoras e senhores telespectadores, diretamente do Alto do Sumaré, em São Paulo, Brasil, as Emissoras Associadas do País apresentam, através de sua emissora de televisão PRF-3 TV, canal 3, neste instante, e com muito orgulho, o primeiro programa de televisão da América Latina." 

Quem estava lá

Nessa primeira noite, estavam figuras tão populares e conhecidas quanto Lima Duarte, Hebe Camargo e Lolita Rodrigues, além de outros que já se foram, como Walter Forster, repórter político Maurício Loureiro Gama, os locutores Homero Silva e Aurélio Campos, os cantores Ivon Cury e Wilma Bentivegna e o frade-tenor José Mojica.

Na Cidade de São Paulo, apenas 2 mil receptores estão em condições de mostrar essa inauguração - mil dos quais haviam sido importados e distribuídos por Assis Chateaubriand.

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O engenheiro Jorge Edo, hoje com 82 anos, recorda-se com alegria e entusiasmo dos primeiros tempos da TV brasileiro. Eu o conheci nos anos 1970, quando trabalhava na indústria Maxwell. A primeira guerra vencida por Edo foi levar a imagem da TV para Santos. Depois, para Campinas e Ribeirão Preto. Mesmo dez anos depois, a TV brasileira ainda exigia trabalho quase heroico, como no caso da retransmissão das imagens da inauguração de Brasília, feita com auxílio de três links, montados em aviões DC-3.

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A TV, no entanto, era um fenômeno essencialmente local, até os anos 1950 e 1960. A primeira transmissão de uma partida de futebol do Rio para São Paulo foi realizada de forma também heroica, em 1956, com a montagem de dezenas de torres retransmissoras sobre morros da Serra do Mar e da Mantiqueira.

Aliás, 1956 é também o ano do nascimento do videotape, que vai mudar o jeito de se fazer TV. Imaginem o desafio que era fazer tudo ao vivo, inclusive teatro ou telenovela.

A inauguração da TV Tupi em 1950 é a primeira de uma série de emissoras que nascem no País. Logo virão outras redes, passando sucessivamente pela hegemonia das Emissoras Associadas de Chateaubriand, da TV Record e, por último, da TV Globo.

A indústria brasileira responde ao desafio de produzir televisores de qualidade aceitável, para a época, com a ABC, Semp, Empire, Invictus, Admiral, Teleking, Emerson e Iguaçu, além de nomes internacionais como Philco, Telefunken, Stromberg-Carlson, RCA e Philips. 

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Três revoluções 

Os maiores saltos da TV brasileira estão ligados diretamente a três avanços: às telecomunicações de longa distância Embratel, em 1969, à TV em cores em 1972 e à TV digital, em 2007.

O ano de 1969 é dos mais significativos, pois é o da conclusão do Sistema Básico da Embratel, com a interligação de todas as unidades da Federação por troncos de micro-ondas de alta capacidade (inclusive a estação terrestre de Tanguá, de comunicação mundial via satélite), a chegada do homem à Lua (20 de julho). Em consequência, há condições para o lançamento do Jornal Nacional (1º de setembro), pela Rede Globo, primeiro telejornal em rede de cobertura nacional.

Em 1970, a população brasileira assiste pela primeira vez a uma Copa do Copa do Mundo de Futebol, ao vivo, em transmissão direta, via satélite em sua TV. O impacto na opinião pública foi impressionante, até porque a seleção brasileira conquistou o campeonato mundial pela terceira vez.

Em 10 de fevereiro de 1972, o presidente Emílio Médici inaugura a TV em cores brasileira, durante a Festa da Uva de Caxias do Sul.

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Desde 2 de dezembro de 2007, a TV brasileira vive uma nova era tecnológica, a da TV digital e de alta definição (HD), que se expande lentamente, mas de forma irreversível. Em breve, como deverá também ocorrer em todo o mundo, a TV brasileira estará exibindo imagens tridimensionais e trilhando o caminho da banda larga na internet, com a IPTV.

Nenhum país tem tanta paixão quanto o Brasil pela TV aberta - hoje presente em 97% de seus domicílios.

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