Quatro gênios em Berlim

Um encontro imaginário entre quatro gênios da eletrônica e das comunicações -- Maxwell, Hertz, Graham Bell e Marconi -- em visita à IFA 2010, em Berlim, diante dos maiores avanços da tecnologia.

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Por Ethevaldo Siqueira
Atualização:

Coluna do Estadão de domingo, 03 de outubro de 2010

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Fiz outro dia um passeio imaginário pela IFA 2010 em Berlim, algo como nos filmes da série De Volta para o Futuro - em companhia de quatro gênios e pioneiros da eletrônica e das comunicações - os escoceses Alexander Graham Bell e James Clerk Maxwell, o alemão Heinrich Hertz e o italiano Guglielmo Marconi.

IFA é sigla de Exposição Internacional de Radiodifusão, em alemão (Internationale Funkausstellung), feira realizada anualmente em Berlim e que acaba de tornar-se o maior evento de eletrônica de entretenimento do mundo. Sempre imaginei como seria interessante ver a reação daqueles pioneiros se eles pudessem voltar à Terra e comprovar o progresso tecnológico ocorrido em mais de um século.

Pense, leitor, na cara de espanto daqueles gênios diante de avanços tão espetaculares como o da TV digital tridimensional (3D) e de alta definição (HD), do Blu-ray disc 3D, do home theater com tela de 120 polegadas de diagonal, dos computadores pessoais mais sofisticados, da telefonia VoIP, do smartphone, de um netbook de apenas 700 gramas, do iPad e do GPS instalado na maioria dos carros. Mostrei-lhes tudo isso num ambiente agradável, da casa digital, com todos os equipamentos interconectados por uma rede sem fio de banda larga Bluetooth e Wi-Fi.

Foi uma experiência sensacional. Os quatro gênios ficaram praticamente sem fala diante de um televisor 3D com tela de 65 polegadas de diagonal. Enquanto circulava entre um equipamento e outro, eu lhes fazia uma rápida retrospectiva do progresso das telecomunicações e da eletrônica em geral.

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Graham Bell apanhou o smartphone mais sofisticado e quis comprovar seu funcionamento, fazendo uma ligação para um bisneto em Boston. Só então acreditou que aquilo era a evolução de seu telefone de 1876. Contei-lhe que o mundo tem hoje mais de 5 bilhões de celulares em serviço e, só no Brasil, há 190 milhões.

Dirijo-me a Maxwell - em minha opinião o mais genial dos pioneiros das telecomunicações - e faço-lhe um pequeno balanço da evolução do mundo sem fio, ressaltando a importância de seus primeiros estudos, como professor na Universidade de Cambridge, ao prever em 1861 a existência das ondas eletromagnéticas e estabelecer a relação matemática entre eletricidade e magnetismo. Sentados em torno de uma mesa redonda, diante de uma deliciosa cerveja alemã, eles se encantam com as demonstrações da internet a que assistem numa TV conectada. "Saibam que a web conecta hoje 2 bilhões de pessoas e interliga 35 bilhões de dispositivos em todo o planeta".

Volto-me para Hertz e destaco sua contribuição, ao comprovar praticamente a existência das ondas eletromagnéticas, também chamadas de ondas hertzianas, em sua homenagem. Ele mesmo recordou seu primeiro transmissor-receptor de rádio, construído em 1887 para demonstrar na prática a teoria de Maxwell.

Converso, finalmente, com Marconi, para relembrar as primeiras transmissões atmosféricas de um sinal elétrico, que fez em 1895, bem como o envio de um sinal telegráfico através do Atlântico, em 1901. Ou a primeira emissora comercial de rádio, em 1920, em Pittsburgh. Mostro-lhe um software embutido num receptor de rádio de automóvel que nos permite a sintonia e audição, com a melhor qualidade, de até 16 mil emissoras de todo o mundo, via internet.

Marconi faz cara de dúvida quando lhe conto que um padre brasileiro, Roberto Landell de Moura, fez, antes dele, em 1893, pelo menos uma experiência pioneira de telegrafia sem fio na Cidade de São Paulo. Digo-lhe que o mundo já utiliza praticamente todo o espectro eletromagnético, com frequências que vão de 300 hertz (Hz) ou ciclos por segundo a 300 gigahertz (GHz), ou seja, 300 bilhões de hertz, em serviços que englobam todos os tipos de comunicações, radiodifusão e telefonia móvel.

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Explico aos quatro gênios a diferença entre TV aberta, TV por assinatura, TV digital via satélite e ainda TV via micro-ondas, e o que são os sistemas de identificação por radiofrequência (RFID), a telefonia celular e o acesso à internet via redes sem fio, como Bluetooth, Wi-Fi, Wi-Max e Ultrawide Band (UWB).

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Levo o quarteto à cozinha da casa digital e eles ficam maravilhados com aqueles aparelhos que já fazem parte de nossa vida cotidiana. Hertz e Maxwell ficam encantados com o refrigerador conectado à internet e com o forno de micro-ondas. Provam um sanduíche aquecido nesse aparelho. A coisa mais sofisticada que lhes mostro é uma frigideira eletrônica, que frita batatas e outros alimentos sem gordura nem água, mas apenas com ar quente, a temperaturas de até 200 graus Centígrados.

O papo rola animado, até que resolvo agradecer-lhes a visita à exposição com um pequeno discurso: "Senhores Maxwell, Hertz, Bell e Marconi, não sei se alguma vez, em sua vida, tiveram a oportunidade de se encontrar, para discutir tecnologia e seu desenvolvimento. Este, portanto, talvez seja o primeiro encontro dos quatro, depois de sua passagem pela Terra. Fico feliz que tenha sido aqui em Berlim e comigo. Em nome dos cidadãos do século 21, agradeço-lhes as contribuições e trabalhos pioneiros no campo das telecomunicações. Os senhores começaram tudo isso. Sem sua contribuição inicial, nada disso teria sido possível. Obrigado, em nome dos 6,8 bilhões de habitantes do planeta".

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