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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|A costura de Michel Temer e o combustível das manifestações

Convenção do PMDB no sábado e protestos no domingo serão termômetro para medir o quão mais próximo ou distante está a probabilidade de Dilma não acabar o seu segundo mandato

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Renan Calheiros (à esquerda), Michel Temer e Dilma Rousseff. Foto: Ed Ferreira/Estadão

Dois eventos vão servir de termômetro para medir o quão mais próximo ou mais distante está a probabilidade crescentemente precificada no mercado financeiro de a presidente Dilma Rousseff não acabar o seu segundo mandato: a convenção nacional do PMDB, marcada para sábado dia 12, e as manifestações a favor do impeachment de Dilma, programadas para o dia seguinte, domingo (13).

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No caso da convenção do PMDB, que provavelmente reconduzirá Michel Temer para comandar o partido, será uma oportunidade para observar o quanto o vice-presidente da República foi capaz de costurar mais apoio a um eventual governo seu caso o processo de impeachment de Dilma se materialize.

Desde a fatídica carta que escreveu a Dilma, Temer submergiu sob uma reação de vários caciques peemedebistas, em particular o presidente do Senado, Renan Calheiros.

Mas a aproximação dos dois peemedebistas é nítida. Se inicialmente o estreitamento dessa relação pode ter sido viabilizado por um pacto de governabilidade, isto é, Temer parar de atacar diretamente Dilma, agora resta a dúvida se Renan está disposto a ir mais além no seu apoio ao vice-presidente do que apenas reconduzi-lo ao comando do partido.

Isso porque desde o início da aproximação de Renan e Temer alguns tremores de terra sacudiram o País, entre eles o vazamento da delação premiada do senador petista Delcídio do Amaral e a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor na Lava Jato.

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Assim, mais do que um eventual desembarque oficial do PMDB como parte da base aliada do governo Dilma, a convenção do partido servirá para medir quantos peemedebistas Temer conseguiu trazer para o seu lado no tocante ao processo de impeachment.

Quanto mais unidade Temer conseguir do PMDB, o qual há muito tempo é visto como loteado por três caciques (Temer, Renan e Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados), maior será a probabilidade de os partidos de oposição se aglutinarem ao redor de um movimento a favor de Temer como presidente da República caso Dilma não termine seu segundo mandato pelo impeachment, via PSDB e seu senador José Serra.

Nessa costura, fica a dúvida até se Eduardo Cunha poderá não mais se ater ao julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) dos embargos apresentados por ele ao rito do impeachment estabelecido pela Corte no final do ano passado. Cunha estava esperando o julgamento do STF aos embargos para poder instalar uma nova comissão especial que analisará o processo de impeachment.

Aliás, Cunha assume papel relevante para o próprio sucesso desse processo. Com ele ainda à frente da Câmara dos Deputados, o impeachment tem menos adesão, especialmente das ruas, dadas as acusações que pesam sobre o peemedebista, que agora virou réu na Lava Jato depois de julgamento no STF.

Se Cunha cair antes da aprovação do impeachment na Câmara, o processo ganha fôlego. Caso contrário, será mais difícil angariar apoio popular e, por tabela, pressão sobre os parlamentares.

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E a opinião pública é crucial neste momento para a sobrevivência do governo Dilma Rousseff.

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O que se viu foi a presença de integrantes mais radicalizados pró e contra o governo Dilma nos protestos desde a prisão de João Santana, o marqueteiro das campanhas de Lula, em 2006, e de Dilma, em 2010 e 2014; o vazamento da delação de Delcídio; e a nova fase da Lava Jato cujo alvo foi o ex-presidente.

As manifestações do próximo domingo servirão para avaliar a amplitude e profundidade do apoio popular ao impeachment. Haverá a participação apenas dos mais engajados contra o governo Dilma? Se isso acontecer, o mercado financeiro poderá reavaliar o quanto a precificação da eventual queda Dilma foi prematura.

Por incrível que pareça, será necessário estar atento a fatores até prosaicos para avaliar os protestos marcados para o próximo fim de semana, tais como a probabilidade de chover forte ou não (que poderia desencorajar quem gostaria de ir às ruas) e até a cobertura da imprensa sobre informações das manifestações.

Todavia, daqui até o próximo domingo, o noticiário político tem o potencial de inflamar os ânimos, especialmente se houver vazamentos vindos da Lava Jato com teor explosivo como foi o da delação de Delcídio.

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Assim, os olhos dos investidores vão estar menos voltados ao que Dilma ou Lula têm a dizer e mais o que poderá sair de notícias do quartel general da Lava Jato e também do que podem declarar os caciques políticos do PMDB.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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