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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|A surpresa da inflação no curto prazo

Não seria uma surpresa se, por exemplo, a mediana das estimativas para o IPCA de 2016 convergisse para o patamar de 7% nas próximas semanas

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Atualização:

As projeções para o IPCA de 2016, contidas na última pesquisa Focus, ainda não refletem um certo grau de surpresa com a magnitude dos reajustes de tarifas públicas e do salário mínimo na virada do ano.

A mediana das estimativas para a inflação deste ano ficou em 6,87%, enquanto o Top 5 (o grupo de analistas que mais acertam a projeção para esse indicador) de médio prazo indica um IPCA de 7,44% em 2016. Já a previsão para a alta dos preços administrados neste ano permaneceu em 7,50% pela segunda semana consecutiva, justamente o período que cobre os feriados de fim de ano.

 Foto: André Dusek/Estadão

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Provavelmente, o retorno das férias de vários analistas deverá provocar uma sintonia fina nas projeções para o IPCA deste ano e também para a alta dos preços administrados. Até porque os analistas vão ter à disposição um escopo melhor de informações sobre os reajustes de preços de bens e serviços no início de 2016.

Não seria uma surpresa se, por exemplo, a mediana das estimativas para o IPCA de 2016 convergisse para o patamar de 7% nas próximas semanas.

Por ser um ano de eleições municipais, alguns analistas chegaram até a duvidar se os reajustes de tarifas do transporte público iriam ocorrer, ou, em acontecendo, num porcentual de aumento menor do que efetivamente foi anunciado.

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Em São Paulo, região com maior peso no índice oficial de inflação, as tarifas de ônibus, trem e metrô passaram de R$ 3,50 para R$ 3,80, alta de 8,57%. No Rio, o ônibus aumentou de R$ 3,40 para R$ 3,80, avanço de 11,7%. Belo Horizonte teve alta de 8,82% na tarifa de ônibus, de R$ 3,40 para R$ 3,70, no dia 3. Em Salvador, o valor subiu 10% no dia 2, de R$ 3 para R$ 3,30.

Por outro lado, o salário mínimo foi reajustado em 11,67%, sendo 11,57% referente à inflação projetada pelo governo para o acumulado do ano - 10,28% de janeiro a novembro mais 1,16% previsto para dezembro -, somados ao crescimento de 0,10% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014. Esse porcentual da estimativa para inflação do mês de dezembro ficou perto do teto das projeções dos analistas para o mês.

Além do efeito prático do aumento do salário mínimo sobre o IPCA, via o peso direto e indireto dos empregados domésticos e de outros serviços com a estrutura de remuneração baseada no piso dos salários no índice de inflação, haverá o impacto psicológico de um reajuste maior do que o aprovado pelo Congresso anteriormente.

Ou seja, ficou a percepção de que a presidente Dilma Rousseff deu um reajuste maior do salário mínimo do que poderia ou deveria, podendo provocar um aumento dos prêmios de risco, com efeito até sobre o câmbio.

Esse eventual impacto psicológico negativo poderá ser sancionado ou não pelo comportamento do Banco Central na próxima reunião do Copom, marcada para o dia 20 deste mês. Se o BC surpreender e mantiver os juros inalterados em 14,25%, o efeito sobre as expectativas inflacionárias será imediato no sentido de desancoragem.

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Há, no entanto, fatores que podem até compensar um pouco a pressão sobre os preços administrados, mais especificamente o regime de chuvas e a queda do consumo de energia elétrica. Isso poderá levar a uma mudança na bandeira tarifária da cor vermelha (a mais cara) para a amarela, aliviando um pouco os reajustes de eletricidade sobre a inflação.

De todo modo, as projeções para o IPCA na pesquisa Focus podem se mover para cima nas próximas semanas à medida que os analistas incorporarem um certo grau de surpresa com a magnitude dos reajustes recentes de preços importantes para os índices de inflação.

Fábio Alves é jornalista do Broadcast

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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