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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|A surpresa na pesquisa Focus

Após declaração de Goldfajn, muitos analistas passaram a revisar o início do ciclo de afrouxamento monetário

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Atualização:
O presidente do BC, Ilan Goldfajn Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Com o discurso recente mais "hawkish" (inclinado ao aperto monetário) do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, a postura mais cautelosa dos analistas em relação a um eventual ciclo de corte de juros contribuiu para deflagrar um ajuste para baixo nas projeções de inflação.

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Chamou atenção a redução significativa na estimativa para o IPCA de 2017 na pesquisa Focus, do BC, divulgada hoje, caindo de 5,50% para 5,43%. A projeção de inflação para 2016 também cedeu, porém modestamente: de 7,29% para 7,27%, embora essa estimativa tivesse subido consecutivamente nas seis semanas anteriores.

Após a fala de Goldfajn, na divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) na última terça-feira, muitos analistas passaram a revisar o início do ciclo de afrouxamento monetário. Se o "timing" mudou na visão dos analistas, por enquanto, o orçamento desse ciclo, ou seja, quanto o BC reduzirá os juros básicos no fim desse processo, não sofreu alteração significativa.

Até a posse de Goldfajn no cargo, havia quem apostasse que o primeiro corte da taxa Selic ocorreria na reunião do Copom marcada para os dias 19 e 20 de julho. Depois das declarações do presidente do BC, que sinalizou, entre outras coisas, que perseguiria a meta de inflação de 4,5% em 2015 - ao contrário da sugestão de ilustres do mercado financeiro de adiar a convergência para 2018 -, a aposta de muitos analistas para o início do afrouxamento monetário foi postergada.

Os economistas do banco Safra, por exemplo, esperam o primeiro corte apenas na reunião do Copom de novembro, a última deste ano. Já o Bradesco acredita que o BC começará a baixar a Selic em outubro. O Goldman Sachs também considera que outubro é o Copom mais cedo que poderá haver corte de juros.

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Na pesquisa Focus divulgada hoje, a projeção para a taxa Selic no fim de 2016 e 2017 permaneceu inalterada em 13,25% e 11%, respectivamente. Enquanto isso, os analistas ouvidos pelo BC esperam que o dólar encerre 2016 cotado a R$ 3,46 (ante R$ 3,60 estimados na semana anterior) e a R$ R$ 3,70 no fim de 2017 (versus R$ 3,80 anteriormente).

Em nota enviada clientes hoje, os economistas do Bradesco, liderados por Octavio de Barros, ressaltaram que "expectativa para o IPCA de 2017 mostrou queda importante, abrindo espaço para novas revisões baixistas nas próximas semanas".

Poderão novas reduções nas estimativas do IPCA, em particular para 2017, deflagrar também uma rodada de revisão para maior corte dos juros em 2016 e também no ano que vem?

"O mercado está menos otimista em relação ao início do corte da Selic, em linha com o discurso mais 'hawkish' da autoridade monetária", disse a esta coluna o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, para quem o início do corte acontecerá em outubro, auxiliado pela recente apreciação do câmbio.

O quanto os juros básicos poderão cair ao fim do ciclo, contudo, dependerá do ajuste fiscal que o governo Temer conseguir entregar, na visão do economista da SulAmérica Investimentos.

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E não só os juros: para as projeções do IPCA em 2017 seguirem desacelerando, em convergência para a meta de 4,5%, Rosa considera essencial que a política fiscal sinalize um ajuste. Ele projeta um IPCA de 5,25% ao fim de 2017.

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"Para o BC trazer a inflação para 4,5% seria necessário deixar a taxa Selic inalterada em 14,25% o tempo todo, dado o déficit fiscal previsto para este ano e o cenário para 2017", disse Rosa, que prevê um déficit de 2,2% neste ano e um resultado primário ao redor de zero em 2017.

Ou seja, como o quadro fiscal ainda não entrou para o território contracionista, a tarefa de trazer a inflação para 4,5% em 2017 será bastante complicada se o BC começar a cortar os juros básicos ainda neste ano.

A menos que o Congresso aprove a PEC do teto de gastos e também a reforma na Previdência, o que pode alterar significativamente o patamar das expectativas inflacionárias.

Fábio Alves é jornalista do Broadcast

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Opinião por Fábio Alves

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