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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Mercado financeiro tenta decifrar humor do eleitor brasileiro

Bolsa cai no dia seguinte à pesquisa Ibope mostrando estabilidade nas pesquisas que apontam vitória da presidente Dilma Rousseff

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Mudanças nas preferências do eleitorado brasileiro são esmiuçadas por analistas do mercado (Fotos: Daniel Ferreira e Ed Ferreira/Estadão) Foto: Estadão

A queda da Bovespa e a alta do dólar frente ao real nesta quarta-feira,23 , na manhã seguinte à divulgação da pesquisa Ibope de intenção de voto para a eleição de outubro, seria um sinal de que os investidores teriam exagerado na avaliação da vulnerabilidade da presidente Dilma Rousseff na corrida presidencial com base nas pesquisas Datafolha e Sensus?

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Em três pregões até o fechamento de terça-feira, a Bovespa havia acumulado alta de 4,21%, embalada pelos resultados do Datafolha e Sensus, que mostraram um empate técnico num eventual segundo turno entre Dilma e o candidato tucano Aécio Neves, além de um aumento na taxa de rejeição da presidente.

Antes da divulgação do Ibope, após o encerramento da sessão de negócios, os investidores haviam comprado ações e vendido dólares tentando antecipar perda adicional de apoio de Dilma por parte dos eleitores na pesquisa Ibope. Não foi o que aconteceu.

É preciso deixar claro que não é possível hoje, após a última rodada das pesquisas Datafolha, Sensus e Ibope, bater o martelo com certeza sobre um desfecho da eleição presidencial de outubro, nem mesmo em relação à realização ou não de um segundo turno.

Na pesquisa Ibope, Dilma Rousseff tem 38% das intenções de voto. Na pesquisa anterior, feita em 15 de junho, Dilma tinha 39%. Aécio Neves soma 22%, ante 21% do levantamento anterior, e o candidato do PSB, Eduardo Campos, tem 8% das intenções de voto, em comparação com 10% na pesquisa anterior.

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Num eventual segundo turno, Dilma tem 41% das intenções de voto contra 33% do tucano. Se o adversário fosse o ex-governador de Pernambuco, a presidente somaria 41% das intenções de voto contra 29% de Campos.

Na opinião do cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria Integrada, o mercado financeiro exagerou na avaliação da vulnerabilidade de Dilma após as pesquisas Datafolha e Sensus. Isso não quer dizer, segundo ele, que o resultado do Ibope contradisse o que apontaram as outras duas pesquisas.

"O Ibope, de fato, apontou um cenário mais tranquilo para a presidente Dilma, sobretudo para os dados do segundo turno comparados com o que indicavam as pesquisas anteriores", afirma Cortez.

Para ele, há algumas explicações para a diferença dos resultados entre as pesquisas.

A primeira tem a ver com a instabilidade em relação ao quadro eleitoral dada a elevada incerteza dos eleitores sobre quem votar, refletida, em particular, na grande variação do resultado da pesquisa espontânea.

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Exemplo: em dezembro de 2012, na pesquisa espontânea do Datafolha, o número de indecisos era de 46%. No dado mais recente, esse número subiu para 54%. Ou seja, há ainda uma parcela grande de indecisos neste momento.

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"Isso tem a ver com a particularidade política da eleição de 2014, que combina uma insatisfação com o governo, sem que isso signifique um apoio automático à oposição, pois o eleitor não conhece a oposição ou não confia na mensagem da oposição", explica Cortez.

Nesse contexto dos indecisos e de instabilidade, as pesquisas tendem a mostrar uma maior volatilidade de resultados, dependendo do humor do eleitor no dia em que a pesquisa vai a campo.

Assim, o mal-estar pós Copa do Mundo, com a derrota acachapante da seleção brasileira para a Alemanha, foi captado mais fortemente pelas pesquisas imediatamente depois do evento esportivo. "Passados alguns dias, já tira um pouco essa sensação ruim do eleitor, que está muito suscetível ao que ele ouve do noticiário da véspera", diz Cortez.

A pesquisa Ibope foi realizada entre os dias 18 e 21 de julho. O levantamento do Datafolha foi feito entre os dias 15 e 16 de julho, enquanto a pesquisa Sensus foi a campo de 12 a 15 de julho.

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Para o diretor de pesquisas para a América Latina da corretora japonesa Nomura Securities, Tony Volpon, é difícil comparar os resultados de intenções de votos entre os diferentes institutos, pois há muitas diferenças metodológicas e de amostragem.

"O ponto importante é que a diferença Aécio X Dilma fechou entre junho e julho no Ibope", diz Volpon, de seu escritório em Nova York. "Acho também que dá para mostrar que há uma defasagem entre Ibope e Datafolha, com o Ibope com um número maior de indecisos."

Volpon atribui agora uma probabilidade de 70% de vitória do candidato tucano na eleição presidencial. No dia 11 de junho, a Nomura Securities foi a primeira instituição financeira a divulgar um relatório apostando na eleição de Aécio Neves. Naquele momento, Volpon atribuía uma probabilidade de 60% de vitória do tucano num segundo turno da eleição.

"Acho que o argumento para a vitória de Aécio é muito forte levando em conta a questão do que deve acontecer no Sul do Brasil quando ele for melhor conhecido", argumenta Volpon. "Haverá uma convergência do Sul ao que já aconteceu no Sudeste, onde o Aécio está liderando com folga", acrescenta. Para ele, isso anula a vantagem de Dilma no Nordeste e dá a vitória ao tucano.

Para Rafael Cortez, da Tendências, o cenário é ainda de vitória de Dilma Rousseff num segundo turno. Ele atribui uma probabilidade de 55% de vitória da petista.

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E o que esperar das próximas pesquisas?

Até o início do horário eleitoral gratuito na TV, marcado para o dia 19 de agosto, a corrida eleitoral entra num certo vácuo desde o final da Copa do Mundo, na opinião dos analistas.

Volpon, contudo, vai acompanhar de perto a intenção de voto no Sul do País entre os principais candidatos à eleição presidencial. Cortez, da Tendência, disse que é importante ver o impacto dos indicadores econômicos no humor dos eleitores.

Todavia, o mercado financeiro vai continuar reagindo às próximas pesquisas, mesmo que elas não apontem um desfecho mais provável da eleição ou flutuações além da margem de erro, uma vez que o investidor é mais sensível a dados de alta frequência, como as pesquisas, do que o humor do eleitor. (fabio.alves@estadao.com)

Fábio Alves é jornalista do Broadcast

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Opinião por Fábio Alves

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