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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Crise econômica e política ameaça o grau de investimento

Economista já trabalha com a probabilidade de 40% de o Brasil perder o grau de investimento até o fim de 2016

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Atualização:

Depois dos últimos resultados das contas públicas e de derrotas importantes do governo no Congresso que afetarão o horizonte fiscal no curto e médio prazo, vários analistas passaram a considerar que é crescente o risco de o Brasil perder o status de grau de investimento da sua classificação soberana de risco.

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Ao menos até o final do mandato de Dilma Rousseff.

Em conversa com esta coluna, o economista-chefe de um banco estrangeiro disse que passou a trabalhar com a probabilidade de 60% de o Brasil manter o grau de investimento e de 40% de perder até o fim de 2016. No início do ano, ele considerava que o risco de perda desse selo no rating soberano era de 30%.

"Aumentou um pouco a chance de o Brasil perder o grau de investimento dado que o desempenho fiscal está muito pior do que eu esperava, além de a situação política estar bem mais complicada", disse o economista acima.

Para ele, o governo precisa gerar um superávit primário suficiente para estabilizar a relação dívida/Produto Interno Bruto (PIB), uma métrica importante para as agências de rating.

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Dado o que se espera para a taxa de juros e o crescimento da economia, o economista acima considera que um superávit primário necessário seria entre 2% e 2,5% do PIB nos próximos anos. Em 2016, é absolutamente imperativo o governo atingir um superávit primário de, ao menos, 1,5% do PIB, levando-se já em conta um resultado ao redor de 0,7% neste ano, de acordo com a fonte.

É crescente o risco de o Brasil perder o grau de investimento até o fim do mandato de Dilma Foto: Andre Dusek/Estadão

Em maio, conforme dados divulgados pelo Banco Central, a dívida bruta do governo geral bateu 62,5% do PIB, nível recorde da série histórica, e representando um salto de 8,21 pontos porcentuais ante o patamar registrado em igual mês de 2014.

O setor público consolidado registrou um déficit nominal de R$ 59,777 bilhões em maio, recorde para série iniciada em dezembro de 2001. Nos 12 meses encerrados em maio, o déficit nominal bateu o recorde de 7,9% do PIB.

Em conversa com esta coluna, o economista-chefe de uma instituição bancária brasileira disse que, diante dos últimos números fiscais e de derrotas do governo no Congresso em matérias com impacto nas contas públicas, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, precisa apresentar um novo plano para as agências de ratings a fim de convencê-las a manter o grau de investimento do País.

"No curto prazo, está difícil entregar o superávit primário de R$ 66 bilhões, mas dependendo do que Joaquim propuser no lugar (ao não atingir essa meta), da nova narrativa dele e da própria interlocução dele com as agências de classificação de risco, pode ser que o cenário que ele apresente seja convincente", afirmou o economista.

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Levy precisa de um novo plano para a política fiscal no médio prazo, diz o economista.

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"O ministro precisa sugerir uma alternativa (ao fato de não atingir a meta de 1,1% do PIB em 2015) que faça uma amarração com os próximos anos, como aumentar a meta dos próximos anos, oferecendo as agências uma proposta crível", ponderou o economista.

Dois obstáculos a esse processo de convencimento tornarão a tarefa do ministro bem mais difícil, segundo a fonte acima. O primeiro é o desempenho da economia, que está surpreendendo para baixo não somente o mercado financeiro, como também a própria equipe econômica.

Além da projeção de queda de 1,50% para o PIB neste ano, conforme a última pesquisa Focus, do BC, a estimativa para o crescimento em 2016 não é nada animadora: 0,5%.

"Essas projeções para a economia acabam fazendo o mercado e as agências de rating reavaliarem seus cenários para a dívida bruta como proporção do PIB", explicou o economista.

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Já o outro obstáculo é político: o Congresso segue aprovando medidas que acabam prejudicando o ajuste fiscal. Sem contar que é grande o potencial de os parlamentares avançarem agendas negativas para as contas públicas, dados os projetos que estão adormecidos no Congresso e que "conspiram contra a Lei de Responsabilidade Fiscal".

De qualquer forma, os preços dos ativos brasileiros sugerem que será muito difícil o Brasil manter o grau de investimento do seu rating soberano.

O contrato de 5 anos do Credit Default Swap (CDS) - que serve como uma espécie de seguro contra calote - do Brasil disparou nos últimos meses. Quanto mais alto esse preço, maior o risco de calote de um emissor na visão dos investidores.

Nesta sexta-feira, o CDS do Brasil estava sendo negociado ao redor de 253,8 pontos-base, que não é no nível de países com rating grau de investimento. Esse CDS teria que cair, ao menos, 65 pontos-base para que a percepção de risco dos investidores sobre o Brasil ficasse na mesma linha dos países com grau de investimento.

Outro exemplo é o diferencial nos contratos de CDS entre o Brasil e o México. Hoje, esse diferencial está em mais de 125 pontos-base, quando a média aceitável seria o contrato brasileiro negociar acima apenas 60 pontos-base.

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Assim, o grande desafio de manter o grau de investimento não é nem mais o apoio ao ajuste fiscal por parte da presidente Dilma Rousseff, o qual o mercado já não mais questiona.

Mas sim de fatores os quais o ministro Levy não tem controle: o crescimento do PIB e as decisões do Congresso.

Fábio Alves é jornalista do Broadcast, serviço de informações da Agência Estado

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