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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Ilan acertou ao acelerar a queda do juro

O temor é de que, se o BC seguisse cauteloso no corte de juros, chegaríamos todos mortos ao fim de 2017

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Atualização:
O presidente do BC, Ilan Goldfajn Foto: Dida Sampaio/Estadão

Com o Brasil engolido pela pior recessão de sua história, não restava outra coisa a não ser uma decisão mais agressiva por parte do Banco Central em cortar os juros básicos, acelerando o ritmo de afrouxamento de 0,25 ponto porcentual na reunião do Copom de novembro para 0,75 ponto ontem.

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No auge da crise financeira de 2008, os Estados Unidos, berço do capitalismo, não hesitou em jogar dinheiro público em bancos privados como forma de tentar ressuscitar o mercado de crédito. Instituições como Citibank, Goldman Sachs e JP Morgan fizeram parte do socorro do governo americano, que somou US$ 200 bilhões.

Ou seja, situações extremas exigem respostas ousadas.

E esse é o caso do Brasil, com mais de 12 milhões de desempregados, dois anos seguidos de contração forte do Produto Interno Bruto (PIB) e profunda anemia dos investimentos.

Com as contas em situação caótica e a caminho da insolvência, o governo de Michel Temer não tem como fazer o mesmo que fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2009, que jogou bilhões de reais do erário para estimular o consumo e tirar o Brasil do buraco.

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O único estímulo possível neste momento é o monetário.

Depois da surpresa negativa do PIB do terceiro trimestre de 2016, quando a economia contraiu 0,8%, e dos indicadores ainda fracos no quarto trimestre, apontando para nova queda do PIB, o BC precisava reagir, de fato.

Afinal, a inflação corrente vem desacelerando mais forte do que os analistas previam justamente porque a atividade econômica vem surpreendendo para baixo e tirando o fôlego dos índices de preços.

Não dá para comemorar a desaceleração da inflação por este motivo.

O temor é de que, se o BC seguisse cauteloso no corte de juros para tentar ancorar as expectativas inflacionárias, chegaríamos todos mortos ao fim de 2017 ou, no mais tardar, 2018, para atingir o centro da meta de 4,5%.

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Ao contrário do cavalo de pau dado por Alexandre Tombini, ex-presidente do BC, quando cortou os juros em agosto de 2011, seguindo a terrível e desastrosa cartilha da "Nova Matriz Econômica", o Brasil agora precisa de uma injeção de estímulos.

E o corte de juros é um dos pouquíssimos instrumentos que restam ao governo para tentar ressuscitar a economia.

Vai dar certo?

Difícil dizer neste momento.

Há tanta diferença em termos de impacto econômico entre reduzir juros em 0,50 ponto ou 0,75 ponto?

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Provavelmente, não.

Mas é preciso um tratamento de choque na economia. É preciso algum vetor de crescimento, mesmo que psicológico.

Pela frente, o Brasil ainda terá provavelmente toda a turbulência que o desdobramento da Operação Lava Jato pode trazer para o ambiente político. E isso poderá afetar o avanço da reforma da Previdência no Congresso, fundamental para dar sustentação à PEC do Teto de Gastos e também para recuperar a confiança dos agentes econômicos.

Só o tempo dirá, obviamente, se a decisão de Ilan Goldfajn, presidente do BC, foi a mais acertada em surpreender e acelerar o corte de juros para 0,75 ponto sem ter previamente sinalizado isso para o mercado.

Mas na fotografia de hoje, ele acertou. Em tempos de crise, é preciso ousadia também. Agora, é cruzar os dedos.

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Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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