O presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, aproveitaram a viagem a Nova York, em meio à agenda de eventos da assembleia anual da Organização das Nações Unidas (ONU), para vender o Brasil a investidores internacionais, interessados em atraí-los para o programa de concessões e privatizações lançado recentemente.
Portanto, para esses investidores, a perspectiva de queda dos juros básicos no Brasil é um elemento importante na decisão de investir em projetos de infraestrutura.
Com esse pano de fundo, causou ruído na abertura dos negócios nesta quinta-feira uma suposta declaração de Meirelles à agência de notícias Bloomberg - e reproduzida pelo jornal Valor Econômico - de que a queda da Selic em dezembro é "altamente provável".
Esta coluna procurou a assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda, que declarou que Meirelles "em nenhum momento" comentou o impacto do ajuste fiscal na taxa Selic a jornalistas. O que ele disse, segundo a assessoria de imprensa, foi que as medidas aprovadas no ajuste fiscal vão provocar "naturalmente" uma queda da taxa de juros estrutural da economia.
Todavia, a assessoria de imprensa não entrou no mérito da suposta declaração à agência Bloomberg, que fez uma entrevista exclusiva com Meirelles antes de o ministro ter falado informalmente com um grupo de jornalistas em um dos seus eventos em Nova York.
No chamado "quebra queixo", quando a entrevista a jornalistas é feita informalmente e sem agendamento prévio, Meirelles afirmou que não opina sobre juros, quando indagado sobre o que esperar da taxa Selic.
"Quando eu estava no Banco Central, eu sempre defendi a autonomia", disse o ministro.
O problema, contudo, é que nem Meirelles nem a assessoria do Ministério da Fazenda corrigiram categoricamente a matéria da Bloomberg, cujo título em inglês é Brazil's Key Rate Likely to Fall This Year, Meirelles Says e foi publicada no site da agência americana às 18h14 no horário de Brasília.
Como vários jornalistas já sabem durante os anos de Meirelles à frente do Banco Central e, mais recentemente, da Fazenda, o ministro é rápido ao exigir correções de declarações ou informações erradas atribuídas a ele.
A repórter da Bloomberg que escreveu o texto voltou a reproduzi-lo na sua conta no microblog Twitter nesta manhã.
E até agora Meirelles não veio a público desmentir essa declaração dada à agência americana.
Não é suficiente a assessoria de imprensa se referir às declarações que o ministro deu aos jornalistas no "quebra queixo".
Ele precisa vir a público e dizer que não é "altamente provável" que a taxa Selic irá cair neste ano.
Caso contrário, voltamos aos tempos do governo Dilma Rousseff, quando o ex-ministro Guido Mantega e a ex-presidente interferiam diretamente na política monetária com declarações sobre os juros.
Isso é importante porque coloca a credibilidade de Ilan Goldfajn, presidente do BC, contra a parede.
Por que isso?
Já no comunicado e na última ata da reunião do Copom, o BC deixou aberta a possibilidade de corte da taxa Selic ainda em 2016. Faltam duas reuniões: em outubro e em novembro.
O BC listou três condições para que isso aconteça, atribuindo para elas um grau significativo de subjetividade para decidir se elas foram atendidas e que, portanto, chegou a hora de cortar os juros. Exemplo: "Redução da incerteza sobre a aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia, a exemplo do ajuste fiscal." Incerteza reduzida para uns não é para outros.
Ao dar um espaço para a subjetividade, o BC poderia, em tese, ficar sob suspeita de ceder à pressão política. Todavia, como Goldfajn melhorou a comunicação com o mercado, ele ganhou crédito para antecipar em um corte de juros em relação às apostas do mercado.
Mas isso vai por água abaixo quando Meirelles faz esse tipo de intervenção verbal e joga novamente a suspeita de o BC voltar a sofrer interferência política.
Assim, a declaração de Meirelles à agência Bloomberg precisa ser desmentida categoricamente para que o mercado possa acreditar totalmente que o ministro dá completa autonomia para o BC, como a que ele tinha durante o governo Lula.
Ao apenas se referir à sua postura tradicional de não comentar política monetária aos repórteres brasileiros, fica a impressão de que Meirelles tentou um "vai que cola" com sua declaração "altamente provável" de queda da Selic neste ano.