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Opinião|Overshooting do dólar veio para ficar

Analistas do mercado financeiro listam os fatores da 'tempestade perfeita' que fará com que a alta repentina do dólar persista

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Atualização:

Em relatório enviado a clientes hoje, os analistas da consultoria LCA afirmam que o overshooting do dólar persiste.

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Por volta das 10h30 desta quinta-feira, a moeda americana disparava 1,9%, batendo a máxima de R$ 3,9060.

Só para se ter uma ideia de quanto o real vem se desvalorizando, no último pregão do primeiro semestre deste ano, no dia 30 de junho, o dólar encerrou a R$ 3,1090.

Ou seja, em pouco mais de dois meses e meio, o dólar avançou 80 centavos de real. No acumulado de 2015, o ganho é de 47% sobre a moeda brasileira.

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Em dois meses e meio, dólar subiu 80 centavos de real ( Foto: Reuters

"A deterioração dos indicadores fiscais deve continuar por mais tempo, pressionando a percepção de risco e os preços dos ativos, com destaque para a taxa de câmbio", escrevem os analistas da LCA, ressaltando que a resposta da cotação do dólar à piora na conjuntura parece estar sendo "mais que proporcional".

Será mesmo?

Também em relatório recente, os estrategistas da corretora americana Brown Brothers Harriman (BBH) observaram que a moeda brasileira enfrenta uma "tempestade perfeita" de fatores negativos externos (alta da taxa de juros pelo Federal Reserve e desaceleração econômica da China) e internos.

"Isso é improvável de mudar em breve", escreveram os estrategistas de câmbio da BBH. Para eles, o patamar de R$ 4,00 por dólar deve ser superado em breve e, devido à probabilidade de overshooting, o dólar deve bater R$ 4,50 nos próximos três a seis meses.

Em conversa com esta coluna, Bruno Rovai, economista para Brasil do Barclays, diz que o dólar já está 17% acima da média histórica para a cotação que seria o valor justo frente ao real, segundo um modelo de "effective exchange rate" calculado pelo banco inglês.

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"Faz sentido ter overshooting? ", indaga Rovai. A resposta dele é que o dólar ainda não subiu tudo que tinha de ganhar frente ao real.

"O Brasil enfrenta a pior recessão dos últimos 25 anos sem perspectiva de reversão e a crise política grave, com letargia do governo", explica.

Segundo ele, a saída nessa equação é ter uma moeda brasileira mais fraca frente ao dólar.

Para o câmbio voltar para um patamar próximo do seu valor justo, segundo Rovai, é preciso a economia brasileira retornar para um quadro de equilíbrio: crescimento do PIB potencial entre 1,5% e 2%, uma inflação de 4,5% e um juro real de 5%. Mas esse quadro ainda está longe, diz.

Ele projeta queda do PIB brasileiro de 3,2% em 2015 e outra retração de 1,5% em 2016. Para o câmbio, Rovai projeta um dólar a R$ 3,80 no fim deste ano e de R$ 4,10 ao fim de 2016, mas essa estimativa está sob revisão.

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Do lado externo, os economistas do Barclays acabaram de reduzir a projeção para o crescimento do PIB da China para 6% em 2016, com viés de baixa, o que coloca ainda mais pressão sobre a moeda brasileira.

Nessa discussão de haver ou não um overshooting no momento, é preciso dizer que a pressão de alta recente do dólar não é meramente um movimento especulativo, resultante, inclusive, de uma fuga de capital.

Mas sim de um processo de reprecificação dos ativos brasileiros com base na fotografia atual da conjuntura econômica e política do País, com a classificação de risco soberana rebaixada para o grau especulativo.

Nesse sentido, apesar de o dólar estar, com base na média histórica, acima do que seria uma cotação de equilíbrio, vários analistas vêm revisando para cima a projeção da moeda americana versus o real.

Na mais recente pesquisa Focus, os analistas estimam um dólar a R$ 3,70 ao fim deste ano e R$ 3,80 ao fim de 2016. Mas certamente essa projeção deverá ser revisada para cima nas próximas semanas.

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Diante do horizonte turbulento e incerto no cenário político e econômico, a alta da moeda americana não deverá perder fôlego em breve.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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