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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Para onde iria o dólar se Sérgio Moro mandar prender Lula?

Investidores se questionam se o BC teria como evitar uma queda brusca da moeda para abaixo do patamar de R$ 3,50

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Atualização:

O mercado de câmbio está obcecado, ao menos no curtíssimo prazo, com as notícias envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que deixa a cotação do dólar vulnerável a um movimento brusco dependendo do que decidir o Supremo Tribunal Federal (STF) ou até em reação a uma ação mais ousada do juiz Sérgio Moro, da Lava Jato.

Mesmo com a intervenção do Banco Central, para onde iria o dólar se Moro mandar prender Lula?

Após três anos, o BC volta hoje a oferecer contratos de swap cambial reverso, o que, na prática, significa comprar dólar no mercado futuro, via leilão desses contratos, em que a autoridade monetária assume posição comprada em dólar e vendida em taxa de juros.

Lula durante manifestação pró-governo na última sexta-feira, na Av. Paulista Foto: Gabriela Biló/Estadão

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No ambiente de um noticiário político tão fluido e movediço, essa atuação do BC vai servir mais para conter uma volatilidade mais forte do câmbio - e reduzir o estoque de swaps, atualmente em mais de US$ 100 bilhões - do que propriamente estabelecer um piso para a cotação do dólar.

Na hipótese de Sérgio Moro mandar prender o ex-presidente, teria como o BC evitar uma reação inicial com o estômago por parte dos investidores, derrubando o dólar para o patamar ou abaixo de R$ 3,50?

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Há, contudo, interlocutores desta coluna que acreditam que o dólar perdeu ímpeto para baixo com a intervenção do BC, ao menos no curtíssimo prazo. Um deles considera difícil o dólar cair muito mais do nível atual, a menos que houvesse uma notícia de maior impacto relacionada ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Outros interlocutores argumentam que, no curtíssimo prazo, o fator Lula não pode ser descartado para um movimento mais forte no câmbio.

Tecnicamente, a detenção de Lula é possível.

Em entrevista hoje à radio Jovem Pan, o ministro Gilmar Mendes, do STF, disse que não haveria nenhum impedimento legal para uma eventual detenção do ex-presidente até que o plenário da Corte julgue a decisão tomada por ele na noite de sexta-feira.

Ontem, advogados de Lula e seis juristas impetraram um habeas corpus para suspender a decisão de Mendes, na sexta-feira. Nela, o ministro do STF suspendeu a nomeação de Lula a ministro da Casa Civil e devolveu as ações referentes ao ex-presidente na Lava Jato para Sérgio Moro, negando ao petista o foro privilegiado.

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À Jovem Pan, Mendes disse achar difícil a sua decisão ser derrubada pelo habeas corpus dos advogados de Lula antes de o plenário do STF julgar a ação, o que deve ocorrer apenas após o feriado da Páscoa.

Se legalmente é possível, a detenção de Lula é politicamente improvável antes da palavra final no plenário do STF.

Esse não parece ser um movimento que Moro queira fazer, pois poderia ser um tiro no pé da Lava Jato, levando o STF a tomar o lado do ex-presidente depois da repercussão negativa da divulgação dos áudios das conversas entre Lula e a presidente Dilma.

Por outro lado, se o plenário do STF reverter a decisão de Gilmar Mendes, poderá o dólar disparar?

Não, necessariamente.

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Isso porque os investidores estão também atentos para o calendário do processo de impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados.

Se o mercado seguir acreditando que o impeachment segue em ritmo acelerado na Câmara, especialmente com os deputados conseguindo atingir o quórum necessário para realizar as sessões em todos os dias úteis, a cotação do dólar seguirá em pressão de baixa.

Um interlocutor desta coluna argumenta que o mercado está precificando, tanto na Bovespa quanto no câmbio, a perspectiva futura dos fundamentos da economia brasileira num cenário de um novo governo que venha a substituir a presidente Dilma, caso o impeachment dela seja aprovado.

"Os preços estão refletindo, em parte, a expectativa de quem quer que substitua Dilma consiga produzir avanços", afirmou a fonte acima. "Se serão avanços em tamanho ou na velocidade necessários, somente o tempo vai dizer, mas num primeiro momento haverá um choque de expectativas."

Assim, se os preços das ações na Bolsa e do dólar refletem o Brasil pós-Dilma - e com Lula neutralizado -, o risco no curtíssimo prazo está mais para uma reversão no rali registrado ao longo deste mês, caso o STF ou a Câmara dos Deputados produzam notícias em favor do governo.

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Por enquanto, apenas com base na reação nos preços desses ativos, não é o que o mercado aposta.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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