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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Recessão estreia esta semana no horário eleitoral

Divulgação do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, na sexta-feira, esquenta o debate político com dados sobre o resultado pífio da política econômica

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Protesto de metalúrgicos da General Motors contra demissões (Evelson de Freitas/Estadão) Foto: Estadão

O indicador mais importante da semana, não só em termos macroeconômicos, como também político, será a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2014, do qual grande parte dos analistas e investidores espera uma contração.

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E como também uma parcela importante do mercado financeiro aposta numa revisão para baixo do PIB do primeiro trimestre, que registrou alta de 0,2% sobre o quarto trimestre de 2013, possivelmente passando do território positivo para uma retração, o Brasil terá registrado assim uma recessão técnica entre janeiro e junho de 2014, como resultado de dois trimestres seguidos de contração da atividade econômica.

Assim, nesta sexta-feira, dia 29, data de divulgação do PIB do segundo trimestre, a palavra "recessão" poderá ecoar em todos os programas eleitorais na TV dos candidatos adversários da presidente Dilma Rousseff.

Em conversa com esta coluna, um grande investidor brasileiro considera que a palavra "recessão" poderá ser usada como gancho dos candidatos de oposição para explicar para os eleitores o desempenho ruim da gestão da economia brasileira nos quatro anos em que Dilma está à frente do País.

"A presidente já tem, obviamente, uma resposta preparada para isso: a de que a crise mundial eliminou milhões de empregos em vários países, enquanto que a taxa de desemprego no Brasil continua muito baixa", diz a fonte acima. "Mas a taxa de desemprego baixa no País tem a ver também com fatores técnicos na composição da força de trabalho, sem contar que a geração de emprego vem desacelerando significativamente."

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As pesquisas de intenção de voto que deverão ser divulgadas nesta semana, entre elas a do Ibope e a do Datafolha, não captarão ainda o retorno do foco econômico na agenda e no discurso dos candidatos, em especial a repercussão na imprensa da eventual divulgação de um PIB negativo no segundo trimestre, menos ainda o uso da palavra "recessão" pela oposição.

A Bovespa chegou a subir 1,96% nesta segunda-feira, às 15h18, puxada pelas ações da Petrobrás com a especulação sobre o resultado da pesquisa Ibope que sai amanhã.

De qualquer forma, será difícil a presidente escapar das críticas sobre o baixo crescimento da economia brasileira, alerta um economista de um banco estrangeiro. Se confirmados pelo IBGE, os resultados do PIB do segundo trimestre e a revisão do primeiro trimestre apenas reforçam o movimento de cortes nas projeções para a economia brasileira em 2014 que os analistas vêm anunciando há semanas.

Hoje, por exemplo, os analistas ouvidos pela pesquisa semanal Focus, do Banco Central, reduziram a projeção para o crescimento do PIB brasileiro em 2014 pela décima terceira semana consecutiva. Eles esperam agora uma expansão de 0,70% neste ano, ante 0,79% da semana anterior. Para 2015, eles seguem projetando uma expansão de 1,20%.

Mas nos últimos dias, aumentou o número de analistas revisando projeções para o PIB do segundo trimestre.

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Em nota a clientes hoje, por exemplo, os economistas do banco Credit Suisse projetaram uma contração de 0,5% para a economia brasileira entre abril e junho deste ano, em comparação com retração de 0,2% na estimativa anterior. Para o ano de 2014 como um todo, o Credit Suisse espera uma contração de 0,8% do PIB brasileiro.

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Nos últimos dias, a linha de defesa do governo tem sido a de melhora dos indicadores antecedentes em julho, como o crescimento de 2,93% da venda de papelão ondulado em julho sobre igual mês de 2013 e de 11,11% sobre junho passado ou a expansão de 0,8% da carga de energia elétrica em julho sobre igual mês de 2013 ou 1,2% sobre junho passado.

Mas o investidor brasileiro ouvido acima argumenta que a melhora dos indicadores antecedentes em julho foi tímida se levado em conta o vale atingido por esses indicadores em maio e junho.

"Porém, o mais importante a se observar é que os indicadores coincidentes, em especial os índices de confiança, voltaram a cair no início do terceiro trimestre, ou seja, estamos começando o segundo semestre com um ritmo muito fraco", afirma o investidor.

Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a confiança do consumidor caiu 4,3% em agosto, após subir 3,0% em julho e 1,0% em junho. Em agosto, o indicador fechou em 102,3 pontos. Esse é o menor nível da confiança desde abril de 2009, quando estava em 99,7 pontos.

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Ou seja, a confiança do consumidor que havia ensaiado uma retomada em julho, acabou mais que devolvendo em agosto a melhora observada nos dois meses anteriores. Ou seja, nem tudo foi resultado dos efeitos da Copa do Mundo, como a diminuição no número dos dias úteis, mas também das incertezas do que acontecerá com a economia brasileira após a definição da eleição residencial.

Crucial será observar a divulgação do indicador de níveis de estoques na indústria, que deverá ser publicado pela FGV nesta quarta-feira. Nos últimos meses, tem crescido o número de setores da indústria reportando um nível indesejado de estoques. Se isso voltar a acontecer em agosto, a perspectiva para o curto prazo é de redução da produção para diminuir os estoques indesejados.

Assim, cresce a probabilidade de que o PIB do terceiro trimestre também venha fraco.

Mas essa discussão ainda vai acontecer mais adiante. Até porque antes disso, nesta sexta-feira, o mundo político irá debater o PIB do segundo trimestre.

Fábio Alves é jornalista do Broadcast

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Opinião por Fábio Alves

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