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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Piora do emprego é pedra no caminho da reeleição

Números divulgados pelo Ministério do Trabalho podem trazer problemas para a campanha da presidente Dilma nas eleições de outubro deste ano

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Mercado de trabalho aquecido favoreceu a avaliação do governo Dilma, mas Caged mostra problemas à frente ( Foto: André Dusek/Estadão)

SÃO PAULO - A criação de 25.363 vagas de trabalho em junho foi muito abaixo do que os mais pessimistas do mercado financeiro poderiam imaginar.

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Na realidade, foi o pior número de geração líquida de emprega para um mês de junho desde 1998. E isso terá impacto não somente macroeconômico, como também político.

O resultado, divulgado nesta quinta-feira, 17, pelo Ministério do Trabalho, já começou também a afetar os preços das ações e de outros ativos financeiros.

A Bovespa, que havia ensaiado uma alta acima de 0,8% no meio do dia, voltou a cair depois da divulgação do número do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

A mediana das estimativas de 15 analistas, consultados pelo AE Projeções, apontava para um saldo líquido de 82 mil novos empregos formais no mês passado. Assim, a decepção de analistas e investidores é grande. O temor é de que a economia brasileira esteja em franca desaceleração.

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Em maio, foram criadas 58.836 vagas, resultado bem abaixo das 105.384 carteiras assinadas em abril último e dos 123.836 postos abertos em junho de 2013.

E por que o número do Caged passou a ter um peso tão grande para investidores e analistas?

Primeiro, por uma perspectiva de política monetária, uma vez que ontem o Copom manteve a taxa Selic em 11%, mas, principalmente, repetiu ipsis litteris o texto do comunicado divulgado após a decisão, com a expressão "neste momento".

O interessante é que em reuniões anteriores, a expressão "neste momento" foi exclusivamente interpretada como um viés "hawkish", ou seja, que o Banco Central poderia seguir subindo juros.

O "neste momento" foi lido como um sinal de que o BC também poderá cortar a taxa Selic caso a atividade desacelere ainda mais. E, nesse ponto, o mercado de trabalho, em particular o número de criação de vagas do Caged, vai ser crucial na tomada de decisão do BC sobre os próximos passos da política monetária.

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Queda na criação de empregos pelo Caged poderá reforçar as apostas de que o Copom venha a cortar os juros em vez de mantê-los inalterados por um longo tempo em razão das pressões sobre as expectativas de inflação.

O segundo efeito ao se analisar o dado do Caged é sua implicação macroeconômica, ou melhor, que impacto terá sobre o mercado de crédito.

Isso porque um enfraquecimento mais significativo do mercado de trabalho, isto é, na geração líquida de empregos, poderá levar a um aumento da taxa de inadimplência.

Só para lembrar, a inadimplência de pessoas físicas ficou em 4,5% em maio, segundo os últimos dados do BC, depois de ter batido no piso de 4,3% em fevereiro deste ano.

E por fim, o terceiro efeito do número do Caged é o impacto político, uma vez que a presidente Dilma Rousseff vem defendendo a sua gestão da economia ao citar que, mesmo quando o mundo cortou 60 milhões de vagas desde o início da crise financeira mundial em 2008, o Brasil vem criando mais empregos.

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Portanto, o número do Caged, se começar a fraquejar mais do que o anteriormente previsto, poderá ser usado politicamente pelos adversários de Dilma na campanha para a eleição presidencial em outubro.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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