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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Quanto vale a Bovespa sob Temer

No cenário mais otimista, a Bovespa vale mais de 70 mil pontos; no mais pessimista, o índice seria negociado entre 40 e 45 mil pontos

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Atualização:
 Foto: Estadão

A Bovespa sofreu um baque forte durante o governo Dilma Rousseff, refém de um intervencionismo pesado em vários segmentos da economia, como o setor elétrico, e de uma forte recessão que erodiu os lucros das empresas.

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Com o afastamento de Dilma e sua substituição por Michel Temer, abrindo a porta para uma correção nos rumos da condução da economia, quanto vale a Bolsa?

O analista da XP Investimentos Ricardo Kim traça dois cenários em relatório enviado a clientes. No primeiro, mais otimista, a Bovespa vale mais de 70 mil pontos. No outro cenário, mais pessimista, o principal índice do mercado acionário brasileiro seria negociado entre 40 e 45 mil pontos.

Ao descrever o melhor cenário para a Bovespa, Kim argumenta: "Com uma equipe econômica e ministerial de peso, formação de maioria no Congresso, sinalização rápida quanto às reformas e mudança nas perspectivas com relação a trajetória da dívida brasileira, poderemos observar uma melhora rápida nas expectativas/confiança dos agentes econômicos, que se refletirá nos ativos da bolsa brasileira".

Segundo ele, se de fato houver uma revisão forte dos lucros das empresas ao longo do tempo, poderíamos observar uma "descompressão" do múltiplo Preço/Lucro da bolsa para cerca de 8x. "Tomando como base o múltiplo médio da Bolsa nos últimos anos (11x) e realizando essa correção, estaríamos falando em um Ibovespa negociando a cerca de 73 mil pontos" no médio e longo prazo, diz Kim.

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Já no cenário mais pessimista, o analista da XP Investimentos pondera: "Se o governo de transição se mostrar um fracasso, não conseguir construir uma maioria no Congresso, sem sinalização de reformas críveis e sem mudança nas perspectivas com relação à trajetória da relação dívida bruta/PIB do País, poderemos observar uma deterioração nas expectativas e confiança dos agentes econômicos, sem uma solução crível para a retomada da atividade econômica e melhores níveis de endividamento".

O estrategista-chefe de ações para mercados emergentes do banco UBS, Geoff Dennis, informa que ainda mantém uma recomendação "underweight" (abaixo da média sugerida pelos índices de referência para o ativo) para a Bovespa, apesar da valorização registrada pela bolsa brasileira em antecipação do impeachment de Dilma.

Ele admite que estava errado em relação à aposta recente para a Bovespa, perdendo a oportunidade de aproveitar o rali, mas afirma que não vai perseguir ("to chase") esse movimento de alta, uma vez que boa parte da antecipação dos ganhos nas ações com o impeachment e com impacto da eventual troca de governo já está precificada no valor da Bovespa.

"Para esse rali prosseguir de forma mais substancial do patamar atual será preciso ver a confirmação de que Temer conseguir aprovar as reformas e seus efeitos em reduzir o déficit orçamentário e em melhorar a dinâmica da dívida pública", explica Dennis, em conversa com esta coluna.

Por enquanto, o estrategista lembra que a economia brasileira ainda se encontra muito fraca e a Bovespa parece agora bastante cara em termos de preços.

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"Mas se o Banco Central vier a cortar os juros básicos, isso pode melhorar o sentimento dos investidores", ressalta Dennis. Porém, com o dólar no patamar atual de R$ 3,45, os analistas do UBS acreditam que haverá um recuo maior da moeda americana frente ao real até o fim deste ano.

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"Isso é outra razão por estarmos cautelosos em relação à bolsa brasileira por enquanto", acrescenta. "Precisamos ainda ver um crescimento do PIB para ver uma estabilização da relação dívida/PIB, ou seja, ainda é preciso ver do ponto de vista macroeconômico razões para empurrar o PIB para o terreno positivo."

Na semana passada, o banco americano J.P. Morgan elevou a recomendação da Bovespa na sua carteira recomendada de ações para América Latina para "overweight" com a perspectiva de uma esperada mudança de política econômica com a troca de governo.

"Enquanto achamos que o processo de impeachment levará mais tempo para ser concluído, os desenvolvimentos políticos favorecerão uma estratégia de políticas mais amigáveis ao mercado", escreveram os analistas do J.P. Morgan, acrescentando que, por essa razão, acrescentaram exposição ao Brasil às carteiras de ações e dívida.

Fábio Alves é jornalista do Broadcast

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Opinião por Fábio Alves

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