Até a votação do impeachment pela Câmara dos Deputados, no último domingo, boa parte do mercado acreditava que a atuação do Banco Central no câmbio, desde que o dólar começou a recuar com mais força frente ao real, tinha como estratégia principal a redução no estoque de contratos de swaps cambiais.
Obviamente, havia quem considerasse que o BC quisesse, por tabela, segurar a queda do dólar, mas não estava ainda tão claro até meados da semana passada que a autoridade monetária visava unicamente estabelecer um nível, ou melhor, um piso, para a moeda americana.
A atuação observada ontem, dia seguinte à aprovação do impeachment na Câmara, deixou muitos investidores e analistas confusos sobre a estratégia do BC para conduzir o mercado de câmbio em meio à turbulência política.
Logo depois de o mercado abrir ontem, o BC anunciou um leilão de swap reverso, ofertando 80 mil contratos e vendendo 68.840 deles (o equivalente a US$ 3,425 bilhões).
A agressividade recente do BC na oferta de swaps reversos levantou a seguinte dúvida em uma corrente do mercado: afinal, o que quer o BC com sua atuação no câmbio?
Na abertura dos negócios desta terça-feira, o BC não havia anunciado um novo leilão de swap reverso.
Resultado: sem o BC, o dólar caía 0,90% para R$ 3,5727 às 10h15 de hoje.
"Ficou até a dúvida de se o BC, com sua intervenção nos últimos dias, estava dando uma respostas às críticas e especulações de que ele estava dando saída para alguma empresa", disse a esta coluna um estrategista de câmbio.
Essa é uma acusação negada peremptoriamente pelo BC. E até que alguém tenha provas concretas, a suspeita fica apenas nisso: especulação do mercado.
Todavia, muitos consideram a intervenção recente do BC, via swaps reversos, como pouco clara em relação aos seus objetivos, levando a alguns analistas e investidores a aludir à especulação acima.
Antes da votação da Câmara no domingo passado, a impressão de muitos era apenas a de que o BC estava aproveitando uma janela de oportunidade para comprar dólares. Caso o impeachment não passasse na Câmara, ao menos o BC teria aproveitado para reduzir o seu estoque de swaps, que agora soma ao redor de US$ 72 bilhões.
Mas ao anunciar um leilão de swap reverso logo após a abertura da sessão de negócios ontem, o BC levantou a suspeita de que quer defender um piso para o dólar.
Obviamente que o BC não quer - e não deve mesmo - deixar o câmbio se apreciar significativamente, mas era preciso mesmo comprar, via swap reverso, mais de US$ 30 bilhões de forma concentrada e em tão pouco espaço de tempo?
Somente em um dia na semana passada, a autoridade monetária comprou US$ 8 bilhões via esses contratos.
Era tudo isso necessário para conter simplesmente a volatilidade?
Mira então, o BC, um piso ou quer apenas aproveitar uma janela de oportunidade para reduzir o estoque de swap cambial?
Em nota a clientes hoje, ao comentar a atuação do BC ontem, os analistas do banco alemão Commerzbank fizeram a seguinte avaliação:
"Parece que o BC quer evitar qualquer apreciação adicional e que vê um nível ao redor de R$ 3,50 como sendo uma linha na areia", escreveram os analistas do Commerzbank. "Dada a tendência de leve depreciação do dólar no momento, esperamos que o BC continue com essas intervenções no curto prazo."
Como o BC não deixou tão transparente sua estratégia em relação à intervenção no câmbio, na visão de muitos analistas, o mercado vai passar a testar um piso para o dólar, daí a moeda já ter começado esta terça-feira em forte baixa com a ausência de leilões de swap reverso.
Sem esses leilões, o mercado provavelmente vai testar de novo os níveis entre R$ 3,50 e R$ 3,54. Se o dólar recuar para esse patamar, é esperar para ver se o BC aparece e age.