Os fortes rumores de que Alexandre Tombini deixará o cargo de presidente do Banco Central, com a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ministro, alimentaram o temor de que os piores pesadelos dos investidores, como o uso das reservas cambiais para estimular a economia, estão perto de se tornar realidade.
Por volta das 11h30 de hoje, o líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), informou na sua conta no Twitter que Lula é o "novo ministro da Casa Civil".
"O mercado vai interpretar (a saída de Tombini do BC) como sinal inequívoco de que um 'kit barbaridade' na política econômica será implantado", comentou a esta coluna um experiente economista paulista.
Na abertura dos negócios nesta quarta-feira, o dólar à vista subia 0,82%, a R$ 3,7922, e os contratos futuros de juros, com vencimento em 2021 se aproximava de 15%, ante 14,60% no ajuste anterior.
Já o economista-chefe de um grande fundo de investimentos do Rio de Janeiro fez a seguinte ponderação:
"Tombini é o melhor banqueiro central do mundo ou foi o mais eficiente para perseguir a meta de inflação? Não. Mas nem de longe ele é um louco para admitir adotar o uso das reservas cambiais ou outras medidas drásticas", disse.
Leia-se redução da taxa de juros enquanto as expectativas inflacionárias recomendariam o contrário.
Até o momento, muitos interlocutores desta coluna consideram altamente provável a saída de Tombini caso Lula venha a assumir um ministério no governo Dilma. Mas ninguém ouvido por esta coluna arrisca um palpite sobre quem sucederia Tombini no Banco Central.
"Quem aceitaria assumir o BC nessas condições?", indagou um grande gestor de fundos, em São Paulo.
Primeiro, porque o ex-presidente já não é mais aquele que, quando assumiu o poder pela primeira vez em 2003, apoiou um clássico ajuste ortodoxo na economia, dando carta branca para Antonio Palocci, seu ministro da Fazenda, e Henrique Meirelles, à frente do BC, para promover um aperto fiscal e monetário.
Naquela época, o capital político de Lula era enorme, tratado até como estrela de cinema quando das suas primeiras aparições públicas após ter vencido as eleições presidenciais de 2002.
Também na ocasião do ajuste ortodoxo, Lula não tinha opção: o País estava à beira da insolvência, sem linhas de crédito no mercado internacional e enfrentando uma desconfiança dos investidores por um petista assumir o comando do Brasil.
Hoje, não.
Lula depende muito do PT e dos movimentos sociais na sua cruzada para escapar das investigações da Lava Jato.
A imagem dele está bastante desgastada, com sua taxa de rejeição em níveis recordes, depois dos vazamentos de delações premiadas que o envolveram diretamente ao esquema de propinas da Petrobras.
Além disso, é profunda a recessão que o Brasil enfrenta, com o desemprego devendo superar os dois dígitos ao longo deste ano.
Salvar-se, ao menos no âmbito da opinião pública, passa necessariamente por tirar a economia brasileira da depressão.
E se o Brasil não tem mais fôlego fiscal para estimular a atividade econômica com injeção de crédito e gasto público, a alternativa que emerge mais recorrentemente é o uso das reservas cambiais, atualmente em US$ 372,4 bilhões.
Assim, se for anunciado hoje o nome de Lula como superministro do governo Dilma, o quão provável é a adoção do "kit barbaridades"?
"Embora no momento atual nada possa ser descartado, acho muito difícil", disse o experiente economista paulista. "A) não é o perfil do Lula, sempre muito pragmático (ele, no máximo, vai sinalizar alguma flexibilização da política atual, engavetar a reforma da Previdência, mas nada radical); e B) seria um atalho para o fim: a piora do ambiente financeiro e consequentemente econômico seria muito rápida e profunda."
Outros interlocutores desta coluna, todavia, não creem que Lula será tão pragmático devido a pressões que sofre neste momento, especialmente vindas da Lava Jato.
A Lula interessa salvar-se e não salvar o País, como em 2003. E isso requer manter o apoio dos militantes do PT e dos movimentos sindicais e sociais, os quais clamam por uma política econômica de estímulos e gastos públicos para reverter a recessão - e não por ajustes fiscais, como tentaram fazer Joaquim Levy e, em menor grau, Nelson Barbosa.
"A saída de Tombini seria um sinal de que Lula está chegando não é para fazer coisas boas", resumiu o economista-chefe do fundo carioca.