Não foi apenas o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, quem empenhou seu nome para convencer a agência de rating Standard & Poor's (S&P) a manter a classificação de risco soberano do Brasil com status de grau de investimento, além de reafirmar o "outlook" (perspectiva) da nota em estável.
Lisa Schineller, a principal analista para Brasil da S&P, está bancando a sua credibilidade ao dar um grande voto de confiança ao ministro - mais do que propriamente ao governo Dilma Rousseff - de que o ajuste fiscal será aprovado sem grande diluição pelo Congresso e de que o aperto nas contas públicas vai ser executado rigorosamente.
Um executivo financeiro ouvido por esta coluna caracterizou a S&P, no tocante ao "timing" do anúncio da sua decisão, como "eager" (ansioso, ávido, na tradução em inglês), especialmente porque antes de esperar para ver como o governo vai se sair na votação no Congresso das Medidas Provisórias 664 e 665, as que tratam dos benefícios previdenciários e trabalhistas.
Na nota que acompanhou sua decisão ontem, a S&P disse acreditar que, "em última instância", o ajuste fiscal terá o apoio dos parlamentares brasileiros.
Para um experiente economista paulista, também em conversa com esta coluna, muito provavelmente Lisa Schineller saiu do Brasil, após encontros com a equipe econômica de Dilma, com alguma garantia em relação ao tamanho do contingenciamento do Orçamento já aprovado pelo Congresso. E isso poderia ter contribuído para o voto de confiança dela a Levy.
Espera-se para breve a publicação do decreto que cortará os gastos do governo. De certa forma, o mercado já trabalha com uma dimensão do tamanho desse contingenciamento, quando o governo limitou, no final de fevereiro, as despesas com custeio e investimentos a R$ 75 bilhões para o primeiro quadrimestre deste ano, o que apontou para um contingenciamento de R$ 58 bilhões em 12 meses.
É bem provável, na visão de interlocutores desta coluna, que o ministro Levy tenha adiantado, para os representantes da S&P, o valor a ser contingenciado no Orçamento.
Qualquer número abaixo de R$ 60 bilhões certamente teria decepcionado a principal analista da agência de rating.
O fato é que, se os investidores e analistas não se surpreenderam com a decisão da S&P, cuja nota BBB- com perspectiva estável já estava num nível pior em relação à avaliação da Moody's e da Fitch Ratings, o seu anúncio veio um tanto mais cedo do que se esperava.
Sim, a S&P destacou o ambiente político e econômico "desafiador" em meio "a uma forte queda nos índices de aprovação de seu governo (Dilma), à contração econômica e a investigações de corrupção na Petrobras". Mas a agência disse acreditar que a manutenção da nota e do "outlook" estável tem como premissa que o ajuste de políticas em curso terá o apoio da presidente Dilma e, em última instância, do Congresso.
Tal afirmação da S&P poderia ter maior endosso da realidade se a agência esperasse algumas semanas para ver se, de fato, o envolvimento de Levy na negociação do ajuste com os líderes da Câmara e do Senado resultará numa aprovação das MPs com um mínimo de diluição possível do esforço fiscal no Congresso.
Prematura ou não, a manutenção do rating BBB- e da perspectiva estável pela S&P tira uma grande incerteza que vinha pesando negativamente nos preços dos ativos.
Por sua vez, o governo ganha um endosso de credibilidade num momento politicamente delicado para a presidente Dilma Rousseff.
E, de quebra, há quem acredite que as outras agências de rating possam antecipar um voto de confiança no governo antes de ver o resultado de algumas votações importantes do ajuste no Congresso, além do desempenho da atividade econômica e dos desdobramentos políticos das investigações no âmbito da Operação Lava Jato.
Na teleconferência que fez com investidores, analistas e jornalistas na manhã desta terça-feira para explicar a decisão de manter a nota e o outlook, Lisa Schineller disse que a execução mês a mês do ajuste nas contas públicas ao longo de 2015 será importante na avaliação do risco soberano do Brasil.
Com isso, o governo Dilma ganhou tempo, assim como o ministro da Fazenda terá até o final deste ano para provar a Lisa que o voto de confiança dela não foi apenas com base no "track record" (ou histórico) de Levy, ex-secretário do Tesouro de 2003 a 2006 e um dos responsáveis por levar o Brasil ao tão almejado grau de investimento.
* Fábio Alves é jornalista do Broadcast