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Economia e políticas públicas

Opinião|A inflação e os alimentos

Grãos sobem e pressionam inflação, mas isso não deve interferir nos planos do Banco Central.

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Atualização:

A alta do preço dos alimentos não deve alterar os planos do Banco Central (BC) em termos do esperado ciclo de queda da Selic, de acordo com analistas ouvidos pela coluna.

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Marco Franklin, sócio da gestora Platina Investimentos, no Rio, faz um acompanhamento detalhado da produção de grãos e dos fatores climáticos e de mercado que a influenciam. Para ele, a alta dos alimentos prejudica a inflação de 2016, mas até abre espaço para uma queda mais expressiva em 2017.

Nos últimos três meses, ele recapitula, houve aumento de 20% do preço internacional do milho e de quase 35% no da soja, ligado a problemas nas safras do hemisfério Sul. Ocorreu quebra da safra de soja na Argentina e decepção em relação à brasileira.

No caso do milho no Brasil, diz Franklin, "a quebra da safrinha foi muito expressiva - a expectativa era de 57 milhões de toneladas e deve ser em torno de 48 milhões".

Como resultado, prossegue o analista, o milho vem sendo negociado no mercado doméstico com prêmio de 50% em relação a Chicago. Ele prevê que a partir de junho a pressão cairá, mas o preço não vai se regularizar. "Um ágio, em nível menor, deve se manter por mais um ano, e só vai voltar ao normal na safrinha de 2017".

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Segundo Franklin, "o problema hoje não é comprar milho a qualquer preço, é achar milho para comprar". A alta dos grãos eleva o preço da ração e afeta as aves, bovinos e suínos.

O relativo otimismo do gestor para 2017 baseia-se em parte nos prognósticos para safra norte-americana de grãos. O clima seco tem permitido um plantio acelerado, o que diminui os riscos do ciclo de produção, e relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) aponta que a qualidade da lavoura, tanto no caso da soja quanto do milho, é muito boa.

Adicionalmente, os preços altos dos grãos no mercado brasileiro podem estimular o plantio, embora, neste caso, Franklin ressalve que a quebra de safras recentes descapitalizou o setor.

Outro fator que pode ter contribuído para a alta recente dos grãos, segundo o economista, é o aumento das importações pela China. Quanto a questões climáticas, ele diz que a discussão atual sobre uma possível La Niña (resfriamento das águas do Pacífico na costa da América do Sul) aponta que o fenômeno aconteceria mais no final do ano, e não prejudicaria a safra americana de 2016/2017.

Em resumo, Franklin diz que "em termos de preços de grãos, o estrago está feito, e os preços tendem a se manter ou até cair, se o mercado se reequilibrar". Ele nota que o milho no mercado nacional, cuja saca fechou ontem a R$ 53,20, tem seu contrato para setembro na BM&F negociado a R$ 43,30. "Os preços dos alimentos devem puxar a inflação este ano e abrir espaço para desinflacionar em 2017", conclui Franklin.

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Alexandre Ázara, economista-chefe da gestora Mauá Capital, considera que os alimentos, por serem movidos por componentes sazonais e climáticos, não mudam as projeções de longo prazo da inflação. "Minha projeção para este ano é de 6,8%, mas, mesmo supondo que vá a 7%, isto não muda o fato de que a inflação tem tudo para ficar entre 5% e 5,5% em 2017", ele diz.

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Já Alexandre Póvoa, sócio-fundador gestora Canepa, preocupa-se com a corrente de mercado que ele considera excessivamente otimista quanto à capacidade de o Banco Central cortar juros no curtíssimo prazo. O analista acha que a inércia inflacionária, reforçada pelos erros dos últimos anos da política monetária e fiscal, afeta mesmo o preço dos alimentos. "É claro que tem muito a ver com clima e outros fatores, mas se a demanda estivesse comandando a história, numa recessão desta magnitude haveria menor capacidade de repassar, mesmo com os choques de oferta". (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é jornalista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 7/6/16, terça-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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