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Economia e políticas públicas

Opinião|A OCDE e a inflação global

Relatório trimestral divulgado hoje (1/12) pelo "clube dos países ricos" (mas que hoje já tem vários emergentes) prevê que inflação se normaliza em 2023, mas com riscos consideráveis no caminho.

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Atualização:

No relatório trimestral sobre a economia global divulgado hoje, a OCDE faz uma recomendação que poderia muito bem ter sido endereçada especificamente ao Banco Central do Brasil: "As autoridades monetárias deveriam se comunicar claramente sobre até que extensão o desvio para cima da inflação em relação à meta será tolerado, para ajudar a evitar flutuações excessivas nas taxas de juros de longo prazo de mercado".

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Como se sabe, o BC reluta em admitir que a meta de inflação de 3,5% de 2022 se tornou virtualmente impossível de atingir (a não ser por uma elevação de juros que leve a uma recessão catastrófica). Essa resistência, por sua vez, deixa os mercados sem pistas do que seria o verdadeiro limite tolerável para a autoridade monetária de desvio da inflação em relação à meta em 2022. O que não ajuda a "evitar flutuações excessivas nas taxas de juros de longo prazo de mercado".

A alta global da inflação, aliás, é um tema central nesse relatório trimestral da OCDE. O documento nota que os preços do petróleo mais do que dobraram desde junho de 2020, período no qual a produção global ficou abaixo do nível de 2019. Um comportamento similar foi registrado para carvão, alguns metais e diversas commodities agrícolas e industriais. Em particular, os preços do gás e os custos de eletricidade dispararam, e o relatório dedica um boxe apenas a esse tema.

Nessa seção, o documento aponta que a alta do carvão e do gás natural até o pico no início de outubro foi de, respectivamente, oito e 18 vezes, com alguma moderação desde então. Em todas as commodities ligadas à energia, o fator comum foi oferta restrita e o aumento da demanda com a reabertura das economias.

Mas o boxe aponta também vários fatores particulares, como eventos climáticos ou ligados à pandemia que afetaram negativamente a produção de petróleo, carvão e energia eólica,e positivamente a demanda por energia (como o inverno rigoroso na Europa).

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Em termos do desvio, causado pela pandemia, do consumode serviços para bens, pressionando o preço desses últimos, o relatório trimestral da OCDE nota que o fenômeno foi bem mais intenso nos Estados Unidos do que na Europa. Nas economias avançadas como um todo, a mediana da inflação de bens se situa até as últimas leituras em torno de 5%, enquanto a inflação de serviços está em 2%.

A OCDE projeta para 2022 inflação de 4,5% para o conjunto de países membros (38 nações, incluindo quase todo o mundo desenvolvido e uma minoria de emergentes), e 3,5% para as economias avançadas. Mas a organização prevê que o "típico" país rico volte à faixa tradicional de inflação de 2% em 2023, com exceção dos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, onde o aperto monetário deve ir um pouco mais longe.

Porém, para a OCDE, os riscos de que esse cenário básico benigno não se materialize são altos -  especialmente o de que os atuais gargalos logísticos e produtivos, que estão pressionando os preços dos bens, revelem-se ainda mais prolongados, severos e disseminados do que se prevê. Esse risco se soma e se retroalimenta com o da alta das expectativas inflacionárias e das pressões salariais.

Uma eventual nova piora contundente da pandemia, seja em termos globais ou em áreas geográficas vitais para as cadeias produtivas globais, como a Ásia, aumentam o risco de prolongamento e agravamento dos gargalos.

Por enquanto, o relatório mostra que entre 35% e 40% das empresas americanas esperam que os nós logísticos da pandemia, como atrasos de produção, atrasos de transporte e indisponibilidade de insumos, durem até o segundo semestre de 2022. Uma proporção menor, mas ainda significativa de empresas, prevê o fim dos gargalos ainda no primeiro semestre do próximo ano.

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Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 1/12/2021, quarta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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