Um novo pacote de pesquisas saídas do forno indica que o cenário eleitoral com a volta de Lula à corrida presidencial é bastante complexo.
Há boas e más notícias para Lula, para Bolsonaro e para um candidatura de "terceira via".
Começando por Lula, fica confirmado que a sua volta ao combate presidencial foi de fato estrondosa.
Na pesquisa XP/Ipespe, coletada de 9 a 11 de março - já após o cancelamento das condenações de Lula por Edson Facchin em 8/3 -, a intenção de votos em Lula no 1º turno na pesquisa espontânea, sem apresentação prévia de nomes, vai a 17%. Na rodada anterior, em fevereiro, era apenas de 5%. Lula numa tacada só chegou perto de Bolsonaro, com 25% de intenção de votos na mesma pergunta.
Por outro lado, Lula terá que lidar com o fato de que, ao contrário do que exaltadamente tenta vender para o eleitorado, a anulação das condenações não é vista pela maioria como a absolvição do ex-presidente de qualquer ato de corrupção.
Na pesquisa da XP/Ipespe, 52% dos consultados desaprovam a extinção das condenações de Lula, e 40% aprovam. Já na pesquisa Exame Invest Pro (foi a campo em 10 e 11 de março), 54% consideram injusta a anulação das condenações de Lula na Lava-Jato e 33% consideram justa.
Na pesquisa XP/Ipespe, a característica desejável para o próximo presidente mais citada, com 35% de menções, é justamente "ser honesto".
E, na pergunta da pesquisa Exame Invest Pro sobre em quem o consultado "não votaria de jeito nenhum", Lula, com 42%, aparece com mais rejeição que Bolsonaro, com 38%.
Em relação a Bolsonaro, as más notícias abundam. Por exemplo, não é fato novo que, na pesquisa XP/Ipespe, Lula e Bolsonaro estão empatados num eventual segundo turno (41% para o atual presidente, 40% para o petista). Na verdade, há praticamente um empate técnico desde o início do mandato de Bolsonaro, mas que ficou ainda mais apertado a partir de abril de 2020.
O problema é que, até a decisão de Facchin, havia dúvidas se Lula poderia concorrer (na situação legal em que se encontrava, não poderia). Então o atual presidente não precisava se preocupar tanto com aquele empate técnico. Agora, provavelmente está alarmado.
Quanto à relação entre Bolsonaro e os eleitores, praticamente só há notícias ruins para o presidente.
Na XP/Ipespe, a popularidade do governo continuou a piorar, com 45% de ruim e péssimo, e 30% de ótimo e bom em março (ante, respectivamente, 42% e 31% em fevereiro). Ainda não se chegou ao pico de impopularidade anterior, em maio de 2020 (50% de ruim e péssimo, 25% de ótimo e bom), mas se está na trilha.
Os números de uma terceira pesquisa (também da Exame Invest Pro) sobre avaliação do governo, pandemia e privatizações são ainda piores. Em março, Bolsonaro tem 46% de ruim e péssimo e apenas 28% de bom e ótimo.
A gestão insana da pandemia pelo atual presidente, como seria de se esperar, é um grande calcanhar de Aquiles. Segundo a XP/Ipespe, em março, 61% consideram a atuação de Bolsonaro para enfrentar o coronavírus ruim e péssima, e apenas 18% acham ótima e boa. Esses números eram de, respectivamente, 53% e 22% em fevereiro.
O presidente fez uma grande aposta na pregação contra o lockdown, o que poderia lhe render popularidade entre a população humilde em situação financeira crítica por não poder trabalhar. Mas a pesquisa Exame Invest Pro indica que 53% das pessoas aprovam o lockdown, e apenas 22% desaprovam. 52% culpam o presidente pela lenta vacinação no Brasil, e apenas 19% responsabilizam os governadores.
A avassaladora segunda onda no Brasil está claramente influenciando essas opiniões. Em março, segunda a XP/Ipespe, 49% declararam estar com muito medo do coronavírus, 30% disseram tem um pouco de medo e 18% relataram não ter medo. Em fevereiro, esses números foram de 39% (muito medo), 36% (um pouco de medo) e 24% (sem medo).
Mas quais seriam as boas notícias para Bolsonaro?
Em primeiro lugar, no âmbito do "copo meio cheio ou meio vazio", o empate técnico com Lula no segundo turno poderia até ser lido como uma boa notícia.
Primeiro, porque não é novo e não foi alterado com o arranque do ex-presidente na intenção de votos espontânea e nas simulações de primeiro turno. Lula saltou com força nessas duas últimas consultas pós-anulação das condenações, mas ainda fica atrás de Bolsonaro. E, no segundo turno contra Bolsonaro, Lula permaneceu onde estava (na pesquisa Exame Invest Pro, na verdade, o atual presidente bate Lula na simulação de segundo turno por 44% a 37%).
Considerando-se que Bolsonaro está num dos piores momentos do seu governo (que pode piorar ainda mais, é verdade), com a explosão da segunda onda, vacinação lenta e deterioração econômica, estar à frente de Lula no primeiro turno e na pesquisa espontânea e empatado no segundo turno pode até ser visto com uma luz positiva.
Para isso, é preciso supor que os problemas sanitários e econômicos melhorem antes da eleição. No primeiro front, espera-se que até meados do ano a vacinação consiga chegar a uma porção suficiente da população para fazer regredir a pandemia. Na economia, o cenário é mais turvo.
De qualquer forma, ainda resta a Bolsonaro tentar governar bem (é pedir muito, o colunista sabe) para, possivelmente, com o País melhor do que hoje, ele possa superar Lula num segundo turno.
Resta, finalmente, a terceira via. A má notícia é que, com a curiosa exceção de Sergio Moro - agora, ele próprio às voltas com potenciais problemas legais -, todos os pretendentes perdem para Bolsonaro no segundo turno; e, agora incluindo Moro, nenhum chega nem à metade das intenções de voto do presidente nas consultas sobre o primeiro turno.
Por outro lado, numa pergunta da Exame Invest Pro sobre a frase "eu gostaria que o(a) próximo(a) presidente não fosse nem o Lula nem o Bolsonaro", 38% concordam, 33% discordam e o restante não concorda nem discorda ou não sabe.
Segundo Maurício Moura, fundador do Ideia, instituto especializado em opinião pública, em declaração que consta do material sobre a pesquisa Exame Invest Pro, "Jair Bolsonaro segue favorito, mas não será simples nem para ele nem para o ex-presidente Lula. Há uma demanda evidente de opinião pública por uma terceira via. Maior mesmo se comparada aos tempos da polarização PT-PSDB. Só falta a oferta".
Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)
Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 12/3/2021, sexta-feira.