"Eu evitaria colocar qualquer lenha na fogueira em termos de inflação, ainda que as medidas possam estar corretas do ponto de vista microeconômico", analisa Loyola.
O economista pondera que a mudança no compulsório de hoje pode ser vista na perspectiva do processo de ajuste das condições que foram alteradas a partir do final de 2010, quando foram tomadas medidas macroprudenciais para esfriar a temperatura do crédito na economia.
Assim, como atualmente o crédito cresce num ritmo bem mais moderado e a inadimplência está baixa, a liberação de compulsórios faz sentido do ponto de vista do papel do Banco Central de zelar pela solidez e equilíbrio do sistema financeiro.
O problema, ele continua, é que nem sempre a lógica do papel de guardião do bom funcionamento do sistema financeiro harmoniza-se com o outro papel do BC, de controlar a demanda tendo em vista o combate à inflação. Em teoria, pode haver uma situação de baixa inflação e excessos no mercado de crédito que pediriam aperto macroprudencial, e vice-versa. Coordenar os dois papéis, portanto, não é nada trivial.
No caso do Brasil, Loyola vê ainda um fator adicional que joga luz na decisão do BC de hoje. Na verdade, mais que a calibragem dos compulsórios e outras medidas de caráter macroprudencial, o que puxou a expansão de crédito no Brasil recentemente foram os bancos públicos, que inclusive ganharam 'market-share' dos privados, que optaram por uma estratégia de maior contenção.
Segundo o diretor da Tendências, a partir do segundo semestre do ano passado, os bancos públicos moderaram a sua atuação, o que provavelmente foi a causa mais importante para que o crédito tenha desacelerado, de tal forma que as medidas de hoje passam a fazer sentido do ponto de vista microeconômico.
Ainda assim, Loyola acha que o momento não foi o mais adequado para a liberação de compulsórios (embora ele ache que os ajustes de requerimento de capital fazem sentido como alinhamento aos padrões de Basileia de regulação bancária).
A sua discordância, explica o economista, está em boa parte ligada ao diagnóstico sobre a inflação. "Ao contrário do BC, eu não vejo trajetória de convergência para o centro da meta", diz Loyola. Ele acrescenta que a política fiscal expansionista também não contribui com a estratégia anti-inflacionária do BC.
Fernando Dantas é jornalista da Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)
Esta nota foi publicada pela AE-News/Broadcast em 25/7/2014, sexta-feira.