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Economia e políticas públicas

Opinião|Certo no micro, duvidoso no macro

Gustavo Loyola, diretor e sócio da consultoria Tendências, e ex-presidente do Banco Central, diz que não tomaria as medidas de expansão de liquidez por meio de liberação de compulsórios, anunciadas na sexta-feira, 28 de julho, pelo BC, mesmo considerando que elas são justificáveis do ponto de vista estrito do mercado de crédito.

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Atualização:

"Eu evitaria colocar qualquer lenha na fogueira em termos de inflação, ainda que as medidas possam estar corretas do ponto de vista microeconômico", analisa Loyola.

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O economista pondera que a mudança no compulsório de hoje pode ser vista na perspectiva do processo de ajuste das condições que foram alteradas a partir do final de 2010, quando foram tomadas medidas macroprudenciais para esfriar a temperatura do crédito na economia.

Assim, como atualmente o crédito cresce num ritmo bem mais moderado e a inadimplência está baixa, a liberação de compulsórios faz sentido do ponto de vista do papel do Banco Central de zelar pela solidez e equilíbrio do sistema financeiro.

O problema, ele continua, é que nem sempre a lógica do papel de guardião do bom funcionamento do sistema financeiro harmoniza-se com o outro papel do BC, de controlar a demanda tendo em vista o combate à inflação. Em teoria, pode haver uma situação de baixa inflação e excessos no mercado de crédito que pediriam aperto macroprudencial, e vice-versa. Coordenar os dois papéis, portanto, não é nada trivial.

No caso do Brasil, Loyola vê ainda um fator adicional que joga luz na decisão do BC de hoje. Na verdade, mais que a calibragem dos compulsórios e outras medidas de caráter macroprudencial, o que puxou a expansão de crédito no Brasil recentemente foram os bancos públicos, que inclusive ganharam 'market-share' dos privados, que optaram por uma estratégia de maior contenção.

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Segundo o diretor da Tendências, a partir do segundo semestre do ano passado, os bancos públicos moderaram a sua atuação, o que provavelmente foi a causa mais importante para que o crédito tenha desacelerado, de tal forma que as medidas de hoje passam a fazer sentido do ponto de vista microeconômico.

Ainda assim, Loyola acha que o momento não foi o mais adequado para a liberação de compulsórios (embora ele ache que os ajustes de requerimento de capital fazem sentido como alinhamento aos padrões de Basileia de regulação bancária).

A sua discordância, explica o economista, está em boa parte ligada ao diagnóstico sobre a inflação. "Ao contrário do BC, eu não vejo trajetória de convergência para o centro da meta", diz Loyola. Ele acrescenta que a política fiscal expansionista também não contribui com a estratégia anti-inflacionária do BC.

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta nota foi publicada pela AE-News/Broadcast em 25/7/2014, sexta-feira.

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Opinião por Fernando Dantas
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