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Economia e políticas públicas

Opinião|China avança nos semicondutores

Estudo do economista do Uallace Moreira aponta que política industrial chinesa na área de chips é importante instrumento para superar armadilha da renda média.

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Atualização:

Em recente texto para discussão do IPEA, o economista Uallace Moreira, da Universidade Federal da Bahia e consultor do Programa Executivo de Cooperação CEPAL/IPEA, analisa as estratégias de "catching-up" e "leapfrogging" (poderia ser traduzido como, respectivamente, "recuperando terreno" e "dando saltos para frente") na China como parte da estratégia de superação da armadilha da renda média.

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O foco do trabalho é no setor de semicondutores, utilizando o arcabouço teórico e metodológico chamado de sistema setorial de inovação (SSI, na sigla em inglês) e modelos de catch-up.

A análise do SSI se baseia em "blocos". O primeiro, de regimes tecnológicos e de conhecimento, refere-se à probabilidade de sucesso no desenvolvimento de tecnologias ou produtos específicos por empresas e atores econômicos.

O segundo bloco, as condições de demanda, está ligado ao possível sucesso nos mercados de tecnologias e produtos desenvolvidos pelos países. O terceiro bloco são os atores estratégicos, isto é, empresas, governo, sistemas financeiros etc.

Segundo Moreira, "nesse modelo, o nível de capacidade tecnológica e a decisão estratégica das empresas de como lidar com as condições de demanda e com os sistemas de conhecimento fornecidos são essenciais para um catch-up bem-sucedido".

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O economista ressalta que a ação governamental exerce papel essencial em termos de "políticas de apoio a P&D, promoção da concorrência, proteção de empresas domésticas, criação de institutos avançados de pesquisa do governo, como também apoio ao empreendedorismo".

Outro ponto importante é a atuação de universidades e laboratórios públicos na oferta de treinamento avançado de capital humano em ciência, engenharia e administração; e diretamente pela pesquisa em áreas importantes para as empresas nacionais.

O trabalho historia a política industrial chinesa nas últimas décadas, e Moreira nota que essa atividade na China está atualmente associada às políticas de inovação, diferenciando-se "das políticas tradicionais dos anos 1960 e 1970, que priorizavam a expansão da capacidade física, e da busca por aumento da competitividade, perseguida na década de 1990".

O estudo também dedica bom espaço a detalhar o plano Made in China (MIC) 2025, anunciado em 2015, e que é a mais conhecida iniciativa de política chinesa no âmbito global, voltada a ecologia, inovação, qualidade, custo e integração de industrialização e informação (I&I).

De acordo com Moreira, "muito além dos subsídios industriais clássicos, a implementação do MIC 2025 é apoiada por uma grande variedade de ferramentas financeiras, que vão desde esquemas de compensação de seguro a incentivos fiscais, financiamento facilitado para pequenas e médias empresas e financiamento direto para zonas de demonstração e projetos-piloto".

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Embora não haja números oficiais, o economista estima que a China esteja gastando centenas de bilhões de reais no MIC 2025.

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Em relação aos semicondutores, apesar de a maior parcela do faturamento global do setor se dar na China, as empresas americanas lideram as vendas, com quase 50% de participação no mercado global, ante 5% da China. Os dados são de 2020.

Chamando a atenção para a "guerra tecnológica" entre Estados Unidos e China no setor - como a revisão de regras de exportação pelos americanos para atingir a Huawei -, Moreira reconta os esforços chineses para desenvolver semicondutores: desde o planejamento estatal com foco na inovação local dos anos 50 aos 90 até, após erros e revisões, a atual pletora de ações mecanismos, incluindo apoio político e isenções fiscais a empresas, projetos governamentais, fusões e aquisições, condicionalidade para investimento direto estrangeiro, criação e reforço de instituições de pesquisa especializadas etc.

O papel de Taiwan, onde estão diversas das principais "foundries" - produtor de semicondutores que faz chips para outras empresas - do mundo, também é destacado.

Na conclusão, Moreira nota que a China, embora já seja um player global em semicondutores, "ainda opera com maior proeminência na cadeia produtiva menos intensiva em tecnologia". Mas os indicadores apontam que o país está avançando na direção dos elos da cadeia mais perto da fronteira tecnológica, especialmente por meio de empresas locais.

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Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 8/8/2022, segunda-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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