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Economia e políticas públicas

Opinião|Chover é bom para o PIB

Diretora do BC apresenta impacto de falta de chuvas até o ano passado no PIB similar ao calculado anteriormente por Bráulio Borges, da LCA e do Ibre-FGV. A boa notícia é que agora está chovendo.

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Atualização:

Fernanda Guardado, diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), disse na terça, 31/5, durante painel do Banco de Compensações Internacionais (BIS) que as chuvas abaixo da média histórica subtraem aproximadamente 1,5 ponto porcentual (pp) do PIB brasileiro ao ano.

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Quem levantou detalhadamente essa questão desde o ano passado foi Bráulio Borges, economista sênior da LCA e pesquisador associado do Ibre-FGV.

Em dois artigos ( e ) no Blog do Ibre, o economista estimou - com um exercício econométrico envolvendo dados do regime de chuva e vários indicadores exógenos internacionais e domésticos - que as precipitações abaixo da média histórica no período entre 2012 e 2021 subtraíram cerca de 1,6pp ao ano em média da taxa de variação do PIB brasileiro.

Os principais canais da escassez de chuvas na atividade econômica são as crises energéticas e as quebras de safras agrícolas, com todas as ramificações no agronegócio.

O trabalho de Borges foi recebido por alguns analistas com ceticismo e até ironia, mas seu número é praticamente igual àquele citado por Guardado no evento do BIS.

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O mais relevante no momento, porém, segundo o economista, é notar que a situação mudou radicalmente desde o ano passado, durante boa parte do qual as chuvas ficaram 25-30% abaixo da média histórica.

A partir aproximadamente de outubro de 2021, começou a chover bem mais, e desde então as chuvas estão próximas da média histórica.

Segundo Borges, esse é um dos fatores relevantes para explicar por que as estimativas de crescimento do PIB brasileiro em 2022 subiram tanto desde o final do ano passado.

Algumas instituições chegaram a prever, na ponta mais pessimista, queda do PIB de 2022 na virada do ano. Hoje, na ponta mais otimista, já há quem veja crescimento de 2%.

O próprio Roberto Campos Neto, presidente do BC, disse ontem que a autoridade monetária poderá revisar sua projeção de alta PIB em 2022 para 1,5-2%.

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Obviamente, há vários fatores por detrás dessa mudança. A alta das commodities, que já vinha ocorrendo em função de fatores pós-pandemia e se acentuou com a guerra da Ucrânia, é favorável a um país exportador líquido de matérias-primas como o Brasil.

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Adicionalmente, o governo está tomando todas as medidas que pode para estimular a economia e colocar mais dinheiro nas mãos da população neste ano eleitoral, do Auxílio Brasil ao adiantamento do décimo-terceiro do funcionalismo aos resgates do FGTS.

Mas Borges não tem dúvidas de que a normalização do regime de chuvas também tem papel importante na melhora das perspectivas da atividade econômica este ano.

Para tomar apenas um exemplo do impacto positivo das chuvas na economia, ele nota que o PIB agropecuário recuou 0,2% em 2021 (sendo que um dos fatores importantes foi a seca), e em 2022 deverá crescer 3,5%, de acordo com a projeção da LCA.

O economista vê a restrição do regime de poucas chuvas, que começou em 2012, saindo de cena no curto prazo. Para ele, trata-se não de um choque de oferta favorável, mas da reversão de um choque de oferta desfavorável.

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O efeito pode ser benfazejo tanto no PIB quanto na inflação, ele diz. Na seara dos preços, o pesquisador menciona projeção de deflação da energia elétrica de quase 10% no IPCA este ano e os efeitos favoráveis de uma safra maior no custo dos alimentos. Claro que a simples melhora da demanda pelo efeito positivo da chuvas no PIB pode trazer alguma pressão inflacionária, mas Borges destaca que os efeitos desinflacionários da reversão do choque de oferta são consideráveis.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 1/6/2022, quarta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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