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Economia e políticas públicas

Opinião|Economista próximo ao PSDB aposta em Levy

Mansueto Almeida, do Ipea, foi um dos principais assessores de Aécio na campanha. Agora, ele diz que Joaquim Levy reúne a capacitação técnica e a habilidade política para fazer um bom trabalho como ministro da Fazenda de Dilma Rousseff.

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Atualização:

"Algo de bom vai sair disso". A frase é de Mansueto de Almeida, economista do Ipea, um dos maiores especialistas em contas públicas do País e assessor econômico do candidato derrotado Aécio Neves durante a campanha. Mansueto refere-se a Joaquim Levy, o novo ministro da Fazenda da vitoriosa Dilma Rousseff (ainda a ser empossado). O economista do Ipea não está dizendo que, com Levy, todos os complexos desafios do País serão vencidos, mas apenas que, com ele, será melhor do que sem ele.

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Para Mansueto, Levy tem plena consciência das dificuldades de tocar uma agenda de ajuste fiscal e reequilíbrio macroeconômico num governo do PT, e reúne a capacitação técnica e a sensibilidade política para esta tarefa.

Ele lembra que Levy é um especialista não só em finanças federais mas também em finanças estaduais (foi secretário da Fazenda do Rio de Janeiro), e tem forte interlocução com o mercado financeiro, com o FMI e o establishment financeiro internacional e com as agências de rating.

Mansueto acha ainda que Levy de fato ganhou uma razoável autonomia para tocar a política econômica, mas sabe que o seu poder tende a ser decrescente, e que é preciso plantar bases sólidas para a sua concepção de política econômica num prazo relativamente curto de um ano e meio a dois.

O desafio inicial de Levy, para o assessor de Aécio na campanha, é mostrar para a presidente Dilma e para o núcleo do governo o tamanho real do problema fiscal. "Eu tenho a impressão de que a presidente acha que basta empatar o jogo para ganhar o campeonato, e o Joaquim terá de mostrar que, na verdade, é preciso vencer de três a zero", resume Mansueto.

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Nesse sentido, a cobertura crítica da imprensa sobre a política fiscal - que incomoda tanto aos atuais ministro da Fazenda, Guido Mantega, e secretário do Tesouro, Arno Augustin - só deve ajudar Levy a convencer Dilma e o governo de que a questão fiscal é mais grave do que julga a visão mais otimista.

Mansueto considera também que a meta de superávit primário de 1,2% do PIB para 2015 favorece o trabalho de Levy. O economista do Ipea considera este objetivo bastante difícil, dado o ponto de partida (as projeções são de saldo zerado em 2014, ou negativo quando se excluem as receitas não recorrentes). Uma meta puxada, a seu ver, será um suporte para que o ministro da Fazenda implante a reviravolta fiscal que está em seus planos.

Quanto à relação entre Levy e o novo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa (também ainda a ser empossado), Mansueto prevê harmonia a curto prazo, já que ambos estão focados no ajuste fiscal.

Ele acha, porém, que Barbosa, com sua orientação mais heterodoxa, conta com uma retomada do investimento e do crescimento - por conta de um câmbio mais desvalorizado - mais prematura do que a enxergada por Levy. Assim, mais adiante, Mansueto acha que pode chegar o momento em que o titular da Fazenda considere necessária uma dose maior de austeridade do que o ministro do Planejamento, que passaria a contar com o crescimento para dar suporte à sustentabilidade das contas públicas.

Uma outra dúvida de Mansueto é em relação à agenda microeconômica, que ele considera que fatalmente terá de ser encampada por Levy, como consequência das próprias ações na esfera macroeconômica.

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O economista do Ipea dá um exemplo. A necessária restrição ao expansionismo do BNDES (incluindo os repasses do Tesouro) é um ponto fundamental da agenda parafiscal que tem impacto direto sobre a dinâmica da dívida pública. O problema é que o BNDES financia hoje de 70% a 80% dos projetos de infraestrutura. Quando esta fonte minguar, será imprescindível mexer nas regras de concessão e do financiamento privado, incluindo aumentar a taxa de retorno dos projetos - temas espinhosos da agenda microeconômica.

Apesar das dificuldades à frente, Mansueto é positivo sobre as chances de sucesso de Levy: "Ele é muito motivado, é o tipo da pessoa que acorda entre 5 e 5:30 da manhã e já começa o dia trocando e-mails com um bando de gente - é um ótimo nome para encarar esse desafio".

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 2/12/14, terça-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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