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Economia e políticas públicas

Opinião|Empresário muito mais confiante que consumidor

Disparidade do ânimo de empresários (maior) e de consumidores em maio bate o recorde histórico (desde que a comparação é possível). Aloisio Campelo, da FGV, analisa o fenômeno.

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Atualização:

A diferença entre a confiança empresarial (maior) e a do consumidor bateu em maio o recorde histórico desde agosto de 2008, a partir de quando é possível fazer essa comparação.

Em maio de 2021, a confiança empresarial alcançou 97,7, já próxima do nível neutro de 100. Já a confiança do consumidor ficou em 76,2. A diferença, portanto, atingiu 21,5 pontos. Os dados são das sondagens de confiança da FGV, ajustados sazonalmente.

 Foto: Estadão

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Em março e abril, a diferença ficou em 17,3 pontos, também a maior da série até então. O mesmo pode ser dito dos 17,1 de divergência de janeiro deste ano. Fora esses pontos recentes, o recorde da série foi de 17 em fevereiro de 2010.

Esse contraste entre o estado de espírito de empresas e consumidores conversa, de certa forma, com a disparidade - notada neste espaço, em coluna da semana passada, pelo economista e consultor Alexandre Schwartsman - entre o crescimento do PIB e da demanda no primeiro trimestre.

O PIB expandiu-se 1,2% ante o quarto trimestre, na série dessazonalizada, enquanto a demanda, na mesma base de comparação, contraiu-se 0,6%, segundo o consultor.

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O risco dessas discrepâncias é que o ânimo bem mais contido do consumidor (no caso da confiança), relativamente aos empresários, venha a ser um freio na retomada da economia.

Por outro lado, como nota Aloisio Campelo, coordenador das sondagens de confiança no FGV-Ibre, "o consumidor não detém um conjunto de informações maior que o dos empresários".

Ele explica que essa confiança do consumidor muito inferior à das empresas é um sentimento, baseado em experiências concretas pelas quais as pessoas estão passando, mas que pode convergir mais adiante para a direção da confiança das empresas, caso a economia engrene uma recuperação contínua e sustentada.

Há o fato também de que a confiança do consumidor, independentemente da comparação com a empresarial, vem crescendo nos últimos meses. O ponto mais baixo recente foi em março, quando registrou 68,2.

Por outro lado, a confiança do consumidor, especialmente em relação ao momento presente (o índice também contém o componente de expectativas), está abalada por fatores muito concretos - que, a permanecerem, brecam de fato a melhora do ânimo econômico das famílias num ritmo mais compatível com uma retomada vigorosa da atividade.

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O primeiro é o desemprego, que permanece em nível extremamente elevado. O segundo é a inflação, também nos patamares em 12 meses mais altos em muito anos. Finalmente, há o endividamento das famílias, igualmente em nível incômodo.

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Campelo recapitula que tanto a confiança empresarial como a do consumidor despencaram em março e abril do ano passado, durante o choque inicial da pandemia. A partir desse ponto, ambas se recuperaram, mas a confiança das empresas em ritmo mais rápido.

No último trimestre, as duas começaram a recuar pela preocupação com o fim do auxílio emergencial e os primeiros sinais da segunda onda de Covid. No primeiro trimestre, o recuo se acelerou, com a segunda onda caminhando para o seu pico em abril (e ainda sem novo auxílio no primeiro tri).

Em abril e maio, tanto a confiança empresarial como a dos consumidores se recuperaram. Porém, novamente, o movimento nas empresas foi bem mais intenso.

A confiança empresarial já está no seu ponto mais alto desde 2014. A dos consumidores, muito longe disso. Essa diferença em algum momento vai diminuir. Tomara que seja pela convergência dos consumidores para a confiança dos empresários.

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Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 7/6/2021, segunda-feira.

 

Opinião por Fernando Dantas
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