Na quarta, dia 21/5, a divulgação de que foram criadas apenas 105.384 vagas formais no mercado de trabalho brasileiro, pior resultado pra o mês em 15 anos, também reiterou a tendência dos últimos meses de dados decepcionantes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. O Caged abrange todo o País, enquanto a PME se restringe às seis principais Regiões Metropolitanas
José Márcio Camargo, economista da gestora Opus, no Rio, e professor da PUC-Rio, nota que a queda da taxa de participação na PME, além de ser uma tendência prolongada, está bastante generalizada. Assim, entre meados de 2012 e o momento atual, a taxa de participação na PME dos homens recuou de 67% para 65%, e a das mulheres de 50% para 47,5%. De forma semelhante, todas as faixas etárias que participam do mercado de trabalho passam por quedas das taxas de participação, com o padrão aproximado do recuo sendo de que começou antes nos grupos mais jovens.
A renda real média dos ocupados em abril caiu 0,6% em relação a março, e subiu 2,6% ante abril do ano passado. Na verdade, os salários nominais continuam a subir a 9% ao ano, mas a alta da inflação já provoca um recuo "na margem", isto é, quando se comparam os dados mais recentes de aumento salarial e inflação. Em março, houve um recuo da renda real média de 0,3% ante fevereiro. Ainda assim, há um discreto avanço do rendimento real acumulado em 12 meses (ante os 12 meses anteriores), que foi de 2% em fevereiro, 2,25% em março e 2,35% em abril.
A população ocupada em abril cresceu apenas 0,1% em relação ao mesmo mês do ano passado, mas, na comparação com o mês antecedente (março, no caso), em que também houve expansão de 0,1%, o indicador pela primeira vez no ano entrou no campo positivo.
Outro dado que chamou a atenção na PME foi o recuo de 69 mil postos de trabalho na indústria, concentrado na região metropolitana de São Paulo.
A divulgação da PME de abril indica que a taxa de participação vai se cristalizando como uma das variáveis chaves para prever a tendência do desemprego no curto e médio prazo. Em relatório divulgado hoje, o economista e consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (BC), estimou que, se a taxa de participação tivesse permanecido na sua média histórica, a taxa de desemprego teria sido de 6,8% em abril, em alta ante 6,7% em março e 5,7% em abril do ano passado (sempre com a mesma hipótese). A taxa de participação em abril de 2014 foi de 55,7%, a menor para o mês desde 2002. A média histórica da taxa de participação, segundo Schwartsman, é de 57%.
As razões para a queda da taxa de participação são complexas, e a maior parte dos economistas admite que estão longe de perfeitamente compreendidas. São causas que combinam componentes estruturais e conjunturais, o que dificulta ainda mais o equacionamento. Por outro lado, Schwartsman nota já ter encontrado evidências de que os desvios da taxa de participação em relação à média histórica não duram muito, o que o faz prever (diante das fracas perspectivas de recuperação do emprego) que a taxa de desemprego deve subir em meados do ano.
Fernando Dantas é jornalista da Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)
Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast na quinta-feira, 23/5/2014