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Economia e políticas públicas

Opinião|Guedes na fogueira

Presidente admite que sofre pressões para demitir o ministro da Economia, escancarando o conflito entre a suposta agenda liberal do seu governo e os impulsos populistas crescentes em ano eleitoral.

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Atualização:

Não é um fato trivial o presidente da República dizer que sofre pressões para demitir o ministro da Economia, ainda mais se isso é dito no contexto de um conjunto de declarações que inclui mencionar que Bolsonaro "espera" que Guedes resolva a questão dos combustíveis nos próximos dias.

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Segundo um gestor de recursos no Rio, houve até certa piora do mercado pela manhã, quando as falas de Bolsonaro foram divulgadas - nada drástico, mesmo porque até agora o noticiário eleitoral não afetou de forma significativa os ativos brasileiros.

Mas, afinal, qual mensagem o presidente quis passar ao tocar no tema  de demissão do seu principal ministro?

Analistas e observadores ouvidos pela coluna não interpretaram as declarações presidenciais como sinal de que uma efetiva demissão de Guedes seria iminente. Mas Bolsonaro demonstra estar cada vez mais insatisfeito com a demora para uma "solução" para o problema do preço dos combustíveis.

Um segundo participante do sistema financeiro observa que "o mercado interpreta isso muito mais como uma pressão do que de fato uma vontade de trocar o Guedes; de qualquer forma é um sinal de que o Guedes vai ter que aceitar alguma solução maluca [para o problema do preço dos  combustíveis]".

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As falas de Bolsonaro, portanto, são mais um degrau de intensificação do conflito entre os impulsos populistas do governo e do Centrão, sua base parlamentar, e a política econômica supostamente liberal e ortodoxa que Guedes representa.

Evidentemente, o favoritismo de Lula - mesmo que não reconhecido por Bolsonaro, que alega não confiar nos institutos de pesquisa - acirra os ânimos do círculo presidencial e de seus principais aliados no Congresso.

Segundo Rafael Cortez, analista político da consultoria Tendências, "o ministro Guedes é crescentemente refém dos imperativos da reeleição, e esta campanha na parte econômica vai ser diferente, não será como a primeira, com toda a delegação de Bolsonaro para o ministro com aquela história do 'Posto Ipiranga', não será uma campanha de 'choque de liberalismo'".

Por outro lado, Cortez - pelo menos com as informações que até agora estão disponíveis - não vê nas declarações de Bolsonaro um sinal de iminente troca de Guedes. E a razão também é eleitoral, já que uma troca no comando da economia iria gerar barulho e incertezas adicionais que seriam prejudiciais à candidatura do atual presidente.

"Me parece mais um jogo retórico em que o presidente procura influenciar a agenda econômica na direção dos seus interesses", diz o analista da Tendências.

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E é por esse caminho que o imbróglio no momento centrado no Ministério da Economia preocupa o mercado. Como no caso dos precatórios e do auxílio emergencial de R$ 400, a sensação é de que Guedes vai fazer de tudo para encontrar uma fórmula de contentar Bolsonaro na queda de braço do preço dos combustíveis, o que significa que mais um casuísmo na contramão da responsabilidade fiscal está vindo por aí.

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Para Ricardo Ribeiro, analista político da  consultoria MCM, as falas de Bolsonaro sobre Guedes são um sinal claro que a temperatura das pressões sobre o ministro da Economia está subindo, embora o medo da reação do mercado a uma eventual demissão seja um freio para o presidente.

Ribeiro acrescenta que o problema tende a esquentar também porque o tempo está ficando curto, já que qualquer medida que dependa da tramitação no Congresso deve ocorrer antes do recesso, iniciado em 18 de julho. Além disso, quanto mais demorar uma "solução" para os preços dos combustíveis, menor o efeito potencial nas intenções de votos.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 7/6/2022, segunda-feira.

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Opinião por Fernando Dantas
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