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Economia e políticas públicas

Opinião|Indústria frustra na largada do ano

Produção industrial de janeiro veio bem pior do que expectativa mediana, lançando mais dúvidas sobre o já muito lento ritmo da retomada da economia brasileira.

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Atualização:

O ano começou mal pelo lado da produção, o que deve reforçar a guerrilha a favor de novos cortes da Selic. A produção industrial (PIM-PF) de janeiro (divulgada na quarta-feira, 13/3) caiu 0,8% em relação a dezembro, na série com ajuste sazonal, e 2,6% ante janeiro de 2018. As quedas foram maiores do que as da mediana das expectativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast: recuos de 0,27%, contra dezembro; e 1,6%, contra janeiro de 2018.

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"Foi uma queda bem disseminada, que pode vir a colocar mais pressão baixista sobre as projeções de PIB do mercado", comentou Carlos Macedo, economista da gestora Canepa, no Rio. A instituição projeta crescimento do PIB de apenas 1,7% em 2019.

Ele ressalva, porém, que a PIM-PF de janeiro é dado de apenas um mês, e, que, ainda esta semana, serão divulgadas a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) e a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), respectivamente na quinta e na sexta-feira. Assim, os analistas devem aguardar antes de fazer novas revisões de projeções, mas, sem dúvida, a PIM-PF de janeiro não ajuda.

Macedo nota que o dado de bens de capital chama a atenção por ser particularmente ruim. O setor caiu 7,7% em relação a janeiro de 2018, depois de haver recuado 4,1% no mês anterior na mesma base de comparação (entre dezembro de 2018 e 2017).

Na comparação dessazonalizada com o mês anterior, os bens de capital amargaram em janeiro uma queda de 3%, a terceira consecutiva (após -3,5% e -4,1%, respectivamente, em dezembro e novembro).

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O diagnóstico de Macedo é de investimentos travados ainda pela incerteza em relação à aprovação da reforma da Previdência, e uma economia em geral carente de "drivers" de crescimento: a política fiscal tem que ser contracionista por motivos óbvios e a demanda externa é prejudicada pela crise da Argentina, nossa grande compradora (especialmente de veículos), e a desaceleração do comércio global.

Assim, resta ao consumo das famílias carregar a demanda nas costas, mas os altos spreads bancários, que não acompanharam para baixo a queda da Selic, atestam que a elevada incerteza (capturada pelo IIE-Br, da FGV) também freia a economia nesse front.

Embora Macedo não veja como a política monetária possa resolver esse nó, ele prevê mais pressões para que o BC reduza a Selic.

Luana Miranda, economista do Ibre/FGV, também considerou a produção industrial de janeiro bastante preocupante em termos do ritmo da recuperação, particularmente pelo seu caráter generalizado.

Ela observa que o fator crise argentina continuou a pesar em janeiro. O setor de "veículos automotores, reboques e carrocerias" recuou 3,8% em janeiro em relação ao mesmo mês de 2018, tendo um peso de 10% na indústria de transformação.

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Nos dados da Anfavea, a produção de veículos se retraiu 10% em janeiro, ante o mesmo mês de 2018, com queda de 46% das exportações (em unidades).

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Luana acrescenta que, apesar do papel preponderante dos veículos, outros setores industriais do Brasil têm exportações relevantes para a Argentina, como máquinas e equipamentos, produtos químicos e metalurgia.

Como Macedo, a economista reitera que a PIM-PF de janeiro é o primeiro dado oficial importante de 2019, com impacto no PIB, e que a notícia não foi boa. Mas ela também frisa que é melhor esperar a PMC, a PMS e possivelmente os dados de mais um mês antes de correr para revisões baixistas.

Luana, por outro lado, aponta uma tênue luz no fim do túnel. Indicadores antecedentes de fevereiro, como a produção de veículos da Anfavea (+20,5% ante o mesmo mês de 2018), dão esperança de que o segundo mês do ano possa ter sido melhor que o primeiro.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast

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Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 13/3/19, quarta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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