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Economia e políticas públicas

Opinião|Inflação cada vez melhor. Já a atividade...

IPCA-15 de agosto confirme cenário extremamente benigno para a inflação, indicando que o BC tem caminho aberto para continuar cortando a Selic (mesmo porque a contrapartida da inflação baixa é uma economia que ainda se arrasta)

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Foto do author Fernando Dantas
Atualização:

O front da inflação continua só dando boas notícias. O que, por outro lado, não é boa notícia para o front da atividade.

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O IPCA-15 de agosto, de 0,08%, no piso das expectativas da pesquisa do Projeções Broadcast, não destoou das divulgações recentes, revelando um cenário inflacionário muito benigno.

Mauricio Oreng, economista-chefe no Brasil do Rabobank, nota que os núcleos inflacionários indicam que a "inflação está baixa e ainda em tendência de queda".

Assim, tomando-se a medida trimestral dessazonalizada, e anualizando-a, o núcleo da inflação subjacente dos serviços recuou de 3% em julho para 2,1% em agosto. Já a média de todos os núcleos, naquela mesma medida, e no mesmo período, caiu de 2,6% para 2,1%.

Oreng observa que a inflação subjacente dos serviços nos últimos 12 meses está em 3,6%, e a média de todos os núcleos em 3%.

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Em outras palavras, a medida "na margem", a leitura trimestral dessazonalizada (em forma anualizada, para permitir a comparação), de 2,1%, nos dois indicadores mencionados acima, é bem inferior ao acumulado em 12 meses. E isso sugere tendência de queda.

Segundo o economista, "o BC já está com foco em 2020 e deve estar prestando atenção ao que pode influenciar a perspectiva de médio prazo".

Oreng diz que as projeções de IPCA do Rabobank, de 3,8% em 2019 e 4% em 2020, têm risco "para baixo". Em particular, a previsão para este ano incorpora um cenário em que o impacto da gripe suína na China atinge a cadeia de proteínas no Brasil entre o terceiro e o quarto trimestres deste ano, mas não se pode descartar que este efeito fique para 2020.

Da mesma forma, o economista, que projeta que a Selic caia até 5% (dos 6% atuais) neste ciclo de afrouxamento monetário, vê um risco maior (para a sua previsão) de que a taxa básica seja reduzida até 4,5% do que só até 5,5%.

Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista-chefe da Ativa Investimentos, também vê o IPCA-15 de agosto como a confirmação de um cenário de inflação muito benigno.

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"A composição veio muito boa, especialmente em relação aos serviços", ele diz, observando que, em particular, a inflação dos serviços ligados à renda, como os de trabalho e reparos domésticos e serviços pessoais, como cabelereiro etc., veio muito baixa.

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Já nos serviços vinculados a indexadores, como aluguel, houve alguma pressão, na análise de Thadeu, mas nada que preocupe em relação à tendência geral favorável da inflação.

O analista vem chamando a atenção para um aspecto sintomático da inflação recente: uma composição regional que deixa claro que os Estados abalados por crises fiscais estão com a demanda mais debilitada, e isto se reflete em tendência desinflacionárias.

O Rio, em particular, se destaca. Os aluguéis residenciais, por exemplo, subiram, no IPCA-15 de agosto, 0,51%, com 0,08% no Rio e 0,71% em São Paulo (em ambos os casos se trata das regiões metropolitanas).

O contraste é ainda maior em termos refeições fora de casa. O número nacional foi de 0,77%, o de São Paulo de alta de 1,92%, e o do Rio de deflação de 0,48%.

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Em relação ao risco de alta das proteínas em função da gripe suína, Thadeu acho que é algo que deve ficar para 2020.

O analista tem previsão de IPCA em agosto de 0,18%, e de 3,39% no ano.

"Numa combinação otimista de preço de gasolina, bandeira verde no final do ano e sem choque de proteína, acho possível que caia até para 3,2%", ele acrescenta.

Sua previsão é de mais dois cortes de 0,5 ponto porcentual da Selic, levando a taxa básica para 5%.

É claro que a contrapartida para o cenário muito favorável para a inflação desenhado por Oreng e Thadeu, e ligado especificamente à inflação mais influenciada pela demanda, como no caso dos serviços, é que a economia prossegue se arrastando, com enorme capacidade ociosa. O que é um problemão.

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Fernando Dantas é colunista do Broadcast

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 22/8/19, quint-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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