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Economia e políticas públicas

Opinião|Lula 2003 versus Lula 2023

Política econômica de Lula caso o ex-presidente vença em 2022 é imprevisível, mas primeiros sinais não sugerem volta aos tempos de Palocci no primeiro mandato.

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Foto do author Fernando Dantas
Atualização:

À medida que as eleições de 2022 forem se aproximando, é inevitável que os planos econômicos dos favoritos se reflitam antecipadamente nas decisões de investimento produtivo e nos preços do mercado financeiro.

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Na falta de um projeto claro, empresários, investidores e operadores vão buscar nas entrelinhas de declarações e no perfil dos economistas conselheiros dos candidatos a biruta para indicar para que lado vão soprar os ventos da política econômica a partir de 2023.

As pesquisas indicam que Lula é, na fotografia de hoje, o favorito para ser eleito presidente em 2022. E o candidato petista é talvez o mais difícil de discernir em termos de uma futura política econômica.

Ao longo de oito anos da mandato, a política econômica de Lula transmutou-se de um razoável ortodoxia para a franca heterodoxia, que seria radicalizada com Dilma Rousseff.

O ex-presidente teve como policymakers importantes no seu governo tanto o heterodoxo Guido Mantega como o ortodoxo Henrique Meirelles.

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Existe, portanto, um cardápio variado e extenso de orientações de política econômica que já foram apoiadas e implementadas por Lula. É difícil saber qual prato ele vai escolher para um novo mandato. Mesmo porque o petista é conhecido por proferir discursos que alguns de seus próprios apoiadores classificam como "coisa de campanha, não é para levar a sério", quando tentam aplacar os temores dos mais preocupados.

Porém, como nem a política nem o mercado funcionam no vácuo, alguma expectativa mediana vai se formar sobre como seria a economia num governo de Lula, e essa projeção se tornará tão mais importante quanto mais se mantiver (ou aumentar) o favoritismo do ex-presidente.

Os primeiro sinais apontam numa direção mais heterodoxa do que ortodoxa.

Segundo

recente artigo do analista político Thomas Traumann na Veja, que foi">?s=20">resumido no Twitter, Lula tem ouvido sobre economia o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa, o economista da Unicamp Guilherme Melo, Aloisio Mercadante e Fernando Haddad.

É sem dúvida um time heterodoxo, embora Barbosa - com bastante incompreensão do mercado - tenha tentado tocar uma política razoavelmente fiscalista quando assumiu o comando da economia nos estertores turbulentos do governo de Dilma Rousseff.

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E Haddad tem boa interlocução com alguns economistas ortodoxos influentes, como Marcos Lisboa, presidente do Insper, e Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre-FGV.

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É um time, entretanto, muito longe de sugerir que o eventual Lula 2023 seria muito similar ao Lula 2003, com Antônio Palocci, Henrique Meirelles Joaquim Levy, Lisboa e Murillo Portugal (entrou na equipe em 2005) dando a tônica da política econômica.

A informação de Traumann de que a coordenação de campanha será da presidente do PT, Gleisi Hoffmann - se confirmada -, também é um jato de água fria para os que alimentam a ideia de que um eventual governo Lula será centrista e relativamente liberal na economia.

Hoffmann é uma das vozes mais estridentes do populismo de esquerda entre os atores mais relevantes do petismo.

Fora da seara econômica, episódios como a recente comparação de Lula das longas estadias no poder do ditador Daniel Ortega na Nicarágua e da democrata Angela Merkel na Alemanha também são um sinal de que a moderação não está em alta na estratégia do ex-presidente.

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Por enquanto são apenas sinais, e o próprio Lula já se identificou em 2007 como uma "metamorfose ambulante". Porém, na falta de apresentação de planos econômicos concretos, consistentes e realizáveis - algo que no Brasil não se deve esperar nem de Lula nem da maioria dos candidatos -, as únicas velas na escuridão são os sinais.

E até agora os sinais em relação a um possível governo Lula a partir de 2023 não foram animadores para quem considera a política econômica pós 2015 melhor do que aquela que vigorou até 2014, especialmente no segundo mandato de Dilma.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em

Opinião por Fernando Dantas
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