O mercado já está dando como muito alta a probabilidade de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, saia do governo, depois de ter sido derrotado em sua tentativa de manter a meta de superávit primário do setor público consolidado para 2016 em 0,7% do PIB.
Hoje (16/12/15, quarta-feira), os ativos brasileiros já se ressentiram dessa percepção, com o real se desvalorizando apesar da aprovação pelo Senado da repatriação. A evolução do mercado daqui para a frente depende, em primeiro e óbvio lugar, da confirmação da saída de Levy, e, em seguida, da nomeação de um novo ministro da Fazenda e das sinalizações do governo sobre mudanças, ou não, da política econômica em curso.
Chama a atenção de que nesta última onda - que o mercado acha que deve ser a definitiva - de especulações sobre a saída de Levy ainda não surgiu o nome de Henrique Meirelles, apontado como o mais provável substituto na onda anterior. Isto poderia refletir o fato, na visão de alguns, de que o 'timing' de Meirelles teria passado, e que o xadrez econômico-político do momento já levaria a decisão da presidente Dilma Rousseff para outro terreno bem diferente.
A alternativa Meirelles significaria "trocar seis por meia dúzia", já que as convicções ideológicas e as visões econômicas dele e de Levy são praticamente as mesmas. A vantagem potencial da entrada do ex-presidente do Banco Central, portanto, consistiria inteiramente em dois fatores: o primeiro é a troca de um jogador extenuado e que perdeu o fôlego para continuar jogando por um atleta com sangue novo, que até agora se limitou a assistir à partida do banco de reservas. Meirelles teria mais energia para tocar a mesma agenda de Levy. A segunda vantagem é que o ex-presidente do BC é tido como alguém de perfil mais político (tendo inclusive se elegido deputado federal e sonhado com uma vaga de vice na chapa presidencial), teoricamente mais capaz de negociar com o Congresso as duras medidas do ajuste fiscal.
O deslanche do processo de impeachment, porém, pode ter mudado completamente o quadro e tornado obsoleta a lógica do parágrafo anterior. As forças de centro e direita e o empresariado representado pela Fiesp tomaram partido contra a continuação do mandato da presidente Dilma Rousseff, e nos próximos meses, quando devem se desenrolar os embates decisivos da guerra do impeachment, ela terá que contar com o PT, os partidos mais à esquerda e os movimentos sindicais e sociais que historicamente formam o núcleo duro de apoio ao petismo.
Nesse sentido, a presidente se veria motivada a apontar alguém que sinalizasse ao seu eleitorado mais fiel que o desvio de caminho ortodoxo foi interrompido ou no mínimo atenuado. Um cenário possível seria aquele em que se perseveraria no inevitável ajuste da economia, mas com mais flexibilidade, suavizando a trilha de reconstrução de uma política de superávits primários compatível com a estabilidade da dívida pública.
Um nome que surge imediatamente quando se pensa nesse perfil é o do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Mas um experiente gestor considera que substituir Levy por Barbosa neste momento seria um "tiro no pé".
"Se for para a Fazenda, Barbosa vai tentar passar a impressão de que é razoável, mas ninguém no mercado acredita mais nele, porque ele passou a representar a antítese do Levy, e, portanto, a antítese da agenda que o setor privado e o setor financeiro acham certa - é uma questão difícil de reputação, e eu acho que seria muito ruim se Barbosa fosse nomeado", ele diz.
Uma outra alternativa que surgiu nas especulações do mercado seria de um ministro da Fazenda de perfil político - alguém com carreira tanto política quanto empresarial, que pudesse negociar melhor com o Congresso, e, quem sabe, atraísse de volta parte do setor privado para o bloco de apoio à continuidade do mandato da presidente. Alguns nomes com esse perfil já circulam nos rumores.
De qualquer forma, como diz um participante do mercado financeiro, a saída de Levy agora é mais preocupante do que seria sua saída alguns meses atrás, quando a ideia era de uma substituição por Meirelles (o que, é bom ressalvar, mesmo não tendo surgido até agora, tampouco está morto como ideia - a crônica dos fatos recentes tem sido plena de surpresas).
"O temor é que a saída de Levy agora empurre o governo mais na direção da Nova Matriz Econômica do que da Ponte para o Futuro", ele diz, fazendo referência, na segunda expressão, ao recente programa do PMDB de forte teor ortodoxo e liberal. (fernando.dantas@estadao.coM)
Fernando Dantas é jornalista da Broadcast
Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 16/12/15, quarta-feira.