Fernando Dantas
20 de janeiro de 2017 | 16h39
Na atualização das previsões do Panorama Econômico Mundial do FMI, chama atenção a redução para 0,2% da projeção de crescimento do Brasil em 2017. O Fundo vai para uma posição mais pessimista que a mediana dos analistas brasileiros do Focus, que estão com 0,5%, mas é possível que a projeção do FMI tenha sido fechada antes de o Banco Central sinalizar a atual disposição mais agressiva para baixar a Selic.
O Brasil, na verdade, está no grupo das grandes economias emergentes que tiveram suas projeções de crescimento reduzidas pelo FMI (em relação a outubro), e que inclui a Índia e o México. Na revisão do Fundo, as economias avançadas crescem 0,1 ponto porcentual a mais em relação à projeção de outubro, indo para 2,1%; e as emergentes se expandem 0,1 pp a menos, caindo para 4,1%. Na economia mundial como um todo, as previsões de outubro são mantidas, o que desenha um cenário favorável de gradual aceleração: depois de 3,1% em 2016, o mundo cresce 3,4% em 2017 e 3,6% em 2018.
O texto que acompanha a revisão das projeções do Fundo não deixa de abordar os riscos para a economia global ligados à vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e à onda de populismo nacionalista que varre o mundo rico, e que também se expressou na vitória do Brexit no referendo do Reino Unido no ano passado.
Assim, o Fundo vê um “desgaste do consenso sobre os benefícios da integração econômica com o exterior”. Em termos práticos, “grandes viradas de política econômica” – uma provável referência a uma ofensiva protecionista norte-americana visando parceiros como a China e o México – poderiam intensificar desequilíbrios globais e levar a drásticos movimentos cambiais, insuflando novas medidas protecionistas, numa espécie de círculo vicioso.
O FMI considera que o aumento de restrições ao comércio internacional e à imigração poderia afetar diretamente a produtividade e a renda, e piorar o sentimento do mercado (que, diga-se de passagem, por enquanto surfou na ideia de que o “Trump bom” da desregulamentação e do impulso fiscal vai prevalecer sobre o tipo de risco descrito pelo FMI).
Em relação aos países dependentes de commodities, as recomendações do Fundo podem até ser vistas como um alento para o Brasil, pois se referem à adoção de políticas de ajuste que, em boa parte, já estão em curso por aqui, como permitir a depreciação cambial e apertar a política monetária para segurar a inflação. No caso brasileiro, já se chegou à etapa posterior, em que a inflação está convergindo de volta à meta, os juros começam a ser reduzidos velozmente e o câmbio já se apreciou bem ante o pico de desvalorização recente.
Mesmo a estratégia de ajuste fiscal brasileira parece estar em consonância com os conselhos do Fundo, que fala em “garantir que a necessária consolidação fiscal seja o mais amigável ao crescimento possível”. Como se sabe, a atual estratégia da equipe econômica brasileira, com a emenda do teto dos gastos (já aprovada) e a tentativa de passar a reforma da Previdência, joga os efeitos contracionistas o máximo que pode para frente, e é bastante complacente em relação aos enormes déficits presentes.
Assim, apesar da redução da projeção de crescimento brasileiro em 2017, a leitura do documento de atualização de projeções do FMI, em termos do cenário global e das recomendações para emergentes, não parece particularmente desfavorável ao Brasil. (fernando.dantas@estadao.com)
Fernando Dantas é jornalista do Broadcast
Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 16/1/17, segunda-feira.
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